Por Milton T. Mendonça
PS: Não esqueça que continua sem revisão e escrito praticamente online. Qualquer “reclamação” use o e-mail… Obrigado.
Superfície – Capítulo 8
– Ainda me lembro do barulho dos passos no piso vitrificado. Ao mesmo tempo em que estava curiosa em conhecê-los me sentia assustada. Nos poucos momentos em que pude observá-los sentira algo diferente de tudo que havia sentido até então. Ouvira dizer que a inteligência desse povo é assustadoramente afiada e a sensibilidade permanecia à flor da pele por todo o tempo e, como pessoa racional me incomodava pensar na possibilidade de magoá-los por algum motivo.
– Chegara à sala um pouco depois de João e do resto do pessoal. Sentara-me no sofá de canto, após os cumprimentos, e me pusera a ouvir musica. Não era uma melodia muito agradável aos meus ouvidos, mas percebera que algumas pessoas que viera conosco além de alguns moradores da casa estavam interagindo melhor do que eu então relaxara. A expectativa de voltar a ver nossos anfitriões tirara toda a minha atenção do som e me pusera a pensar em suas vidas De repente uma luminosidade diferente tomou conta do ambiente e vários personagens surgiram como num passe de mágica. Olharam para nós com uma expressão que me pareceu de alegria por causa do brilho intenso de seus olhos mansos. Não era muito agradável de ver, talvez por causa da estranheza que causava, mas depois de algum tempo passava-se a gostar… Apesar de não ser nossa maneira de expressar a mesma emoção.
– Como era exatamente biselisa? Preciso explicar para os meus leitores – Muai perguntou sério.
– Como vou explicar a expressão daqueles humanóides se a nossa já é muito complicada de descrever, meu querido? Vamos ver se consigo… Eles ficavam ligeiramente mais simpáticos. Menos compenetrados que era a atitude normal… Olhavam direto nos nossos olhos e levantavam a cabeça de maneira a deixá-la simétrica com os pés. As sobrancelhas baixavam ligeiramente nos cantos dando aos olhos uma objetividade assustadora… Penetrantes. Como se conseguissem ler nosso íntimo.
Quando queriam se mostrar simpáticos relaxava as sobrancelhas deixando-as horizontais como se fossem telhados cobrindo dois rubis translúcidos enormes e brilhantes. Sob os olhos surgiam duas bolsas que aprofundava ligeiramente todo seu entorno criando uma harmonia entre eles que os tornavam belos… Ou quase isso. A boca esgarçava numa figura bizarra que olhando individualmente era feia, mas quando se olhava o conjunto tinha a misteriosa capacidade de transmitir uma sensação de confiança e amizade deixando-nos confortáveis e seguros. A cor cinza escura da face e a cinza azulada do exoesqueleto arraigavam a emoção.
– Consegui fazê-lo compreender meu querido?
– Sim! E as rugas? Não tinham rugas? Quando sorrio formam rugas em volta de meus olhos…
– Não meu querido eles não tem rugas, mas quando envelhecem ficam porosos. A pele deles é meio vitrificada… Não sei bem… Não é igual a nossa macia. A impressão que tive, já que nunca os toquei, foi de solidez… Petrificação. Os mais velhos ficam porosos e quebradiços… Esfarelam. Apesar da mobilidade não tem nossa flexibilidade. São rijos… Pétreos.
– Deu para compreender… Imaginar, biselisa. Pode continuar a história agora…
-Levantara-me e caminhara em direção ao grupo. Estavam todos juntos parados no meio do salão. O senador-embaixador nos apresentara. O mais velho do grupo e, como confirmara mais tarde, o mais importante deu um passo a frente e levantara a mão direita espalmada em minha direção. Não podíamos nos tocar por sermos apenas luz um para o outro. Levantara minha mão e repetira o movimento sorrindo… Apesar de saber que não estava me vendo de verdade, mas outra pessoa, o computador criara a impressão em minha mente de ser eu na sua frente.
– Sou Elisa – anunciara com a voz mais gentil que conseguira.
– Sou Xdoyll. É um grande prazer conhecê-la. Soubemos que é uma cientista… É um grande prazer conversar com uma cientista do planeta que chamam de terra.
– Estou muito impressionada com seu planeta senhor Xdoyll. Gostaria de ter a oportunidade de conhecer sua cultura…
– Este é Yogbly meu parente – apontou para outro personagem mais jovem – Ele é nosso antropólogo. Está aqui especialmente para comparar nossas culturas. É a primeira vez que fica frente a frente com um terreano.
– Olhara para ele e deu para perceber a aura de estudioso cobrindo-o como uma manta. Lembro-me que ficara espantada com essa percepção. Todos que esperavam na sala estavam ao nosso redor, curiosos e me dei conta que não podia e não queria monopolizar a conversa. Estava ali para impressionar os homens de negro e torná-los nossos aliados e não para fazer pesquisa extraterrestre. Precisei me concentrar e chamar João para o lado no intuito de me convencer a deixar passar a oportunidade de me aprofundar naquela cultura que se abria para mim. João com sua sabedoria me lembrara que toda informação que recebesse já existia em literatura na terra porque esse encontro não era nosso, mas de alguém que estivera ali centena de anos atrás.
– Deixara que todos se achegassem e pude perceber que não houve mudança na atitude dos homenzinhos de cilício. O velho continuava a conversa olhando para o rosto de M e minhas emoções congelaram num ricto de dor. Imediatamente o ambiente começara a tremeluzir e foi se apagando gradativamente até sentir a textura do couro sob meu corpo e o rosto do ajudante que ficara na lua surgir no meu campo de visão.
– Levantara-me meio zonza e percorrera os outros divãs, preocupada com nossos convidados. Perscrutara o semblante dos homens deitados e a maioria demonstrava estar feliz e em um momento de grande realização. João era o único que mantinha um semblante preocupado. Sua testa estava vincada com sulcos profundos e sua boca semi-aberta sugeria que conversava com alguém que não podia ajudá-lo. Retirara o contato de sua cabeça e imediatamente seus olhos se abriram. Quando conseguira me focar sua surpresa fora contagiante. Abraçara-me efusivo me soltando em seguida constrangido e exclamara:
– Você desapareceu! O que aconteceu?
– Percebera a inutilidade da situação e meu desgosto desligara a conexão.
– Precisamos trazê-los de volta… Não é bom deixá-los sozinhos – João falara acertadamente me fazendo sair daquele estado de sonolência característico do retorno da viagem no MPN.
-Levantara-me e fora um a um nos divã desconectando os passageiros. Conforme ia retirando a conexão o homem abria os olhos e demorava alguns segundos para conseguir me focar. Logo após olhava para os lados espantados e exclamava com muito pouca variação: “Onde estou?! O que aconteceu?”
– Fizemos uma reunião para sabermos suas impressões e servimos um fausto almoço para desarmá-los – Elisa rira maliciosa – e conseguimos perceber que estavam em nossas mãos. Fora um grande momento aquele… O primeiro. Fora naquele momento que conseguira perceber a verdadeira dimensão do que estava fazendo. Conseguimos conquistar os homens mais poderosos da terra. E sem usar arma alguma ou qualquer violência. Saímos dali e fomos repousar… As viagens no MPN são muito desgastantes como você sabe. Eu estava muito feliz. Conseguira contagiar João e ficamos conversando mais algum tempo antes de cairmos no sono.
– Voltara ao trabalho na manha seguinte e adentrara ao meu escritório como um furacão. Estava descansada e muito curiosa com o resultado da missão que dera as duas meninas. Elas deveriam entreter os dois membros dos homens de negro que ficaram para trás. Como teriam se comportado – pensara ao vê-las sentadas no pequeno sofá de dois lugares que fizera colocar a um canto da sala.
– Bom dia senhoras! Exclamei irônica – Espero que tenham cumprido a tarefa como ordenei?
– Bom dia senhora – Responderam uníssono. As imagens estão prontas para rodar…
– Muito bem, vamos a elas então!
Continua no próximo capítulo…
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