Era uma vez a Revolução da Consciência
“Eu, povo, popular cidadão
Bestificado pela ordem e progresso
Só vejo cenas, cenas e cenas.
De violência ..ça ..ça .. e .. Cia.”
Abda Almirez
O que é um poema? Está tão distante de mim nestes dias. Poesia sim, como uma canção inédita ouvida num carro. Aguardamos ansiosos o dia do lançamento de um disco de Edson Souza com poemas de Elizabeth de Souza, que hoje retratou sua trajetória nas artes. Beth é diferente de mim e de muitos…ela é na dela, avessa a eventos e encontros, mas sempre cercada de amigos apreciadores das artes e filosofias. Amigos que varavam madrugadas em sua casa. E hoje eu sou professor. Ela nos contou os primórdios das artes em encontros aos sábados na Praça Afonso Pena, aqui em São José dos Campos. E tudo começou com amigos divergindo num bar do Marcus Flexa na década de 80. Episódios dignos da geração Beat. Pena que ainda não me desenvolvi na ficção, sou um cronista e poeta e arrisco alguns versos. Ela me contou cenas de cinema, que não me cabe contar aqui, quem sabe em meus outros nomes escondidos nas entrelinhas. A trajetória dela é de uma pessoa que sempre apreciou as artes e as aventuras das gerações da época como esoterismo, ativismo e filosofia. As pessoas se encontravam no final da ditadura militar na Praça Afonso Pena, de forma independente dos setores públicos. Algo raro nestes dias neoconservadores. A poesia e a filosofia são livres, sem amarrar-se às estruturas.
Precisamos respirar, após o fim desta pandemia e os saraus ao ar livre, como os da década de 80, são vitais. Uma geração com influência da geração beat e hippie. Nesta época aqui na Vila Industrial as notícias das aventuras de César Pope chegavam. Mas eu ainda não frequentava, era usuário do SESC. E Beth estava lá mostrando sua poesia, sua arte e cercada de jovens como Miran, Alan, Solfidone, Irael Luziano, Marcos Planta e tantos outros. E os papos iam de Fernando Pessoa, Bhagwan Shree Rajneesh a Aleister Crowley, um mago Inglês e também poeta. Imagine uma geração que sabia de tudo e com sede de liberdade, ainda não existia internet. Festivais como o de Águas Claras, redemocratização do Brasil. Criação da Fundação Cultural Cassiano Ricardo.
Outra turma apareceu no mesmo local nos anos 90 através dos remanescentes deste grupo, mas aí, já é outra história. Beth criou o Entrementes com o Reddie em 2009 com a ajuda imprescindível da Cybergarage. O site está aí resistindo a tudo. Tem inúmeras revistas impressas que retratam esta geração. Enquanto escrevo, ouço Legião Urbana, fruto daquela época, assim como o Circo Voador. Uma geração que gerou Ricola, Edu Planchêz, Beth Brait, Josie, Moraes, Juracy Ribeiro junto a uma genealogia Vale Paraibana de poetas como José Omar de Carvalho, Dailor Varela, Alberto Renart, que segundo ela, frequentavam um bar na Rua Quinze que sites como o Entrementes e suas revistas impressas mostram.
Podemos avançar e retornar em outros locais com encontros filosofais. Mas como uma velha canção diz, depende de nós. Estamos vivos e já na maturidade, temos nosso legado de inconformismo. A vida é livre de amarras, tempo e espaço. Viver é mais que pagar as contas e mais do que a tradição, a família e a propriedade.
Abraços!
Joka Faria
João Carlos Faria
Canto da Cultura – Poesia e Filosofia
Belissimo texto. Preciso reunir em um livro.
Faltou uma fotografia de Elizabeth Souza mas ela é avessa
a imgens públicas.Mas não foge ao debate frase clássica dela ” pronto falei”.
Vou juntar um dinheiro e pagar alguém para fazer a seleção.