Impressões Digitais – Dyrce Araújo

Impressões Digitais – Dyrce Araújo

Estou começando um processo de pesquisa sobre a poeta e escritora Dyrce Araújo de nosso convívio nas artes e cultura do nosso Vale do Paraíba e já acho esta entrevista de Ludmila Saharov. A vontade de escrever veio das leituras de Faróis no Caos de Ademir Assunção sobre poetas de nossa época. Escrever sobre esta gente da Tribo Invisível, título de um poema de Carlos Aguapé, um artista marcante em nossas vidas, que já está em outras dimensões.

Escrever se faz viver, estamos ai e meu sonho de criar uma editora vai se perdendo, mas manter a memória e as atualidades da gente que lê, escreve se faz o ofício de vidas inteiras. Tanta gente ao longo de nossas jornadas, está aí um início. E convido outras vozes a se manifestar em escritos e canais do youtube.Já que não temos espaços na mídia, além dos espaços do jornalista Ferreira Leite e este já tradicional Entrementes. Os encontros nas praças, shopping se fazem necessários.

Vamos esquecer e enterrar a palavra projeto. A arte é bem mais que instituições. Neste último sábado estivemos na cidade questionando uma morte, numa manifestação e saboreei a cidade, sua gente, uma sociedade consumista, poetas. Deixai-vos os teclados e as telas e estejamos em comunhão nas ruas.

Apreciem esta entrevista e virá mais. Viva a arte de Dyrce Araujo.

Joka Faria , verão de 2022

 

 

Dyrce Araújo: Geminiana, professora, escritora, poeta, mãe, avó, amiga, confidente. Essa mulher, que é tantas, segue comigo, desde sempre, pelos caminhos do Vale, pelos caminhos da Vida, dividindo alegrias e tristezas, repartindo textos, revisando escritos, criando cursos e percursos. E, dentro desse universo mágico da escrita, ela vai se reinventando e nos alimentando com o pão das palavras que, generosamente, sempre tem para ofertar. Salve, Dyrce, minha amiga mais do que querida e parabéns pelo aniversário, dia 3 de junho!
Obras publicadas: “Quando a casa dorme” “Pecado Imortal” “Sagrada Paixão” “Nova Antologia da Poesia Brasileira” (pela Funarte)
É verbete no dicionário das escritoras brasileiras organizado por Nelly Novaes Coelho.

 

Antes arte do que tarde?
Sempre Arte, esta para a qual nunca é tarde e cujo tempo é o pulsar de Kairós, o tempo do coração.

Santo de casa faz milagres?
Esta é a minha crença. Meus santos são os de casa, os que escrevem a cultura deste Vale fértil e generoso de talentos. Hosana aos santos da casa, que rufem os tambores. Saravá!

Pessoa disse: tudo vale a pena, se a alma não é pequena…e se for?
Pobre Fernando Pessoa: o que há de alma exígua é um acinte. Alma pequena, que pena! Vade retro!

O que está sempre à flor da pele?
Os pêlos eriçados da Paixão.

Qual o limite da resistência?
Ainda não descobri. Resisto, resisto, re-existo.

Que texto merece ser passado a limpo?
As histórias do Brasil: a oficial, a oficiosa e a real. No pretérito perfeito, mais que perfeito, presente e futuro do pretérito. Cuidado também com os adjetivos. È isso.

Por quem passaria pelo túnel do tempo?
Por minha mãe, para vê-la dançando bumba-meu-boi na Amazônia de minha infância.

Livro real ou virtual?
Livro real, velho, novo, com caruncho, mas real.

Qual alimento sacia a alma?
Um banquete de arte. Estão convidados.

O grande poema é aquele que…
Instiga o intelecto e aumenta a pulsação.

Onde buscar inspiração?
Nas coisas do espírito, além, muito além do palpável. Onde estão os sons do Universo, a Árvore da Vida, a mágica dança do Cosmos.

O que qualifica um poeta: técnica ou inspiração?
Inspiração, expiração, respiração, piração, tudo isso com muita técnica e aprimoramento, pode crer.

Que livro gostaria de ter escrito?
“O jardineiro que tinha fé”, autora: Clarissa Pinkola Estés, a mesma que escreveu “Mulheres que correm como lobos”

O que merece revisão urgente?
A educação no Brasil: construtivismo, progressão continuada, argh! Viva a Caminho Suave! Socorro!!

Que historia não tem fim?
A da desigualdade social, a da fome e do frio, a do preconceito e da dor humana.

Quando a vida é um livro aberto?
A minha, nunca. Escondo-me nas entrelinhas. Detesto a super-exposição.
Um verso inesquecível:
“Já nos dissemos tudo e ainda há tanto a calar.” (Carlos Vogt)

Viver é…
Perigo eminente, frio na espinha, mas danado de bom.

Morrer é…
Arrancar da pele todas as palavras.

Clássico ou contemporâneo?
O clássico é, eternamente, contemporâneo. Esta é a grande sacada.

Como administrar a insustentável leveza do ser?
Não economizando sonhos, projetos, trabalho, aconchego, cafuné na nuca, massagem nos pés. Repartindo o perfume da sopa em noites frias e permanecendo criança.

Sem talento há solução?
Sem talento, dissolução. Basta olhar em torno…

Quem merece estar em foco?
Os que aliam talento e inteligência à alteridade, sentimento que vai além da solidariedade e que nos coloca no lugar do outro. No mais, muito obrigada.

Defina-se em uma frase: Eu sou:
Eu sou o enigma que me habita.

(Ludmila Saharovsky)

1 Comentário

  1. Bela entrevista. Perguntas inteligentes. Respostas instigantes. Quando inteligência e sensibilidade se juntam, sai de baixo…
    Dyrce e Ludmila, eternas musas. Já são imortais.

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