Por Milton T. Mendonça
Descobriu que estava grávida. O mundo parecia desabar em sua cabeça. Com o resultado na mão, entrou em casa pronta para mostrar a quem encontrasse. A casa estava vazia, solitária. Entrou no seu quarto, fechou a porta atrás de si e leu o resultado do teste mais uma vez – positivo – O que será isso? Pensou. Positivo estou grávida ou, positivo, não estou grávida? Ela sabia que não adiantava tentar se enganar. Estava grávida! Cem por cento grávida!
Pensou no namorado, que a deixara por uma outra menina. Sentiu um aperto no peito, seu coração soluçou apreensivo. O que fazer? Nada lhe ocorrera a não ser avisar o menino. Pegou o telefone e discou o número. Atenderam do outro lado, desligou assustada. Pensou em ligar para sua amiga íntima, mas sentiu vergonha.
Como pudera ser tão burra, pensou indignada. Lembrou-se dos beijos, um calor subiu pelas pernas e foi se aninhar no estômago. E se ele aceitar? Pensou esperançosa. Mas sabia que não aceitaria.
Ele dissera que não era sua culpa, ter ido tão longe. Como não? Lembrou-se da tentativa de fuga e ele a segurando pela cintura, emocionado. Lembrou-se do calor, da fraqueza nas pernas, do não, querendo dizer sim. Ficou furiosa!
Tentou resistir quando ele levantou sua saia e puxou energicamente sua calcinha, machucando sua virilha. Tentou resistir quando ele abriu o zíper da calça e tirou aquela coisa de dentro, enfiando brutalmente em seu corpo. Tentou resistir quando, depois da dor súbita, o prazer se alastrou como um maremoto invadindo lugares nunca sentidos, ficando como que hipnotizada, prensada contra a parede, até ser largada abruptamente, perdendo o equilíbrio e quase caindo no ladrilho da garagem da casa de seus pais.
O constrangimento do primeiro momento a deixou nervosa, mas aos poucos um sentimento de ternura tomou conta de seu coração. Ela o amava? Perguntara-se, o olhando com carinho. Ele arrumara uma desculpa e se foi, sem um beijo. Saíra apressado, assustado, sem olhar para trás, sem nenhum aceno como era de hábito ao virar a esquina. Desculpara-o, invocando a emoção do momento. Agora isso!
Depois do beijo não se falaram quase nada. Ela o procurou, mas ele a tratou friamente. Não conseguia entender o que tinha acontecido. Ela o deixou participar do dia mais importante de sua vida e ele nada tinha a dizer? Garoto estúpido! Resolveu se afastar.
Contou às amigas e todas ficaram impressionadas. De repente se tornou especial para seu grupo. Era a mais velha, a mais experiente. Todas as amigas a procuravam para pedir conselhos como se ela soubesse de tudo. Mas ainda se sentia a mesma menina sonhadora de sempre. Ainda não sabia nada da vida.
Os pais, quando souberam, foi um deus nos acuda, o telefone ficou ocupado por vários dias consecutivos. Ora a mãe dele ligava, ora era sua mãe que estava disposta a resolver definitivamente – como gritava nervosa – o problema. O menino nada dizia. Encontrou-se com ele na escola muitas vezes, mas o constrangimento entre os dois crescera e os amigos, com aqueles sorrisinhos imaturos, atrapalhavam qualquer tentativa de aproximação. Foi na quadra de futebol de salão que, um dia, por pura coincidência, enquanto ela relia pela milésima vez o assunto da prova do dia, sentada no único lugar onde sua barriga encontrava um jeito de não incomodar, que ele apareceu. Sentou-se calado ao seu lado e, depois de um longo silêncio, vendo que ela nada diria, propôs um encontro na beira do rio para resolverem o assunto. Sua barriga deu um salto e a jovem mãe confiante previu um final feliz para aquele amor que começara tão desastrado.
No dia combinado, colocou sua melhor roupa, se maquiou, ficando bela como nunca ficara antes, e foi ao encontro. Na hora marcada, desceu a ladeira que separava o asfalto da grama verde bem podada que vicejava ao longo da margem. Ao longe pode vê-lo olhando alhures, o rosto branco como de um morto, os braços largados como se o mundo o esmagasse com seu peso. Ao vê-la, se levantou e esperou que ela chegasse bem perto. Ao se aproximar, antes mesmo de dizer olá ele atirou três vezes, a matando instantaneamente. Ficou olhando o corpo cair lentamente. No peito o sangue surgiu vermelho, transformando em magenta o azul do vestido comprado de véspera. Cumpriu o que o pai não teve coragem de fazer. Ele jamais diria: “Devia tê-la matado quando ficou grávida, nunca deveria ter me casado com você!
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