E afinal como se faz um roteiro?
Dedicado a Paulo Thiago
Minha relação com as baratas sempre foi amistosa. Mas agora há pouco não deu pé. Abri minha gaveta de meias para guardar umas máscaras devidamente acondicionadas em saquinhos e lá estava uma – ai eu gritei: Sai daqui sua “vagabunda”. Muitas vezes elas não são boas companhias, quando volto para o quarto e de vez em quando tem uma passeando. Aquele inseto do Franz Kafka “A Metamorfose” era uma barata mesmo? As baratas vivem para nos atrapalhar. São chatas. Mas sei levar o convívio desde que não caiam em minha boca nas madrugadas. Felizmente tenho pouco convívio com ratos. Um dia, numa casa que morava numa barulhenta avenida, num verão, eu lá no trono todo feliz, num calor de verão e aparece um rato dentro do vaso. Nós dois nos apavoramos, saí desesperado e a casa estava cheia. Coisa que não vemos mais nesta pandemia. A vida tem esses cotidianos, por isso desejo ser cremado quando morrer. Imagina um túmulo com ratos, baratas e tudo o mais a devorar meu corpo? Tô fora, quero uma imensa fogueira. Na índia fazem fogueira. Imaginem uma fogueira para me cremar no alto da Mantiqueira? Quanta falta de oportunidade, quero uma casa no campo. Acho que devo descobrir outro ofício além de ser professor. Não tenho estabilidade financeira nesta profissão. Sempre à mercê das intempéries da vida como esta pandemia. Somos tão criativos e não sabemos ganhar dinheiro? Pelo jeito vou sempre publicar meus textos de forma independente. Mas vamos seguindo, a genialidade é para poucos.
Hoje, dia do meio ambiente, é aniversário do Erasmo Carlos, 80 anos de inspiração. E grandes canções. E ele tem se aventurado no cinema nos últimos anos com ótimos filmes. E Paulo Thiago resolveu morrer logo hoje. Grande cineasta, dirigiu “Jorge, um brasileiro” e outros filmes. Gostei muito deste filme. Está faltando uma netflix do cinema Brasileiro. Cadê os filmes de Renato Aragão e Os Trapalhões? Foram remasterizados? E os de Paulo Thiago? Carlos Reichenbach? A cinemateca precisa ser restaurada. Ela corre o risco de fechar neste desgoverno de extrema e estúpida direita.
A vida no Brasil é bem estranha, somos surrealistas com estas favelas espalhadas Brasil afora. Minha professora de geografia, a Marlene, sempre falava que São Paulo não é o Brasil. Aí nas escolas só não entendia das gramáticas e das matemáticas. Mas as humanas eram uma paixão. Não queria fazer faculdade de história para não ser um clássico esquerdista dos bem chatos. Coisa que fui nos anos 80, 90. Melhorei um pouco quando me desfiliei do PT em 2001. Mas ser de esquerda me é natural. Gosto dos libertários. Elizabeth de Souza tem publicados uns poemas bem libertários. Cabe um livro impresso. Eu tenho dificuldade para selecionar meus escritos. Quero contratar alguém, meu prazer é criar. E afinal como se faz um roteiro? O Marcelino Freire tem um curso on-line. Mas eu não suporto mais nada on-line, fiz inúmeras oficinas de literatura e teatro e até cinema. As instituições de arte e cultura têm este papel da educação não acadêmica. A academia é um porre seu Paulo GHIRALDELLI, mas imensamente necessária. A educação pública é apaixonante. Mas a burocracia e o conservadorismo atrapalham a vida dos professores e gestores. E ninguém se organiza para enfrentar estes males. Estamos ainda presos ao formato sala de aula. Acho a educação infantil bem mais criativa. Mais educação, cultura e cooperativismo é fundamental para sairmos desta lama negacionista. O erro das gestões de Lula e Dilma é não formar uma base de pensamento crítico nas classes C,D,E. E a extrema direita acabou se fortalecendo com um projeto estruturado e com muito capital. E agora está um desafio para segurar a pressão e a corrosão das instituições. A educação, cultura e arte e o cooperativismo podem nos ajudar a sair dessa lama – “Da lama ao caos do caos a lama”, assim era uma canção de Chico Science. E aí, como escrever um romance? Um roteiro? A cultura de São José dos Campos é repleta de grandes personagens, já com inúmeras histórias, emocionantes e picantes, que merecem virar ficção!
A vida está aí, um imenso diário de paixões.
Joka Faria , João Carlos Faria
Outono de 2021 , Junho
Joka é escritor, poeta e professor.
Escreve no Entrementes desde 2009.
Caótica Clã
Literatura, filosofia e arte
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