OS IPÊS DA VILA MARIA
Por Gilberto Silos
Dias atrás, na quietude de minha casa, eu me sentia mergulhado numa profunda melancolia. Ruminava lá com os meus botões sobre essa campanha eleitoral, a pior que conheci em minha vida. Pobre sob todos os aspectos. Vazia de ideias e propostas. Geradora de uma corrente de ódio e desconstrução como nunca vi. Aonde essa gente quer chegar ? perguntava a mim mesmo.
De repente, algo interrompeu meus sombrios pensamentos. Era um pássaro que trinava numa árvore próxima. Curioso era que outro pássaro respondia. Questão de minutos um bando de pássaros cantarolava animadamente , parecendo um coral organizado para romper o triste silêncio daquela tarde de sábado.
Animei-me, então, a sair e fazer uma caminhada pelas ruas da Vila Maria, bairro onde moro. Andando pela 23 de Maio notei os ipês amarelos floridos, engalanados como se estivessem vestidos para uma festa. É a primavera chegando. Diante de tanta beleza alguns transeuntes paravam para fotografá-los com os seus celulares. Infelizmente, deixara o meu em casa.
Sei que o amarelo não é a cor símbolo da esperança, mas naquele momento foi o sentimento que me inundou a alma. Esperança de que um dia este país seja melhor. Provavelmente não estarei aqui para ver e viver esse sonho realizado. Penso que as gerações novas não podem desistir do Brasil. Devem continuar tentando transformá-lo em uma nação mais justa, próspera e igualitária. É óbvio que são muitos os obstáculos, mas quando o desânimo ameaçar seus ideais, não se esqueçam de que a poesia também é uma sábia conselheira. Inspirem-se, então, nestes versos de Cora Coralina:
“Desistir…eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério; é que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas; mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça”.”
Quanto a mim, já no outono da caminhada, enquanto houver pássaros, ipês floridos e poesia, a esperança seguirá sempre adiante em minha vida.
Maravilhoso como sempre! Seus textos nos fazem transbordar de poesia e esperança