O Paraíso perdido

The Garden of Eden – Brueghel, Jan (the Elder) | Museo Nacional Thyssen-Bornemisza

O Paraíso Perdido

Na essência do meu ser
Percebo vagas lembranças
De um Paraíso Perdido,
Tempo em que, luminoso,
Vivia na inocência original.

Harmonizado com o Divino,
Não conhecia a dualidade,
Nem a ilusão da separatividade.
Tentado, do fruto proibido comi;
Mortal, mil vezes ao pó retornei,
Num ciclo que parece interminável,
Mas ainda permanece em mim
A esperança de voltar ao Jardim.

Mitos do Paraíso Perdido encontram-se presentes em muitas religiões e antigas civilizações. Em suas narrativas consta a existência de um período de harmonia seguido de uma ruptura.

Os celtas acreditavam num paraíso que era uma imagem refletida da Terra, onde doenças, fome e guerra não existiam.

Na civilização grega , a região paradisíaca são os Campos Elíseos ou a Ilha dos Abençoados, lugares que, segundo Homero, representavam a suprema perfeição. Na Odisseia, no Jardim do Paraíso, Calipso oferece a imortalidade a Ulisses, mas ele prefere continuar mortal e regressar aos braços de sua amada Penélope.

Na Cosmogonia judaico-cristã, o livro do Gênesis fala de um tempo em que os seres humanos viviam em perfeita harmonia com a Natureza e com a Divindade.

Adão não foi expulso do Paraíso por mera desobediência à ordem de Jeová de que não comesse do fruto da Árvore da Sabedoria. A punição foi uma medida preventiva, pois já tendo acesso, por meio da serpente, ao conhecimento do Bem e do Mal, não deveria comer do fruto da Árvore da Vida, o que lhe daria a imortalidade.

Aquela época foi chamada de Idade de Ouro por Platão. Os seres de então não eram governados por outros homens, mas por hierarquias divinas, “espíritos” ou “forças” que representavam os espíritos eternos da Natureza. A Terra era concebida como uma Divindade Universal, tendo um Espírito que faz dela um ente vivo, um ser feminino em permanente relação com o Sol, cuja energia a vivifica e fecunda.

O tema Paraíso Perdido tem sido pesquisado e estudado ao longo do tempo por especialistas em mitologia como Joseph Campbell e Mircea Eliade, por teólogos, místicos e psicólogos.

O místico-ocultista Max Heindel , em sua obra O CONCEITO ROSACRUZ DO COSMOS aborda a questão com profundidade quando discorre sobre a Queda do Homem.

O psicólogo Pierre Weil, em seu livro A NEUROSE DO PARAÍSO PERDIDO, fala dessa neurose como uma realidade psicológica que ocupa o imaginário da raça humana, uma espécie de obsessão pela ideia de um paraíso, um lugar onde já vivemos, fomos excluídos, mas para onde queremos retornar. Diz Weil “que talvez seja um sonho oculto, interiorizado desde a mais tenra idade em nosso ser, e que nos faz sentir culpados pela sua perda”.

Qual a origem dessa obsessão pelo paraíso perdido? Pierre Weil responde que “talvez ela esteja no inconsciente coletivo da raça humana, representando o ideal de uma sociedade perfeita”. E, ainda deixa uma pergunta a ser respondida: “O paraíso terrestre é saudade ou esperança? Ele está no passado ou futuro de todos nós?”.

Por Gilberto Silos

2019

Sobre Gilberto Silos 229 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

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