Uma viagem no vento!

Uma viagem no vento!

Impressões sobre o livro “Moinho” de Bruno Cena Macedo*

 

Recebi em casa neste dezembro, o livro “Moinho” do Poeta Bruno Cena Macedo, piauiense que mora no Rio Grande do Sul. Um presente, um mimo, como ele mesmo diz. Demonstra com sua atitude, generosidade ímpar e uma humildade tocante.
Bruno Cena Macedo divide “Moinho” com “Em teu nome” da escritora carioca Elaine Araújo Brito. Foi publicado pela Caravana Grupo Editorial, que tem esse projeto de livro 2 em 1. Esta editora, cuja característica marcante, é de realmente fazer uma Caravana pelo Brasil afora, apoiando novos escritores e suas publicações.

 

 

Li o livro e apresento minhas impressões dos 41 poemas do Bruno, dando spoiler da sua escrita, em minha escrita.

A poesia  é simples, sucinta, direta, sem fazer aqueles rodeios intermináveis em que muitas vezes o leitor pula para chegar ao final. O poeta vai direto ao ponto e por isso dá gosto ler sua poesia que flui leve. É perceptível seu olhar observador e aguçado das coisas simples do cotidiano, apreciando os fenômenos da natureza com sensibilidade, assim como pequenos objetos ou ainda uma flor, jardins, animais, humanos vizinhos, um mundo em desatino, a noite, o dia e as palavras de qualquer um.

A poesia do Bruno me carregou até o “Moinho” movido pelo vento, esse “ser em silêncio”. Escuto seu grito silencioso, “um acaso do destino” e vou para longe nessa viagem pelas palavras carregadas de imagens minimalistas, fazendo-me “admirar as pequenas coisas”. Fico em “devaneios e quimeras a entreolhar o vento” me carregando por entre plantas, jardins e pequenos animais, dentro desse universo poético, onde a “passagem das horas se vão assim sem pressa, sem tempo” numa “possibilidade de te levar para longe”. O mundo simbólico onde reina a natureza e seus pequenos seres delicados é belo e sonoro porque é incessante o desejo de quem está “procurando uma orquestra de pássaros para que cante uma sonata” “antes que murchem as flores” do jardim.
A “lambuzar-se nos destinos entretidos pelos caminhos”, vou percorrendo os poemas até galgar os “abismos que dançam felizes”, esperando o meu salto a “outros tempos”, aliviando a dor de viver. “Mas a vida segue como uma vã filosofia”, no afã de cair na “vaga imensidão”. E caminhar em direção aos abismos é “estar ao lado dos loucos” e “ficar no meio é esperar a queda”. A “casa pode ruir, mas ficam os cacos” com “atalhos de egos”. Esses, permanecem no abismo enquanto faço minha arremetida, afinal “o lugar dos outros nunca é o lugar da gente”. É preciso avançar através do vento “quem quer ficar fica, quem não quiser, deixa ir embora”. Sair do abismo e iniciar um novo movimento do moinho a girar.
Em meio ao “ruído das palavras quebradiças” vou voltando pelos barrancos, porque “o real sempre permanece, por mais “sem importância” que possa parecer. “já é tarde e eu aqui” na expectativa da volta. Não posso ficar na escuridão cheia de “segredos secretos na hora do fim” de uma noite onírica. E “admirável é a luz que brilha” ao amanhecer. Volto ao topo!

A escrita do Bruno é o moinho e o infinito nesse movimento cíclico, talvez consiga levar seu leitor a fazer essa onírica viagem, como fez comigo. O olhar do poeta “é de aprendizado e fascinação” porque nas suas andanças pelo mundo surgiram as esperanças espalhadas pelo vento.
“Tu és lindo, libertário e lindo” ao “fazer das palavras, sua morada” e ao “sedento que na tua porta bate – não hesita em dar-lhe de beber” “da sua bebida, ora amarga, ora doce”, mas necessária. Escolheu “ser você mesmo” nesse mundo onde “contam o que há de tudo” e isso está longe de ser ridículo. O poeta nunca é ridículo, o poeta “é um amador”, ama a dor em si e nos outros, simplesmente porque sabe que “volta e meia a gente morre” e nem vê. E a dor é sinal de vida e “o que doía desesperadamente começa a não doer mais”, depois da poesia.
A claridade da poesia traz entendimento da fugaz permanência no mundo, “a duração da vela por menos que seja é sua glória, é seu esplendor”. Depois da viagem, surge uma nova luz no fim do túnel e já se é outra pessoa.

“Feliz é quem nasce para beijar flores e quem tem o poder de girar o sol sem se queimar” (Bruno Cena Macedo)

Elizabeth de Souza

 

Sobre o autor

 

*Bruno Cena Macedo nasceu em Canto do Buriti (PI) e reside em Nova Prata (RS). Possui graduação em Letras/Espanhol pela Universidade Estadual do Piauí e pós-graduação lato sensu em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela Faculdade Famart. É membro da Academia Independente de Letras e da Confraria de Bibliófilos do Brasil. Autor do livro Aos clementes, esperançai-vos (2020). Participou de diversas antologias literárias.
Esta obra faz parte do projeto 2 em 1 da Caravana, em que publicamos dois autores em um mesmo volume.
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Sobre Elizabeth Souza 407 Artigos
Elizabeth de Souza é coordenadora e editora do Portal Entrementes....

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