Sublime
por Alexandre Lúcio Fernandes
Os sopros esguios e sublimes, das tenras e ermas manhãs, causam dobraduras na essência não visível que se sustenta pelo ar. O belo se equaciona e se instala furtivo na textura não palpável da vida. É um rebuliço de encanto, de viço singular, adormecido em enfeites que transitam por aberturas calibradas com a maciez da natureza. Sublime é a transição silente, o avanço das horas, o acolchoar do dia com afago, um deleite que enriquece o pulso vital do mundo.
É um ciclo sustentável, amparado num toque que delibera, e flui, abraçando o cálido tecido do amor, como tulipas que reagem ao abraço caloroso do vento; como sorrisos que agem como maestros de um afeto doce e secular. As vidraças desembaçam com os olhos poéticos que lustram o translúcido querer que vinga no peito. Mares revoltos se abrandam sob a regência das estrelas que vagam no céu, desembrulhando pacotes de esperanças. São segundos, horas, dias ou nada.
A vida nasce de um roteiro não descritível em palavras. É aquele silêncio que não se traduz em abraço curativo, em um gesto que retumba a melodia sublime da criação, feito outono debruçando primavera em uma misteriosa compreensão. É poesia que enverniza o azul do horizonte, tal como a luz que destila sua magia ao colorir a trama de um eloquente universo, conferindo um corpo ao breu. Um espetáculo nascente, princípio de uma rima há muito presa na língua e oculta pelas penumbras do medo.
A vida desabrocha, sustenta-se como flor que se abre em infinda beleza, torneando suas pétalas e exalando sua mais preciosa fragrância. É uma singularidade, simplicidade que se torna de dimensão incompreensível, porque é sentimento que acaricia em um acalanto sublime, numa exultação aprazível, discreta e rasteira. Há um desmedido zelo que acidenta corações com leveza, e preenche a alma com rastros de fé inabalável. Presenciar é ter paz, é sentir fluir, como um riacho desviando solene das pedras, em uma profunda meditação.
Não há algo tão majestoso quanto a passagem do dia, nem do quão imponente é o embalo natural das coisas, um organismo responsivo por si próprio, subserviente à programação ao qual lhe foi incumbida: ser independente. Tudo se torna porque foi feita para ser assim. Tudo tem vida própria. Nasce e morre porque é o seu desígnio. É um processo tão único o modo como as coisas giram e evoluem, um pilar para o perfeito equilíbrio de um universo inteiro que vive sobre sua própria existência. Não é apenas lindo, é simplesmente sublime.
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