O Renascimento, movimento de reforma literária, científica e artística, foi um período histórico que sacudiu a Europa nos séculos XV e XVI. Seus precursores desafiaram corajosamente o “status quo” vigente, opressor e obscurantista. Foi um grito de liberdade, à procura da luz fora da caverna.
Mesmo à custa de muitas vidas, seculares conceitos religiosos e científicos foram questionados. A ciência, presa a dogmas religiosos, conseguiu gradativamente romper esses grilhões. O homem percebeu não ser ele o centro do Universo, e a Terra, seu planeta, apenas mais um entre miríades de outros mundos. Com o passar do tempo, viu-se diante da perspectiva de que é cidadão de um Universo sem fronteiras, onde espaço e tempo já não fazem mais sentido. Ficou aturdido ante a possibilidade aventada pelos teóricos da mecânica quântica de que, quando descobre o Universo, participa da sua criação. E mais incrível ainda, de que o Universo é formado de campos de consciência e não de meros objetos.
Do Renascimento até estes tempos de Inteligência Artificial, mudanças radicais aconteceram. Isso ampliou em muito a complexidade da vida e criou paradoxos. Toda essa evolução científica e humanística não conseguiu eliminar desigualdades, pobreza e doenças. Não trouxe paz, nem felicidade, anseios máximos e comuns aos seres humanos.
O homem cada vez mais devassa o espaço cósmico e já projeta enviar naves tripuladas ao planeta Marte. Busca conhecer recantos distantes do Universo mas, paradoxalmente, não conhece a si mesmo. Pouco ou nada sabe de sua essência. Substitui a falta de autoconhecimento pelo egocentrismo que, por sua vez, o conduz ao extremo individualismo. Criou-se, assim, a sociedade do “eu”, em detrimento da solidariedade com o outro. O outro significa alguma coisa quando há um interesse em jogo na relação. Mal se olha nos olhos do próximo. Distância é o que se quer.
Algumas pessoas perguntam qual lição o covid 19 quer ensinar à humanidade. Isso merece uma boa reflexão. Estamos assustados com o risco de contaminação e suas consequências. A morte é uma delas e sequelas permanentes não são descartadas. Somos obrigados a nos proteger. Usamos máscaras, guardamos distanciamento em locais públicos. Permanecemos isolados em nossas casas. Os contatos presenciais são desaconselhados. Quase não vemos e conversamos com os outros. Isso nos aborrece e deprime. Estamos com fome de “outro”. Precisamos falar com ele, não importa quem seja. Vale um dedinho de prosa com o carteiro ou com o gari., pessoas a quem talvez nunca miramos diretamente nos olhos, nem agradecemos o serviço que nos prestam.
Quando olhamos para um ser humano, não vemos apenas o outro. Nele vemos nossa essência refletida. Percebemos a nós mesmos. Somos quem somos porque ele existe, dá sentido e significado às nossas vidas. Nós somos o outro. Talvez seja uma das lições a aprender com a pandemia.
Por Gilberto Silos
Faça um comentário