Elucubrações

Elucubrações

Eu elucubro, tu elucubras, ele elucubra, nós elucubramos, vós elucubrais, eles elucubram. É o presente do indicativo de elucubrar. Verbo transitivo direto, transitivo indireto e intransitivo. De acordo com os melhores dicionários significa meditar, pensar excessiva e exaustivamente sobre algo. Pode significar também matutar, cismar. Há quem use a expressão ruminar. Então somos seres ruminantes. Por que não?
Como se vê os sinônimos são mais fáceis de pronunciar e de grafar. O vocábulo “elucubrar” não tem aquela elegância de outras pétalas da “última flor do Lácio”. Porém, isso não quer dizer que na prática – alguns mais, outros menos – não nos entreguemos a elucubrações.
Outro dia mesmo me surpreendi a elucubrar sobre o medo. Aliás, ultimamente ele deve ser objeto de elucubração de muita gente.
Ao rever algumas passagens desconfortáveis (estou aqui empregando um eufemismo) de minha vida, percebi que os piores momentos foram aqueles em que senti medo, independentemente da gravidade da situação.
Na raiz de meus temores encontrei uma sensação de desamparo, uma imensa vulnerabilidade diante das vicissitudes. Isso me fez repensar minhas convicções e visão de mundo.
Segundo algumas correntes esotéricas e espiritualistas, o medo é uma herança ancestral arquetípica, originária da chamada “Queda do Homem”, narrativa do Gênesis, no Antigo Testamento. Ali, a humanidade representada simbolicamente por Adão e Eva perdeu sua inocência ao saborear o fruto da “Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal”, proibido pela Divindade . Com aquele “passo em falso”, perdeu também sua consciência de Unidade e conexão com o Supremo Criador. Sobreveio-lhe uma sensação de orfandade espiritual, da qual o medo é uma decorrência.
Essa narrativa está sujeita a várias interpretações, E, caso alguém se disponha a aprofundar-se no tema, só posso desejar-lhe uma feliz elucubração.

Por Gilberto Silos