O primeiro dia do resto de nossas vidas
Revendo um vídeo sobre o festival de Woodstock, realizado em 1969, aflorou em minhas lembranças um provérbio popularizado entre as comunidades hippies dos anos 60: “Hoje é o primeiro dia do resto de minha vida”. Para eles isso significava que cada dia é uma oportunidade de recomeçar ou começar algo novo na vida, independente de fatos ou circunstâncias pretéritas. Há outras interpretações a respeito, quase todas afins a essa mesma ideia. Parece que se estabeleceu um ponto de convergência entre um bom número de intérpretes quanto ao entendimento de que o provérbio é, acima de tudo, um convite para viver com intensidade o momento presente, como única realidade possível.
Há aí uma relação do homem com o tempo.Essa filosofia de vida encontrou ressonância nas obras do escritor e conferencista alemão Eckhart Toller, sobretudo em seu best seller “O Poder do Agora”. Segundo ele, o alinhamento ao momento presente, no “eterno aqui e agora” oferece uma nova percepção da realidade da vida, desconhecida pela grande maioria das pessoas. E essa percepção produz uma transformação de consciência.
Não se pense, entretanto, que essa ideia é tão nova assim. Mestre Eckhart, místico cristão do século XIII, a ela fazia
referência em seus escritos. Num deles afirmava que ao praticar a meditação, em momento de quietude interior, podemos
perceber a existência do momento presente, um “agora” sempre infinitamente novo, onde, onde não há ontem nem
amanhã.
Para Toller é possível viver num estado de consciência onde os fatos e os comportamentos humanos são percebidos sob outra
perspectiva, acima de rótulos e juízos de valor, em sua essência mais profunda. Significa a possibilidade de uma transformação nas relações interpessoais.
Bem, para entender e aceitar essas ideias, necessário se faz rever o conceito de tempo que sempre nos coloca diante do
passado e do futuro como realidade inevitáveis. A ideia de que vivemos no tempo nos aprisiona e impede de percebermos a
eternidade contida em cada momento, porque esse instante vivido é único no cosmos e jamais se repetirá.
Por Gilberto Silos
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