Do ópio a Cassiano Ricardo e o jornalismo pra embrulhar peixe.
Por Fernando Selmer*
Por esses meses saiu uma matéria no jornal de maior relevância da cidade. Na matéria um tal jornalista, especialista em literatura se gabava do fato de ter estudado há cerca de 30 anos a obra e a vida do poeta Cassiano Ricardo. Um poeta disse certa vez: A especialização é imoral. De fato. Considerando por exemplo, nomes tais como: Paulo Nubile, Hélio pinto Ferreira, Jose Omar de carvalho, Olney Borges Pinto de Souza, Josefina Neves Mello (Josie), Dailor Pinto Varela entre outros. Inclusive esse último citado foi Jornalista no jornal que publicou a matéria, um dos fundadores do movimento Poema Processo e teve 14 livros publicados. O fato é que recentemente o jornalista afirmou ser pífia a produção literária Joseense, especificamente à poesia. Se essa é a questão, então qual é a função da Academia de letras Joseense? O que entende o estudioso sobre a literatura pôs Cassiano Ricardo ou mesmo a atual? Talvez pela sua mais completa vocação de estudioso de um autor só lhe falte tempo para ir aos inúmeros Saraus por toda a cidade, encontros literários, debates e exposições.
Ontem, 14 de Março dia da poesia, ou pelo menos era, participei de um sarau Aconchegante na Literacia a convite de um dos maiores representantes da poesia atual, Jose Moraes ou Poeta Moraes como é mais conhecido. Na ocasião, o poeta Moraes fez questão de montar uma mesa repleta de livros da produção local. Igualmente, Analu também nos apresentou inúmeros livros publicados de escritores locais do seu acervo. O fato é: Nunca vimos esse jornalista participando ativamente da programação literária local. Exceto quando é convidado a falar da obra de Cassiano Ricardo durante a semana que homenageia o poeta anualmente. São palestras enfadonhas, cujo a esfera gira em torno de si mesmo reproduzindo sempre os mesmos poemas. Vale uma ressalva em relação aos relançamentos de duas obras do poeta que eu particularmente gosto bastante: Jeremias sem Chorar e os Sobreviventes.
É importante citar ( e peço desculpas aos que não foram citados porque são muitos) aos desinformados a marca heróica dos 30 anos de “O planfletário” de José Moraes e seus inúmeros livros publicados e sua aguerrida luta como ambientalista. A dramaturgia poética e visceral de Marcus Groza. A literatura fantástica e literomusical de Léo Mandi.O site entrementes com seus apoiadores e colunistas trazendo ótimas matérias, textos e reflexões do mundo contemporâneo. A pesquisa biográfica incansável de Rita Eliza seda. Os livros de conto de Itamara Moura e sua importante contribuição literária com o “Catar Feijão”. As exposições e experimentos de poesia visual que tenho produzido. A vasta e potente poesia de Dirce Araújo. O poeta Ricola que soube retratar a cidade com toda a sua falha magnética. A prosa poética sertaneja e textos reflexivos de Zenilda Lua. E aproveito pra citar um poeta que viveu intensamente a poesia do dia a dia e suas trivialidades, Réginaldo Poeta Gomes. O poeta mais louco que já passou por essa cidade, Edu Planchez. Beth Brait Alvim que acaba de lançar seu novo livro de poesia ” a febre e a Mariposa”. A premiada escritora, poeta e incentivadora incansável de encontros literários Teresa Bendini. Mirian Violeira com seu projeto social “Quintal de todos” e seu novo livro “Tuco o catador de palavras” que trás uma belíssima reflexão sobre a questão social. A jovem e provocadora Vanessa Alves com seus textos poéticos que se entrelaça a uma deliciosa investigação do corpo. O excelente trabalho de pesquisa da Historiadora Sonia Gabriel. A contribuição literária do poeta Braga Barros. A poética musical de Déo Lopes. A resistência política literária de Moacyr Pinto da Silva. As crônicas impertinentes de Joka Faria e tantos outros poetas, escritores, contistas e romancistas que fica difícil citar todos.
O poeta Drummond de Andrade soube retratar a sua época como poucos. De tempo em tempo, somos lançados a novas experiências de leitura. De tempo em tempo, surge novos movimentos literários e novas formas de se expressar através da escrita. Um jornalista que se lança no mundo literário sem compreender a sua época, ou apenas pra estar presente na programação da semana Cassiano Ricardo, aprisionando-se a uma zona de conforto ou um tipo de prosa verbal repetitiva e cansativa, quase que uma obsessão à medida que não há diálogo com o contemporâneo não é passivo de ser tratado como tal .
O poeta Drummond de Andrade soube retratar a sua época como poucos. De tempo em tempo, somos lançados a novas experiências de leitura. De tempo em tempo, surge novos movimentos literários e novas formas de se expressar através da escrita. Um jornalista que se lança no mundo literário sem compreender a sua época, ou apenas pra estar presente na programação da semana Cassiano Ricardo, aprisionando-se a uma zona de conforto ou um tipo de prosa verbal repetitiva e cansativa, quase que uma obsessão à medida que não há diálogo com o contemporâneo não é passivo de ser tratado como tal .
Queremos mais discussões literárias, mais mesas de bate papo, mais diversidade poética, encontros, mais pessoas lendo e escrevendo, críticos literários e jornalistas que olhem com um olhar crítico e participativo e não apenas letrados e estudiosos obsessivos e oportunistas…
Viva a poesia!…
Viva todos nós…
Viva todos nós…
*Fernando Selmer, artista visual, performer e serígrafo.
Foto: Enviada de uma amiga (Aucélia) que promoveu um sarau em seu apartamento.
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