Entrevista com Jocelyne Aymon

Entrevista com Jocelyne 

Maria Dapaz, “a princesinha da Ingazeira”, por Jocelyne Aymon

Maria DAPAZ, “a Princesinha da Ingazeira”, do Vale do Pajeú. Às margens de seu rio (rio Pajeú) na cidade de Afogados da Ingazeira. Nascida em 25 de março, essa pernambucana como Luiz Gonzaga, artista que ela celebrou com sua voz, num CD dedicado a ele (Vida de Viajante). O disco foi indicado ao Grammy Latino em duas categorias.
Nascida nordestina no ano de 1959, essa ariana encantou o mundo todo com sua voz magnífica. Só ela capaz de enaltecer as mais variadas canções brasileiras e estrangeiras, como o fado, belamente interpretado por Dapaz.
Maria Dapaz é intérprete e autora de canções belíssimas, como “Brincar de ser feliz”, “Meu amor, meu amorzinho”. Devo dizer que nessa canção ela nos toma, nos fazendo ser também sua poesia. Dapaz, é também do vento, da chuva, do mar, do céu, das nuvens, dos anjos que cantam agora para ela. Ela nos dá suas asas quando canta. Ouví-la é ir além dessa existência é poder transitar por outras esferas, é poder voar.

Para saber mais dessa intérprete e compositora brasileira, entrevistei sua produtora Jocelyne Aymon. Estivemos juntas no Festival: “Curta Campos do Jordão” de fevereiro último. Nessa ocasião fomos apresentadas pelo mentor do Festival, o cineasta Cervantes Sobrinho.

– Teresa – Como se deu sua amizade com Maria Dapaz?

Jocelyne Aymon – Eu conheci Maria Dapaz em 1978 num bar chamado “Caro amigo” na rua Luiz Coelho em São Paulo, eu recém-chegada da Suíça (setembro 1977) já deslumbrada pela música brasileira e ela recém-chegada de Pernambuco (julho 1978). Isso descobri depois, claro. Ela se apresentava, como muitos jovens cantores da época, na noite de São Paulo em bares, churrascarias, projetos da secretaria de cultura etc. Fiquei muito, mas muito impressionada com voz dela, com seu carisma e aos poucos fui me juntando à turma de amigos e fãs dela. Foi a obra do Destino, hoje eu sei….

– Teresa – Você era sua produtora, como foi realizar esse trabalho?

Jocelyne Aymon – Mais uma obra do destino. Sempre gostei muito de música, palcos, shows enfim. Prestando atenção em tudo isso, tinha curiosidade… Em 1985 (exatos 40 anos atrás) já morando na Suíça vim passar umas semanas em São Paulo para matar a saudade dos amigos. Me encontrei com Dapaz e a convidei para passar uns 2 meses na Suíça, eu iria organizar uma turnê e produzir os shows… Começou assim. Dapaz chamou muita atenção com a sua voz, o seu carisma e a sua presença no palco. Logo chegaram os convites e decidimos seguir em frente. Aprendi na raça a produzir. Fizemos muitos shows na Suíça, Alemanha e na França durante esse período. Logo vieram as gravações de discos e tudo que uma carreira artística demanda. A produção é um trabalho muito intenso, com muitas responsabilidades, mas o resultado é tão bom, ver o artista no palco é tudo. É uma grande realização na minha vida, dedicada inteiramente à música com tudo que isso representa.

– Teresa – Tenho que salientar o primoroso arranjo responsável pela qualidade de suas apresentações. Fale um pouco disso. Quem eram os músicos que abrilhantaram a cantora ao acompanhá-la?

Jocelyne Aymon – Isso vem ao longo do tempo, a gente vai viajando, encontrando músicos incríveis que esse Brasil tem, lapidando os arranjos, trocando ideias. Sempre com músicos excelentes que se “encaixam” e entendem a dinâmica da música. Alguns de São Paulo, outros de Recife. Dapaz passava o que ela sentia e queria para o seu repertório, ensaiava até ficar bom, bonito. Todos felizes. Nasce uma amizade leal também. Vira uma família musical… Prazer de estar juntos, de viajar juntos, curtir o palco e isso repercute no resultado, tanto em shows ao vivo como nas gravações. Eu citaria o Bira Marques, pianista e arranjador baiano, hoje morando em Salvador. Fez arranjos de vários discos, participou de muitos shows no Sul e no Nordeste e tinha uma sintonia musical impressionante com a Dapaz. Os dois fãs de Luiz Gonzaga, instrumentistas e muito, mas muito dedicados à música. Deu super certo.

– Teresa – Como aconteceu o documentário “Princezinha da Ingazeira”? Em que contexto? Preciso dizer que foi a partir desse trabalho, que eu conheci essa artista e digo isso com pesar. Queria muito ter ido aos seus shows, queria muito ter entrevistado Maria Dapaz em vida. Achei o documentário brilhante, uma justa homenagem a essa representante da nossa música, no que ela tem de melhor. Sua presença se faz imortal em sua obra e voz. Onde podemos encontrar mais informações sobre Maria Dapaz? Como obter seus discos?

Jocelyne Aymon – Foram mais de três décadas dedicadas à música de Maria Dapaz. Quando ela faleceu em 2018, tudo parou. E eu senti a necessidade de “escrever” o último capítulo dessa trajetória musical. Queria que essa trajetória fosse contada por ela mesma. Ninguém mais. Procurei o Cervantes Sobrinho, amigo de longa data e produtor também. Ele sabe tudo de cinema. Ele conversou com Sérgio Sachs, que sabe tudo sobre como fazer filme, finalizar, cuidar do som…. Tudo. E começamos. Eu em Embu das Artes, selecionando as imagens, as entrevistas, os vídeos…. Indo para a casa do Cervantes em Campos do Jordão para ele fazer o roteiro e a pré-edição… E quando tudo estava quase pronto, íamos para a casa do Sérgio que cuidava do som, da edição final… Foi muito intenso, muito. Semanas de trabalho cujo resultado é incrível. Tudo na base da Amizade (com A maiúsculo)
Tudo sobre a carreira de Maria Dapaz, discografia, trajetória, fotos, podcast, vídeos se encontram no site www.mariadapaz.com.br

– Teresa – O documentário apresenta Maria Dapaz em seu último Show, poderia falar um pouco sobre ele?

Jocelyne Aymon – Foi em Recife, no Festival Nacional da Seresta em 2018. Dapaz foi convidada para apresentar o seu show acústico violão e voz. Ela escolheu um repertório que fizesse o público participar como: A Noite do Meu Bem (Dolores Duran), A Saudade Mata a Gente (João de Barro/Antonio Almeida), Foi Deus (Alberto Janes), Mouraria (Amadeu do Vale/Frederico Valério), Se Acaso Você Chegasse e Felicidade (Lupicínio Rodrigues), Atira A Primeira Pedra (Ataulfo Alves/Mário Lago) … Músicas que fazem parte dos seus discos. Foi uma noite bem especial. Inesquecível. Como você mencionou, seu último show. Disso, a gente não sabia.

– Teresa – Maria Dapaz era poeta? Você poderia nos presentear com um poema dela? Assim fechamos a entrevista com a sensibilidade de Maria Dapaz.

Jocelyne Aymon – Sim, era. As letras das músicas dela já mostram isso, essa veia poética vem da região onde ela cresceu. O Vale do Pajeú, no sertão pernambucano. Mas ela escrevia poemas também. Escolhi esse.

CAMINHADA (Maria Dapaz)

Vou levando a vida na poeira
Peito aberto, sol e terra
Areia
Vou içar as velas da coragem
Ancorar na outra margem
Na areia
Eu sou o vento, a cachoeira, a passarada
Numa eterna caminhada pelo mundo
Eu vou sem rumo, vou sem medo
Espalhando meus segredos
Sob a luz da alvorada.

https://www.youtube.com/@MariaDapaz

 

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3 Comentários

    • Eu agradeço você, Cervantes Sobrinho, cineasta do documentário “Dapaz, princesinha da Ingazeira” ele fez com que eu conhecesse essa intérprete fantástica, para sempre viva no nosso riquíssimo acervo musical.

  1. Que massa…que lindeza conhecer os aristas deste Brasil que a grande mídia não mostra pra gente. Texto suave…delícia de ler.

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