Sentimentos doloridos e o sorriso que ecoa resistências

Sentimentos doloridos e o sorriso que ecoa resistências

André Luiz dos Santos*

A obra Aurora que Ecoa, de Ocabulas (José Denes), nos desafia a encarar sentimentos doloridos e conflitantes, muitas vezes difíceis de serem externados por aqueles que vivem fora da norma social imposta. Exibida na 4ª Mostra de Arte As Taubateanas, exposição gratuita que permanece até o dia 05 de maio na Pinacoteca Anderson Fabiano, em Taubaté-SP, esta peça transcende a esfera visual e penetra nas profundas questões da representatividade feminina na sociedade.

Com um sorriso azul vibrante que domina a tela, Aurora que Ecoa carrega, em cada tonalidade e contraste, as marcas de uma luta que não é apenas pessoal, mas coletiva. O fundo rosa liso, em seu aparente silêncio, dialoga com a figura, sugerindo a presença constante de expectativas sociais, preconceitos e padrões excludentes que precisam ser enfrentados. Em apenas 15 x 15 cm, a obra se torna um símbolo de grandes resistências.

A curadoria da mostra, ao conectar as obras ao Dia Internacional da Mulher, proporciona um contexto ainda mais contundente para a criação de Ocabulas. A reflexão do artista sobre a mulher contemporânea se evidencia no texto que acompanha a obra: “Hoje a mulher não pede espaço, ela o ocupa. Sua presença ressoa, sua liberdade ecoa.” Esse eco, pintado em azul e gravado no sorriso da personagem, manifesta a complexidade de sentimentos acumulados ao longo de trajetórias marcadas por silenciamento e invisibilidade.

A relação mente-corpo, como discutida por Cruz e Pereira Júnior, ajuda a fundamentar os desafios retratados na obra. A interdependência entre emoções e manifestações físicas reforça que experiências de exclusão social e pressões normativas podem não apenas impactar o bem-estar psicológico, mas também se manifestar no corpo. Assim, Aurora que Ecoa reflete, simbolicamente, as consequências de tais experiências enquanto desafia normas preestabelecidas.

Além disso, estudos de Güenter destacam a relevância do contexto socioambiental na construção de identidades e no impacto de conflitos emocionais. As reflexões presentes na peça de Ocabulas dialogam com essas análises ao mostrar que histórias de silenciamento social afetam profundamente os processos de autoaceitação. O sorriso azul vibrante representa a tentativa de superar barreiras culturais e psicológicas, mostrando que a arte serve como um espaço seguro para externalizar dores e resistir.

Ocabulas explora, com sensibilidade, os desafios da autoaceitação e a urgência de ampliar as narrativas de vivências diversas. A obra sugere que, mesmo quando sentimentos doloridos parecem impossíveis de serem verbalizados, eles encontram um meio de existir, seja na arte, seja em outras expressões. Aurora que Ecoa nos lembra que as histórias à margem da norma social possuem não apenas valor, mas também uma autenticidade transformadora e inspiradora.

Nesta aurora de resistência e ressignificação, Ocabulas oferece mais do que uma peça de arte: ele oferece uma janela para os sentimentos e conflitos que moldam as identidades fora dos padrões. Sustentado por uma visão psicossomática e interdisciplinar, o sorriso azul, forte e presente, ecoa a certeza de que a beleza das conquistas e das lutas não se perde – ela reverbera em cada gesto, em cada olhar, em cada voz que encontra força para existir e resistir.

Título: Aurora que Ecoa

Técnica: Óleo sobre tela

Dimensões:15 X 15 cm

Ano: 2025

*André Luiz P. dos Santos é mestre em Educação e Novas Tecnologias, além de professor nos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Artes Visuais do Centro Universitário Internacional Uninter.

 

 

 

Nqm Comunicação

Julia Estevam
julia@nqm.com.br
(41) 8849-4319

 

 

20 total views , 1 views today

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta