Conversa com vírus

Variante ômicron — Foto: Getty Images/Via BBC

Conversa com vírus

Por Raul Tartarotti

Não receio em tentar essa prosa por temer uma represália de meu interlocutor. A coragem sempre foi um adjetivo humano que nos trouxe até aqui, e a curiosidade nos transformou em sábios, mesmo que muitos tenham ficado pelo caminho durante sua busca pelo saber.
“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta, esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”(Guimarães Rosa).
Meu interesse está em entender como você, um vírus com formato de coroa, que se presta apresentar-se como um rei, da morte, segue vivo sem um grande objetivo além da destruição de quem se apodera? Não construiu nada de útil a sua prole. Se reproduz aos milhares em um só corpo, e com apenas um único objetivo, o lamentável desejo de matar seu hospedeiro. E como consequência, também morre por isso. Esse planeta é perigoso, e nós humanos também o somos, porque te carregamos por um tempo. Uma profunda falta de propósito aparece na descrição de outros similares a você que insistem circular nos corpos. Todos, sem exceção não tem objetivos saudáveis nem rumo certo, pois se prendem ao primeiro passante mais próximo. Por que, tamanha necessidade de provocar dor? Por que, exterminar os frágeis seres que você se apodera? Precisa nos dar uma explicação, a humanidade sempre quis respostas pra se guiar e poder entender o sentido de estar aqui. Tantos clamam por ajuda, nunca corremos tão rápido pra te destruir, mas estamos conseguindo, mesmo carregando um lamentável número de milhões de mortos no planeta. Você está com os dias contados, pois não nos deixa nada produtivo que se aproveite. Ficamos mais fortes e espertos pra te massacrar, mas você insiste em ser um incauto cego acelular, somente com fragmentos de RNA, nem uma criatura completa você é. Mas no entanto prefere ser essa pífia anomalia da natureza, pouco desenvolvida, sem objetivos saudáveis, muito menos planos de crescimento pessoal, e tampouco melhor desenvolvimento de seu ser. Em nome de nossa humanidade atrevo palavras de desrespeito e indiferença a sua presença, e indesejável participação dentro de nós. Corona, Covid-19, omicron, serão teus nomes sempre associados aos piores assassinos, fascistas, loucos e doentes mentais que viveram entre nós, e causaram dor e morte. Se isso abalar sua existência ficamos contentes. Por sorte você chegou num tempo que a Internet ajudou manter nossos entes próximos dos olhos. Estamos fartos de você, mas a cada dia nos fortalecemos, principalmente em saber que aqui nesse planeta, não és bem-vindo, e por isso será extinto em breve,
para nunca mais pisar em nosso solo, nem mesmo as carpideiras chorarão sua morte. Nossa humanidade está marcada não só pela dor, lágrimas e perdas, mas também pelo modelo de luta e coragem que empreendeu em busca da subsistência de sua prole. Sempre buscamos crescimento com progresso e união, ao menos os homens de bem. Esses louvaram a presença de suas ideias e pensamentos em prol de seus pares. A limitante de nossas vidas é concreta, real e inevitável. Mas nossa natureza tem o direito de exercer essa finitude humana a sua maneira, esse é o fim natural carregado pelos tempos, e não uma interrupção fria e inesperada provocada por um microscópico amontoado de RNA.

Variante ômicron — Foto: Getty Images/Via BBC
Sobre Raul Tartarotti 97 Artigos
Natural de Gramado, Raul teve formação básica em Eng. Biomédica. É cronista em diversas publicações no Brasil e exterior, impressa e eletrônica. Estudou literatura Russa, filosofia clássica e contemporânea. Suas crônicas são de cunho filosófico e social, com objetivo de trazer reflexão ao leitor sobre temas importantes de nosso cotidiano.

1 Comentário

  1. Realmente bastante corajoso conversa com essa “praga” de vírus que já nos fez chorar demais, nesses últimos dois anos. Mas vamos passar por cima dele, com certeza.
    Abraço!

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*