Saber envelhecer

Saber envelhecer
Por Raul Tartarotti
A mesa de bar se transformou numa tela de computador, e por vezes de um celular. Nelas brilham o rosto de novos e antigos amigos, familiares, e todos que seguem sentindo a falta do abraço e de gente; do calor da troca de olhares, pra poderem dizer que me querem em sua vida, e ainda ouvem minha opinião, mas também desejam ensinar seus segredos. Esse encontro me faz gente e preenche minha caixa de experiências contraídas, sempre que sinto essa troca de histórias e vozes muito próximas, sem importar idade, cor, sexo muito menos distância, o que vale é estar lá pra me encontrar, são essas boas memórias que nos preenchem e nos tornamos eternos.
Sempre torço pra que de preferência ocorram bem antes da meia-noite do Relógio do Juízo Final, atualizado desde 1947, pelo prestigioso boletim dos Cientistas Atômicos. Cem segundos nos separam do Apocalipse final da humanidade, porque muitos presidentes, teimosos em construir armamentos pra destruição em massa, insistem em desfilar seu poderio bélico ao invés de investir em cérebros do bem. Por isso  lamentamos um final próximo pra nossa raça reduzida a poucos sobreviventes também por causa de uma insistente peste.
Poderíamos modificar o nome dela a partir de agora, já que num passado próximo foi promulgada lei que determinou a substituição do termo “lepra” por hanseníase, com o intuito de afastar o estigma milenar e dolorido sobre a infecção, mas que se acabou com o isolamento compulsório dos doentes.
Me parece que não somente o vírus e outros bichos deformados e poderosos, podem nos fazer mal. A ONU estimou em 2017 que cerca de 25 milhões de pessoas são vítimas de trabalho escravo em todo mundo e outras 15 milhões vivem presas após serem obrigadas a se casar. Outras formas de crime desfilam armadas e batendo em nossas casas a busca de posses alheias. São pessoas que também querem participar de uma posição social melhor que as suas, e revoltados contra as condições de vida degradantes, usam arma como imposição de respeito, pois a impunidade farta acaba sendo um fator preponderante para alguém cometer um crime.
Essa não é uma vida agradável de se contar, lamentavelmente o homem vírus também causa mal a outros de sua própria raça, e por vezes até se tornarem seus escravos, tendo uma existência azeda mesmo no final de suas vidas. É necessário fazermos muita força pra vencer o mal, com virtudes que não se encontram, mas sim as que merecemos como destino.
A velhice é uma consequência natural, que poderíamos alcançar com qualidade, como resultado de uma existência preenchida de histórias e vivida com liberdade e riqueza de sentimentos, como o filósofo Cícero escreveu no livro “Saber envelhecer”; – Antes de partir, sua meta poderia estar mais doce e sua memória sem declínio. É o que acontece se você cultivou uma juventude com vivacidade de espírito.
Porquê os dois dias mais importantes na vida são, o dia em que você nasceu, e o dia que você descobre o por quê.
Sobre Raul Tartarotti 97 Artigos
Natural de Gramado, Raul teve formação básica em Eng. Biomédica. É cronista em diversas publicações no Brasil e exterior, impressa e eletrônica. Estudou literatura Russa, filosofia clássica e contemporânea. Suas crônicas são de cunho filosófico e social, com objetivo de trazer reflexão ao leitor sobre temas importantes de nosso cotidiano.

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