A Viagem Assombrosa

A viagem assombrosa

 

Por Rogério Rodrigues*

Até hoje eu não entendo; aquela viagem tinha tudo para ser a melhor, mas, não foi! Afinal, era esse o plano!

Um ano e meio após o nascimento de meu irmão Victinho, ouvi mamãe dizer sobre a pequena mudança do meu comportamento ao nascimento dele. Também, não era para menos! Antes do seu nascimento, eu tinha toda a atenção da casa. Foi só ele chegar, que tudo o que era meu, tive que dividir a dois.

Não, que eu não gostasse dele, mas ele significava e muito “a famosa época da vaca magra” em minha vida. Diante de todo esse problema, tinha uma coisa que eu adorava e muito – Era a casa da Vó Neth!

Vó Neth! Eu adorava a casa dela! Como eu estava de férias “do jardim de infância”, mamãe e papai resolveram surpreender-me, passando as férias juntos de mim.

Era um sítio muito gostoso. Não tinha tudo, mas só o puro contato com a natureza e os animais existentes por lá; já eram o suficiente.

Na primeira semana, foi tudo maravilha. Junto de papai andei a cavalo. Enquanto, junto de mamãe comi muitas frutas do pomar. Fora sem o consentimento de ambas à parte, onde junto dos meus primos que também passaram as férias conosco, nadei à vontade.

De repente, já na segunda semana…

Era noite, todos já estávamos deitados.

A casa de “Vó Neth” era muito grande, mas a família maior ainda.

Mamãe, papai, Victor e eu dormíamos na mesma cama. Nessa noite, já entregávamos ao sono, quando, de repente; “o som” de uma ave de um vozeirão horrível começou a soar pelo sítio. Nossa! Eu não sabia muito bem o que era aquilo. Era horrível! Cada berro era um gemido. Numa dessas ações, eu juro ter escutado mamãe, em voz baixinha, conversando com papai:

— É hoje que Edu não dorme.

Até hoje eu não sei o que ela quis dizer com aquilo. Só sei que ao reconhecer a sua voz, repudiei:

— Mãe, tô com medo!

Ela bem que tentou disfarçar que não estava acordada, mas como eu já estava convicto de que era a sua voz, saltei de onde estava para mais próximo de si, enquanto a “ave berrona” continuou aos berros junto aos gemidos do meu irmão.

Duplas, que ganharam a ignorância de mamãe:

— Edu, pare já com isso! Deste jeito você vai acordar Victinho.

— Mas eu tô com medo!

Mamãe não se importava com minhas palavras. Papai sim, ele sim demonstrava disposto a socorrer-me “da ave berrona”:

— Vem cá com papai! – socorria ele, aconchegando-me aos braços. — É só ficar quietinho, que o bicho vai embora.

Como um cordeirinho, sem ao menos avistá-lo por onde estava papai, somente no intuito da última vez que o avistei deitando-se à cama, ligeiro levantei-me indo pro seu lado. Cena do qual Victinho soltava um gemido.Irada, mamãe aos berros, culpava–me pelo sono perdido. Papai era o único que ainda demonstrava paciente. Agora, com cuidado duplo, acoitou-me de vez aos braços, botando-me para dormir. Enquanto, mamãe acudia Victinho.

A luz foi acessa. Pela bravura de mamãe, papai não me deixou levantar.Nossa! Parecia que a “ave berrona” havia incorporado mamãe. Ainda mais quando a luz foi acessa e a ave parou de berrar, permanecendo apenas mamãe irada comigo.Mas, graças a Deus, Victinho voltou a dormir! E por ali, tudo voltou em paz. A escuridão reinando o quarto novamente; perdendo o reinado somente para a luz do sol que vinha pela manhã. Deixando ali, tudo como antes. Somente vovó não se aparentava ter voltado ao normal. Pois, com os gritos da “ave berrona”, ainda demonstrara assustada. E num dos seus sussurros com a mamãe, escutei-a dizendo que aquela ave, era a mesma, da qual havia passado a poucos dias, antes de vovô partir deste mundo.

Não, sei não. Mas pelo que pude entender aquela ave, era do tipo de uma condução de transporte para a tal “morte”. Pois, sempre que ela passava, podíamos ter certeza de que a morte estaria junta e algum conhecido, por alguns dias ou horas, raptava-lhes.

O tempo passou. Aquilo assustou-me. Mas, com medo de mamãe bater-me por ter escutado as conversas dos mais velhos; aquele medo, eu engoli e sozinho.

Hoje, aos trinta e poucos anos, até hoje, ela não sabe que eu havia-lhes escutadas. A única coisa que sei, é que até hoje, eu sinto pena do meu irmão, aos seus primeiros anos, por ter eu escutado suas conversas, pois, diante daquela conversa, e a lógica que ganhei com os berros de Victinho; sempre que a “ave berrona” surgia, podia ser em qualquer lugar, escondido de meus pais, apelava-me ao socorro, beliscando Victinho nas escondidas. Cena, que só fui parar, logo que por descuido, anos após, ter isso virado rotina, no lugar de Victinho, belisquei papai.Naquele bendito dia, papai sentou comigo e muito conversamos. Tipo: aquela ave tinha nome, e se chamava “coruja”. E a coincidência dela, sempre que passava, vindo a falecer no dia seguinte um conhecido, eram coisas da cabeça dos mais antigos e não do poder dos seus berros.

Bem, Vó Neth não está mais entre nós! E nem sei, se foi a coruja que a levou, mas deste mundo há quinze anos ela partiu; deixando em mim uma convicção profunda, de que sempre que uma coruja passa; a morte vem atrás, incapaz ao menos desta história ou da fisionomia de Vó Neth tirarem-nas da minha cabeça.

 

*Rogério Rodrigues, escritor Joseense

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