Entre a ficção e a realidade

Entre a ficção e a realidade

Cá estou, meio desalentado, frente à tela do computador. Há um bom tempo tentando escrever uma crônica para o Entrementes e as ideias não surgem. Vazio de inspiração, é assim que me sinto nesta manhã calorenta de novembro.
Nem sequer o titulo me ocorre. Faço uma pausa, respiro fundo e me vem um sentimento de inveja das pessoas inspiradas. Ao mesmo tempo, sinto pena daqueles que se encontram na minha situação. Me compadeço de Guido Anselmi, personagem vivido por Marcello Mastroianni no filme italiano “8 ½” (Oito e Meio), dirigido por Federico Fellini. Lançado em 1963, “8 ½” conta a história de um cineasta que sofre de um bloqueio de criatividade logo no início das filmagens.
As ideias desapareceram da mente de Anselmi que, pressionado de todos os lados, resolve internar-se numa terma ou clínica de repouso, como uma tentativa de eliminar esse bloqueio criativo. Justo naquele momento, ele, diretor de cinema reconhecido por seu talento inovador, vê-se perdido num vácuo de ideias. Mas, ninguém o deixa em paz no local. Membros da equipe de filmagens, sua mulher, as amantes, jornalistas, todos o procuram e acabam por atrapalhar seu retiro à procura de ideias criativas.
Foi um caso típico em que ficção e realidade se confundiam, pois Fellini iniciou as filmagens sem que o roteiro estivesse completo. E, pior, não lhe ocorriam ideias de como terminá-lo. Passou a viver na vida real o papel do personagem que criou.
O título “8 ½” foi escolhido porque Fellini já havia dirigido oito películas e essa ainda estava na metade.
Bem, no final “8 ½”, com trilha sonora de Nino Rota, foi um grande sucesso e ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Uma magnífica aula de metalinguagem.
E aqui encerro este meu desabafo pela frustração de me faltarem ideias. Quanto à crônica, talvez só na próxima semana, se assunto houver. Sei que a Beth me perdoará.

Por Gilberto Silos

Foto: Janus Films/Divulgação