Catarse por Alexandre Lúcio Fernandes

por Alexandre Lúcio Fernandes

Os olhos fecham sentidos, principiando o ritual do toque. A pele se aprofunda, enraíza nos certames onde conflita a emoção. Amor desabrochado é orgânico, salta à pele em demasiado furor, ditando roteiros indulgentes, espelhos de afetos que clamam por antídotos. A epiderme se eriça em tons pontiagudos, corroborado por luzes de essência, em uma cromática desafiadora, onde bailam as sensações orquestradas em movimentos fluídos. O palco onde o corpo se enjaula, retumba em seu negror apático – e enigmático – clamando o enlace d’outro.

A cáustica condição irradia os perímetros por onde a paixão avoluma e derrama o líquido de sua hipnose, unificando fronteiras e desejos. Terrenos férteis avistam-se em um espetáculo indecifrável. Olhos são solos sagrados onde nascem flores de raros sentimentos. Regam-se, amam-se feito chuva a penetrar a terra para regar a semente, tendo como adubo a atração, o fervor inquietante e a tempestade abrasiva da paixão, elementos esses que antecedem a bonança de um amor tranquilo e legítimo. O ritual do encontro confronta a lógica espectadora de corações sedentos pela libertação, em um voraz arrebatamento onde almas se conectam.

Amar é um suplício que delibera êxtase em sinais pouco compreensíveis, embora também desate a leveza em um conforto que acalenta os cantos vazios da alma. É assim o espetáculo, parcimonioso momento onde vociferam os toques de enlace, um repertório de salvação sem roteiro estabelecido. O calor aglutina febril a engenharia dos braços que constroem edifícios de prazer, cenas tórridas que desobstruem aprofundadas e perdidas comoções, em um desassombro mordaz e fragrante. Porque cheiros se casalam, desanuviando o martírio do clímax, em uma entorse de dores sem identidade.

Corpos padecem em uma anestesiante purificação, um jogo ensandecido e sedutor que faz pulsar os detalhes mais impuros, libertando-os sem pudor. O rito da paixão realinha órbitas em universos distintos, cimentando esperanças outrora perdidas. O desejo vocifera, trazendo à luz rotas libertárias para prazeres enjaulados, resultantes de uma cerimônia que se comemora com beijos, toques e encaixes. Um pouco da felicidade debanda de cumplicidades dessa magnitude, porque amar ativa uma sensação de euforia e bem estar, ápice purificador de uma partilhada catarse.

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