A terapia do livro
É comum alguém nomear determinada pessoa como o “homem” ou “mulher” de sua vida. Talvez um grande amor, uma paixão inesquecível, que para sua felicidade ou desencanto lhe tenha deixado uma marca profunda ou uma transformação radical em sua existência.
Em vez de homem ou mulher, tente responder então qual foi o “livro” de sua vida. Qual foi a obra cuja leitura transformou sua visão de mundo, mudou sua trajetória, e até lhe ajudou na cura de uma enfermidade.
Muita gente provavelmente citará algum livro religioso ou filosófico, como a Bíblia, o Tao Te Ching, ou algo já previamente rotulado de autoajuda. Tudo bem. Mas e livros tratando de outros temas?
Não se pode negar que dentre os inúmeros benefícios da leitura um deles é de que, de alguma forma, pode ser terapêutica. Inclusive até já recebeu, a partir dos anos 40, o nome de Biblioterapia. E, ainda como experiência nova, já chegou ao Brasil.
A Biblioterapia, como disciplina, foi criada na USP em 2015 por Fernando Capovilla, professor do Instituto de Psicologia dessa universidade.
Em linhas gerais essa terapia consiste numa indicação criteriosa de livros ao paciente, com o objetivo de servir-lhe de orientação, iluminação, consolo, fortalecimento, diante das crises da vida. A identificação com personagens, situações e histórias dos livros podem levar a reflexões e produzir reações profundas nos pacientes, com potencial para estimulá-lo a encontrar novos caminhos, formas de relacionamento, autoconhecimento, dentre outros benefícios.
A indicação dos livros de forma alguma é aleatória. Ela deve ser adequada ao quadro clínico do paciente, suas habilidades e interesses.
Segundo Capovilla, essa disciplina foi criada como uma tentativa de lidar com os casos de suicídio que estavam ocorrendo na Universidade de São Paulo.
Problemas como depressão, ansiedade e estresse podem ser tratados com Biblioterapia. Como estratégia terapêutica pode influenciar positivamente vida e a saúde das pessoas. Convenhamos, não é pouco.
Por Gilberto Silos
Imagens: Elizabeth de Souza
Lembro de um conto da Lygia Fagundes Telles que salvou a minha vida, contos são providenciais em horas extremas. O conto ” Tigrela” da Lygia, salvou minha vida. Parabéns Gilberto, belo texto.
Falando de biblioterapia, preciso contar que ao escrever o livro: ” krenak, o menino dos braços compridos “, (acarinhado pela revista entrementes na estante acima),pensava em aliviar os leitores do sofrimento causado pela covid. O texto foi escrito no momento inicial da pandemia.Quase uma cartase. Agradeço a Revista e ao Gilberto por me lembrar disso.
Que ideia sensacional essa “Biblioterapia”. Deveriam ter mais profissionais que aplicassem essa terapia.
Excelente artigo, caro amigo!