Teresa Bendini entrevista o escritor Tiago Feijó

Teresa Bendini entrevista o escritor Tiago Feijó

Tiago Feijó é professor (formado em Letras Clássicas pela UNESP) e escritor. Nasceu em Fortaleza, mas foi criado em Guaratinguetá, interior de São Paulo. Recentemente, (outubro de 2024) participou do Lítera no Sesc de Taubaté, com Teresa Bendini e Nicodemos Sena, coordenação de Cristiane Cobra, numa mesa que discutia a literatura na infância.
É autor dos livros:
Insolitudes, 2015
Diário da Casa Arruinada,2017
Doze dias, 2022
Breve inventário de Pequenas Solidões, 2024

Teresa – Fale um pouco sobre o “escritor -leitor”. A leitura que você obviamente efetua, penetra na sua escrita? Está contida nela? Talvez aí também se insira sua paixão pela Literatura grega, e eu estou pensando na tragédia.
Tiago Feijó – Ler para mim é antes de tudo um prazer, um sagrado prazer que me acompanha desde a adolescência, quando descobri o universo dos livros e seus autores. Hoje em dia, como escritor, obviamente que a leitura é também um manancial, uma fonte em que vou beber, uma espécie de academia de ginástica narrativa onde me exercito diariamente a fim de manter rijos meus músculos ficcionais. E creio sim que está contida em nossa escrita, de certa maneira, tudo aquilo que lemos ao longo da vida. Já a Literatura grega conheci mais tarde, nos anos de faculdade, e sou de fato apaixonado por ela.

Teresa – Você lê mulheres? Percebe em seus estilos algo que te surpreende?
Tiago Feijó – Claro que leio mulheres, sempre. Aliás, ultimamente as mulheres têm sido minhas principais leituras. Gosto muito da Literatura produzida por mulheres e creio que em todos os gêneros literários elas se destacam mais que os homens. Penso que em um recorte específico, com o qual tenho tido mais contato, que é o da Literatura Brasileira Contemporânea dos últimos 15 anos, são as mulheres que têm produzido o que há de melhor na ficção e na poesia.

Teresa – No que diz respeito às escolas. Teria algum lembrete a fazer, alguma recomendação? Pergunto isso por achar importante o contato do escritor com o aluno, com aquele que será também um leitor do seu livro ou mesmo um escritor. O que diria aos professores e as escolas, já que também exerce a função de educador.
Tiago Feijó – Acredito que as escolas são as responsáveis primeiras na formação do público leitor futuro. Mas para que essa formação funcione é preciso que uma série de engrenagens se movimentem juntas e em sincronia. É preciso que a escola tenha um projeto focado em leitura e que proporcione aos alunos o acesso aos livros e aos espaços de leitura. É preciso que os professores também leiam e sirvam de modelo a seus alunos. É preciso igualmente que em casa a criança seja constantemente estimulada a ler. Enfim, a formação da criança leitora, como venha dizendo em toda oportunidade, é uma tarefa árdua e urgente.

Teresa – Feiras, Concursos, Festivais de Literatura, contribuem?
Tiago Feijó – No que diz respeito à leitura e ao livro tudo contribui e é bem-vindo. As Feiras e Festivais de Literatura ganharam nos últimos anos uma proporção imensa, principalmente no que concerne à nossa região, o Vale do Paraíba. Presenciei com muita alegria ver surgir na região muitas Feiras Literárias que ganharam importância imediata e que são fundamentais para aproximar o público dos escritores, principalmente dos escritores locais. Quanto aos concursos, penso que também são importantes vias que conduzem o escritor iniciante à sua primeira publicação, além de dar ao seu texto uma aprovação especializada.

Teresa – Você teria alguma crítica a fazer ou recomendação sobre a atuação das prefeituras, das Secretarias de Educação ou de Cultura no que diz respeito à literatura ou aos escritores de literatura? Pergunto porque eu tenho.
Tiago Feijó – Penso que o fomento e incentivo das Secretarias Municipais já ficaram muito em dívida com os artistas regionais de todos os campos e modalidades. Mas tenho percebido que algo está mudando, pelo menos no que diz respeito ao meu município, Guaratinguetá, algo mudou drasticamente de uns anos para cá. Com as leis de incentivo Paulo Gustavo e Aldir Blanc as prefeituras têm tido a obrigação de direcionar essa verba ao setor da Cultura e, apesar de ainda faltar um bom caminho a ser percorrido, isso tem gerado a produção de muitos projetos importantes. Mas é preciso continuar lutando, é preciso continuar atento e forte.

Teresa – Por último, fale um pouco sobre cada um de seus livros. O livro: “Diário da casa arruinada”, foi o que mais me impactou. A construção desse romance (Finalista do Prêmio São Paulo de Literatura) é de uma genialidade! Você nos toma! Sim, somos convidados a entrar na casa, nos cômodos dela, na intimidade e ficamos como os personagens “entre quatro paredes”. Legal quando você aborda o ato de escrever com todas as dificuldades que isso implica. Quem escreve se vê no livro! Interessante poder ver, em paralelo, uma tragédia ir se formando na vida do protagonista que deseja muito escrever. Creio que é aí que se insere a genialidade do romance. Você costurou a vontade de escrever dele com aquilo que se inscreve para ele, se faz, ou seja, o drama dele. (O destino também é um escritor). Sim, você nos faz (e ao Joaquim) um belo e providencial convite. Escreva!!!!
Tiago Feijó – O primeiro livro que publiquei foi o “Insolitudes” (7letras, 2015), livro de contos vencedor do Prêmio Ideal Clube. O segundo foi o “Diário da casa arruinada” (Litteralux, 2017), meu primeiro romance, livro que me deu a alegria de ser finalista do Prêmio São Paulo 2018. O terceiro foi o “Doze Dias” (Litteralux, 2022), meu segundo romance, uma história dolorida e muito importante para mim, baseada numa experiência que vivi com meu pai em 2015. Por fim, mas não menos importante, publiquei o livro de contos “Breve Inventário de pequenas solidões” (Litteralux, 2024), onde reúno 10 histórias

Nicodemos Sena autor de “Lá seremos felizes”, Tiago Feijó autor de “Diário da Casa Arruinada” e Teresa Bendini autora de “Krenak, o menino dos braços compridos”.

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