“Odisseia Cósmica” – Dos aspectos estéticos ao conteúdo presente.

“Odisseia Cósmica” – Dos aspectos estéticos ao conteúdo presente.

Por Rodolfo Salvador

Dando uma pequena pausa na monografia decidir viajar na leitura de um quadrinho, entre muitas escolhas, decidi ler um arco de histórias da DC lançado no finalzinho dos anos 80, a “Odisséia Cósmica”, escrita por Jim Starlin, desenhada por Mike Mignola, com a arte final de Carlos Garzon e cores de Steve Oliff.  Já havia um grande tempo que meu “brother” Marcão havia me recomendado e emprestado esse quadrinho.

Vários são os atributos positivos de tal obra, convêm aqui pela brevidade do texto focar especificamente em três tributos, a forma (estético), o conteúdo, e o estilo narrativo empregado.  No entanto gostaria de fazer uma ressalva primeiramente, gostaria de frisar que na minha concepção, a forma também faz parte do conteúdo, dando-nos informações importantíssimas sobre a obra. E ainda, que a arte, seja ele qual for deve ter em si um compromisso com a verdade, deve transmitir um pouco de “experiência [1]” para seu leitor, da mesma forma como Walter Benjamim escreveu em seu texto acerca da morte do narrador nas sociedades capitalistas[2].

Do ponto de vista da forma, o quadrinho é excepcional, Mignola – criador do personagem “Hellboy” – transmite para o roteiro toda a dinamicidade que ele precisa, e sua conexão com temas metafísicos – como se comprova em seus outros trabalhos – dão a história peso e tensão, tal qual o roteiro requer. Fora os desenhos de Mignola, as cores usadas por Oliff e a arte-final de Garzon preenchem o quadrinho de uma beleza estética rara, a oposição entre cores fortes e cores mais claras, entre as trevas e a luminosidade, confluem juntamente com o traço forte de Mignola para uma harmonia “caótica”.

Ainda colaborando para a questão estética da obra, está a estilo narrativo adotado por Starlin[3],  sobre este assunto me pautarei aqui a fazer apenas uma pequena explanação sobre tal tema, por carecer melhor de conhecimentos, mas em suma a narrativa escolhida pelo autor busca, contar a história através de fragmentos narrados pelos distintos personagens, todas conectados por um roteiro maior, em inúmeros momentos acompanhamos a história sobre a perspectiva do Batman, outro momento sobre a perspectiva de Darkseid, etc. Tal escolha, somada a arte do quadrinho, contribuem para que haja uma satisfação estética com a história.

Por fim, a questão do conteúdo, como dito no inicio do texto, considero importante em um quadrinho, além do entretenimento, o conteúdo. Na sociedade em que vivemos, e consequentemente única sociedade possível para a existência dos quadrinhos, já que os mesmos, assim como o cinema, são filhos da cultura industrial capitalista que possibilitou o que chamamos de “reprodubilidade técnica” da obra de arte e também criou a chamada indústria cultural, tal fenômeno matou a narrativa que tinha como objetivo transmitir experiência, hoje a maioria dos produtos buscam entreter ou no máximo informar. Porém, mesmo dentro dessa lógica, por vezes fatores históricos específicos podem direcionar as ferramentas do discurso dominante para questões políticas globais. Neste caso, acredito que a experiência perturbadora gerada pelo confronto ideológico entre americanos e russos durante mais de 40 anos, que gerou guerras em quase todo o mundo,  emergência de ditaduras na América Latina e Europa, essas consequências sócias do capitalismo, culminaram na catarse em quadrinhos de Starlin, que expurga para as suas páginas a história de uma entidade de antivida que ameaça a destruição de todo o universo, a origem dessa criatura está nas ambições de uma espécie humanóide muita parecido com os homens em sua atitudes, que em guerra com uma raça alienígena que os mesmos tentaram subjugar, colocam seus recursos em função da criação de uma arma final, a arma de energia antivida. Com um roteiro baseado nesta prerrogativa, o quadrinho busca explorar a aliança entre o bem e o mal, representados pelos “Novos Deuses[4]” com os heróis, como rodapé dessa história estão os problemas pessoais de cada personagem envolvido, como por exemplo o drama vivido pelo Lanterna Verde.

Dito todas essas coisas, somente posso concluir indicando para leitura essa obra clássica. Todas as dimensões deste quadrinho contribuem para gerar um quadrinho exemplar, rico esteticamente tanto nos desenhos quanto nos recursos narrativos e transmitindo ao leitor um conteúdo reflexivo altamente válido para nossos tempos.


[1] Experiência aqui entendida como apreensões positivas sobre a vida em sua essência mais ampla.

[2] Benjamim. Walter – O narrador – Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov

[3] Quadrinista norte-americano, começou a trabalhar na década de  70, tendo trabalhado para a Marvel e para a DC, chegou inclusive a criar personagens, tal como “Thanos” da Marvel.

[4]  Criados por Jack Kirby quando o mesmo após sair da Marvel foi para a DC.

24052012

Comentários:

“Odisseia Cósmica” – Dos aspectos estéticos ao conteúdo presente.
Gostei do titulo e por isto li o texto. Muito bom quando pensamos a peça livro ou até site temos sim que pensar na estética em que vai a obra no caso do quadrinho texto e desenho. Sei da sofisticação do universo do quadrinho que é literatura das boas. Estamos ai …Joka

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Elizabeth de Souza é coordenadora e editora do Portal Entrementes....

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