O Desafio de um Artista-Ator

O Desafio de um Artista-Ator

Por Paola Domingues (Esse artigo foi publicado na Revista Entrementes impressa de 2015)

 

Àqueles que tem que acompanhado minha trajetória na Revista Digital Entrementes, já puderam perceber que meu foco se volta a trabalhos autorais ou ainda versões personalizadas. Hoje no entanto, vim apresentar-lhes o outro lado dessa história: A desafiadora escolha em montar uma banda cover / tributo.

 

Integrantes da banda Tributo ao Matanza, Clube dos canalhas

Mathias Neto, vocalista da Banda Clube dos Canalhas Tributo a Matanza

Já poderá ter acontecido com você a infeliz situação de ir num show de banda cover da sua banda favorita e… se deparar num verdadeiro fracasso ou no mínimo, nada próximo às suas expectativas.

A escolha de um caminho que inicialmente parece ser mais fácil que um trabalho autoral, leva ao fracasso muitos projetos musicais. Isso porque o maior desafio de uma banda cover é obviamente não só reproduzir com o máximo de perfeição o trabalho daquela banda ou cantor, mas também alcançar o comportamento e as características daquele personagem. Ou seja, um trabalho extremamente minucioso que exige pesquisa, conhecimento profundo musical e historicamente falando.

Antes de mais nada, é importante sabermos a diferença de uma banda cover e um tributo. Tributo está relacionado a uma homenagem que a banda presta a um ícone da história da música, seguindo sua ideologia e características, já a banda cover é um trabalho que busca assemelhar-se ao máximo com a banda a ser representada, podendo ser até mesmo reconhecida oficialmente.

“É fundamental para uma banda entender a relação do artista e sua proposta musical”.

Começa aí a responsabilidade do músico dedicar-se a também ser ator e pesquisador, e isso, de forma coletiva. Cada membro deverá estudar seu personagem, suas características, seu comportamento e história de vida.

A busca pela perfeição de uma banda tributo / cover ainda vai além. A estrutura de palco deverá ser no mínimo compatível com a estrutura da banda original e isso demanda esforço, tempo e dinheiro.

 

Integrantes da banda Mr. Crowley

Assumir esse compromisso pode ser um dos grandes desafios de uma banda, afirma um dos  integrantes da banda Mr. Crowley (Ozzy Osbourne Tribute) Kris Odara: “Saber lidar com críticas dentro do meio é importante, e aceitar isso com profissionalismo, não é todo mundo que consegue… A química que rola durante os ensaios vai definir o sucesso do trabalho. O público percebe quando o time não casa”.

Outro fator importante levantado dentre os músicos que atuam nesse ramo é a delicada sugestão de “personalizar” o trabalho, ou seja, atribuir características próprias que vão ao encontro da ideologia da banda retratada, pois, obviamente o músico também quer ser reconhecido pelo seu trabalho, não ser somente uma cópia personificada. Tais escolhas podem definir o percurso da banda, do sucesso ao fracasso, pois, não se sabe até então qual será a reação do público em notar diferenciações, seja decepção por não reconhecer a representação da banda famosa no palco, seja por admiração em prestigiar o músico e seu trabalho ali presente.

Os próprios músicos se dividem nessa faceta entre aqueles que acreditam que é importante preservar-se mais idêntico possível, quanto aqueles que acreditam que características próprias podem ser absorvidas na proposta.

 

Mr Crowley (Foto by Fundação Cultural de Paraibuna – Fotografo Ricardo Banin)

 

Wilson, vocalista da banda Mr. Crowley, é a personificação de Ozzy Osbourne no palco e até fora dele, por possuir tantas características físicas do personagem. Num bate-papo, ele afirma provir desse trabalho minucioso, seu reconhecimento entre os fãs de Ozzy: “… meu timbre não é nada parecido; tento compensar isso com a minha performance…eu até corcunda fico no palco” (risos).

Alcançado o maior desafio de montar uma banda cover ou tributo, os caminhos ainda serão longos. É preciso ganhar mercado, apresentar seu trabalho e provar porque vale a pena sua contratação. Um dos primeiros empecilhos é a concorrências com outras bandas do mesmo perfil ou ainda que fazem um “pout pourri” do estilo musical, principalmente nas Capitais. Há também a credibilidade na casa de show: muitos praticamente “pagam” para apresentar-se, ficando a mercê do fluxo de bilheteria, couvert ou ainda para garantir a bebida na festa – uma situação extremamente desanimadora para um profissional -.

 

Alex Rangel em apresentação (by Leandro Do Carmo)

Alex Rangel em apresentação

Por outro lado, esse “sacrifício” poderá garantir sua “porta de entrada” para aceitação do público, além de adquirir cada vez mais o conhecimento, habilidade e consequentemente espaço no mercado e retorno financeiro.

Alex Rangel conhece todos esses caminhos. Músico profissional, tem seu nome na histórias de bandas como Attomica Crew, Jailbreak e The Immigrants (Tributo Led Zeppelin). Alex acredita que o trabalho, quando verdadeiro, emerge o profissional independente se o projeto é tributo ou autoral. O mesmo caso do músico Mathias Neto que atravessa os dois lados, como vocalista da banda Clube dos Canalhas (Tributo ao Matanza) e Cerébro Enlatado (autoral). Mathias ainda faz referência à importância de respeitar o esforço e o zelo que a banda homenageada alcançou com seu sucesso. É a empatia pelo seu próprio trabalho autoral, ressalta o vocalista: “o respeito à criação e ao criador é indispensável”.

Como toda profissão, dedicação, talento e empreendedorismo são importantes ferramentas para alcançar o sucesso.  Marcos Manfredini, vocalista e fundador da Manfredini Blues Band, baixista da banda Amplitude Valvulada e ainda Guitarrista da Cérebro Enlatado, afirma essas questões e ainda conclui que que estar atento às tendências o coloca a frente: “… é preciso saber o que está girando melhor no mercado e se já não há outras pessoas fazendo algo igual ou parecido para se destacar”!

 

Marcos Manfredini, Vocalista e multi instrumentalista

Marcos Manfredini, Baixista da Amplitude Valvulada em ensaio fotográfico

O mercado está cada vez mais aberto a novas sugestões de entretenimento, além dos incentivos governamentais. É preciso estar atualizado a essas movimentações, além de todo aparato musical, conceituações, talento, desenvoltura, postura em palco, dinamismo em grupo, organização, administração do tempo, etc, etc, etc.

Raulzito já dizia que a formiga só trabalha porque não sabe cantar, mas o que a formiga talvez não saiba que o trabalho da cigarra vai muito além que ela possa imaginar.

Pense nisso.

Agradecimentos especiais aos amigos Krishina Odara, Marcos Manfredini, Mathias Neto, Alex Rangel e Wilsinho. Forte abraço e sucesso sempre!!!

Paola Domingues – Colunista especializada em Música no Entrementes.  “vinte e poucos anos de idade, mas quarenta de coração”

 

 

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