Á margem da escolha!

 

Á margem da escolha!

Por Raul Tartarotti

Quando jovens estudantes da escola de cinema, questionaram o falecido ator Alan Rickman, a respeito de qual a melhor receita para se tornar um excelente profissional nas telas, ele respondeu:
– “Vá ao teatro, frequente exposições de arte, interprete tudo que lhe aparecer, e quando surgir um papel interessante, tudo que aprendeu até então, vai brotar naturalmente, e sua experiência acumulada terá eco como sempre esperou”.

Bem verdade que necessitamos de um desprendimento razoável para interpretarmos diversos papéis em nossa vida cotidiana, que nos cobra atuações, com textura e sabores variados.

A atenção dispensada em todos os momentos, valorizada mesmo que nos ínfimos detalhes, passados quase despercebidos, é que formará nossa personalidade e o conjunto de virtudes a espreita do próximo momento, para se apresentarem da melhor forma.

Do contrário a esse rumo, um confortável gesto dos indivíduos menos virtuosos, ou os que preferem encurtar o tempo, seria utilizar o anel de Giges, para lhe proporcionar a invisibilidade enquanto o mantiver em seu dedo, ao girar para um determinado lado, e assim sumir do mapa até girar o anel para o outro lado.

Esse foi um artefato mítico, mencionado por Platão como metáfora para demonstrar a justiça do inteligente, em contrapartida ao injusto, corrompido pelo poder. Giges foi um pastor que chegando ao palácio com o anel, seduziu a rainha, conspirou com ela a morte do rei, matou-o e obteve assim o poder á base de sua pretensa coragem em forma de um acessório mágico.

As virtudes se apresentam em meio ao preparo do indivíduo, construídas no tempo de um esforço concentrado, mesmo que numa atividade nada complexa, como foi da faxineira da mansão da família de Josef Stalin, a única que teve a coragem e o desprendimento em mexer no corpo morto do patrão, 24h após sua morte, ocorrida no escritório fechado. Nenhum de seus imediatos tomou iniciativa de tocar naquele corpo desfalecido de Stalin com medo de uma represália.

Porém, o olhar experiente e o desapego de uma pessoa com uma simplicidade real, demonstrou sua clareza nas coisas mundanas através de seu comportamento diante do inusitado.

Me parece que o salvo-conduto é privilégio de quem o deseja mais perto de sua escolha, ao contrário de quem o planeja para ser exposto em determinado instante.

Ou você se apressa em decidir a melhor saída, ou ficará á margem da escolha do outro.

Sobre Raul Tartarotti 97 Artigos
Natural de Gramado, Raul teve formação básica em Eng. Biomédica. É cronista em diversas publicações no Brasil e exterior, impressa e eletrônica. Estudou literatura Russa, filosofia clássica e contemporânea. Suas crônicas são de cunho filosófico e social, com objetivo de trazer reflexão ao leitor sobre temas importantes de nosso cotidiano.

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