Robert Burns – Poeta Escocês

Robert Burns – O Poeta que eu não conhecia…

Por Elizabeth de Souza

Robert Burns,  poeta escocês, nascido em Alloway, Ayrshire, é considerado por alguns críticos, um precursor do Movimento Romântico. Foi, nas palavras de Jorge de Sena “Um dos maiores líricos da poesia universal“, “um dos maiores fermentos do Romantismo, a cujos ideais de licença erótica na poesia e na vida se pode dizer que ele sacrificara a sua. Pela liberdade apaixonada, o erotismo desenfreado, a pungência dorida, a malícia viril, o domínio absoluto de uma linguagem que é menos dialectal do que fabricada por ele com dialecto e inglês literário, a arte consumada de uma musicalidade perfeita, a sua grandeza de lírico é extraordinária. Mas nem a simplicidade aparente, nem o tom popular, excluem uma aguda perspicácia e uma culta desenvoltura, que tudo absorviam e tornavam em original poesia que foi uma rajada de ar fresco nos convencionalismos poéticos do século XVIII. Sátira violenta e revolucionarismo libertário igualmente estão presentes nesta poesia desavergonhadamente autobiográfica. “.

Robert Burns

Robert Burns nasceu em 25 de janeiro de 1759, na aldeia de Alloway, em Ayrshire. E morreu com apenas 37 anos, em sua casa em Dumfries. Tendo saúde fraca, sofreu um ataque de febre reumática (1795) e morreu no ano seguinte, com apenas 37 anos.

Esse grande poeta nasceu numa família pobre de agricultores e era o mais velho de 7 filhos. Seu pai, apesar de pobre e humilde, assegurou aos seus filhos a oportunidade de ler e aprender. Aos 15 anos ele escreveu seus primeiros poemas. E aos 27 publicou a sua primeira coleção de poesia, escritos no dialeto escocês.

Esse poeta escocês, mesmo com sua fama, sempre foi orgulhoso de suas raízes. Sua vida humilde como agricultor permaneceu impregnada ao longo de sua vida, onde sua escrita retratava a vida das pessoas mais pobres, numa ânsia por igualdade social e solução de problemas que afetam as pessoas mais pobres. Por essa razão há certa identificação por parte das pessoas por sua obra. Um obra universal que retrata situações que afetam pessoas do mundo inteiro.  Foi casado com Jean Armor e teve nove filhos.

Robert Burns é um dos mais famosos poetas da Escócia.  Ele é conhecido como Rabbie Burns ou o Bard of Ayrshire,  e é considerado como o poeta nacional da Escócia. Muitos dos seus poemas foram traduzidos para o inglês, já que eram escritos na língua escocesa,  isto é, ele escreveu sua poesia em scots e alguns em inglês. Um poeta que valorizava a sua própria cultura a começar pela linguagem. Ele tinha esse orgulho em escrever no dialeto da sua Ayrshire.

A obra de Burns é composta por 559 poemas e canções que foram espalhadas, apreciadas, recitadas e cantadas por mais de 200 anos. Sua obra atemporal ecoa por todo o mundo, influenciando e inspirando gerações de todas as nacionalidades. De sua obra “To a Mouse, on Turning Her Up in Her Nest with the Plough”, o escritor estadunidense John Steinbeck retirou o título de seu livro Ratos e Homens, de 1937. Seus trabalhos mais famosos e conhecidos são: Auld Lang Syne, Ae Fond Kiss, Scots Wha Hae, A Red, Red Rose, A Man’s a Man for A ‘That e Tam o’ Shanter.

Escoceses Que (Scots Wha Hae) 

Escoceses, que com Wallace sangraram
Escoceses, que o nobre Bruce apoiaram
Bem-vindos ao que desejaram
Cair ou vencer!

O dia de hoje não é nada amistoso
À frente um combate tempestuoso
De onde brada Edward, orgulhoso
A correntes nos prender!

Qual traidor que ocuparia
A cova rasa da covardia?
Quem ser escravo aceitaria?
Façamo-lo retroceder!

Quem erguerá a espada
Pela Lei e pela terra amada?
A liberdade será a morada
Que juntos iremos erguer!

Pela opressão e todo sofrimento
Por nossos filhos em tormento
Juntos lutemos, deste momento
Ao suspiro final de nosso ser!

Ponhamos o usurpador a correr
E à tirania, meia-volta volver
Pela liberdade não vamos ceder
É matar ou morrer!

 

Burns Night

Burns Night marca o aniversário do nascimento de Robert Burns em 25 de janeiro de cada ano.  E na Escócia é comemorada a vida do bardo (poeta) Robert Burns, que nasceu em 25 de janeiro de 1759. O dia também comemora o contributo de Burns para a cultura escocesa. Seu trabalho mais conhecido é Auld Lang Syne .

Em julho de 1801 nove amigos de Burns marcaram uma reunião no quinto aniversário da morte do Poeta. A noite incluiu uma boa refeição, uma performance da poesia de Burns e não faltou um discurso para homenagear o grande Bardo. E como foi um sucesso essa comemoração, decidiram mantê-la só que as homenagens seriam feitas no aniversário do Poeta que é 25 de Janeiro. Desde então, virou uma tradição na Escócia e no mundo.

Na Burns Night tem a conhecida Ceia Burns, um evento noturno onde celebra a vida e o trabalho de Robert Burns. Um banquete onde a refeição principal é servida, depois a sobremesa. Após a refeição iniciam os ritos do tributo, brindes, etc e o recital se inicia. Seus poemas e canções são recitados e feitas homenagens ao grande Poeta. Para terminar a noite há os agradecimentos e todos em pé, cruzando os braços e juntando as mãos, cantam Auld Lang Syne.

A refeição, os brindes e o recital, formam o ponto principal das festividades, mas muitos gostam de se aprofundar no seu trabalho, beber whisky, participar de danças escocesas e tocar a bagpipa. Enfim, é muita diversão.

“Robert Burns  é considerado autor de Auld Lang Syne, mas é provável que tenha se baseado numa música escocesa mais antiga. Ele foi a primeira pessoa a escrever a música e, no final do século XVIII, enviou-a para publicação em um livro de velhas músicas escocesas dizendo “eu tirei de um velho”.”.

A famosa melodia é cantada não só na noite de Burns, mas também durante as celebrações de Ano Novo.  Auld Lang Syne traduz-se como “antigo há muito tempo” ou “dias passados”. Faz uma alusão aos “velhos tempos”. Ela é cantada no Ano Novo como uma forma de se lembrar do que já passou agora que desponta um novo ano.

Muito da sua obra, tanto poemas e canções se espalharam pelo mundo inteiro e Burns é cantado e recitado:

Como disse no início do texto, eu não o conhecia, mas depois é que fui me dar conta que conhecia e muito, pois como poderia esquecer a canção que sempre ouvi, desde criança, a “Valsa da Despedida” tão popular aqui no Brasil.

Sendo “A valsa da Despedida” bastante conhecida em português por ter ter sido objeto de uma versão, feita por Alberto Ribeiro e Braguinha (João de Barro), e que tornou-se uma canção muito popular.

 

Museu do Bardo

O local de nascimento do poeta escocês,  agora é um museu, que engloba a casa onde ele nasceu, os marcos famosos que inspiraram suas obras e uma grande coleção de seus escritos:

Robert Burns Birthplace Museum
Murdoch’s Lone, Alloway, Ayr

 

“A importância de Burns para a formação do sentimento nacionalista escocês é inegável. Como um típico escocês orgulhoso e teimoso, ele desafiava as instituições políticas ou qualquer um que o afrontava, ironizava sua comunidade, ao mesmo tempo em que exaltava as belezas e qualidades de seu país. Como um intelectual, ele foi um forte formador de opiniões (sua imagem de “fazendeiro rústico instruído por Deus” é um mito romântico que está longe da verdade: ele era um fazendeiro pobre, de fato, mas desde a infância recebeu a melhor educação que seu pai pode fornecer; e além de seus ídolos literários escoceses, ele era leitor de Shakespeare, Pope e alguns escritores franceses, e era conhecido por sempre andar com um livro debaixo do braço para onde fosse). De uma forma geral, o sentimento nacionalista de Robert Burns no final do século XVIII é correspondente ao sentimento de um povo que observava a situação da Escócia, sendo política e culturalmente engolfada pela Inglaterra, estava apto à chegada do progresso econômico, mas que paradoxalmente temia uma eventual extinção de todas as tradições e particularidades da identidade escocesa. Caso Burns tivesse vivido além dos seus 37 anos, e testemunhado a eclosão do nacionalismo por todo o ocidente no século XIX, ele poderia vir a ser o “Bardo Nacional” não da Escócia, mas do mundo.”. (Bruno de Sá Ferreira)

 

Fontes:

http://www.robertburns.org/works/462.shtml

http://brasilescola.uol.com.br/biografia/robert-burns.htm

https://viciodapoesia.com/tag/robert-burns/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Burns

http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno12-01.html

 

Para conhecer algumas canções, clique no link abaixo:

https://www.vagalume.com.br/robert-burns/

 

ANA (tradução de Jorge de Sena)

Aí vinho que ontem bebi
‘scondido numa choupana
quando em meu peito senti
os negros cabelos de Ana!
O judeu lá no deserto
que bebia o que Deus mana
não sabia o mel oferto
nos lábios ardentes de Ana!

Reis, tomai o Leste e o Oeste,
desde o Indo até o Savana,
mas dai ao corpo que as veste
as formas trementes de Ana!
Encantos desdenharei
de imperatriz ou sultana
pelo prazer que darei
e tomarei só com Ana.

Vai-te, faustoso deus diurno!
Vai-te, pálida Diana!
Suma-se o claror nocturno,
quando eu me encontro com Ana!
Venha a noite em negro manto!
Sol, Lua, Estrelas, deixai-nos!
Só com penas de anjo o encanto
direi dos gozos com Ana.

E segue-se o original:

THE BANKS OF BANNA (original)
Yestreen I had a pint o wine,
A place where body saw na;
Yestreen lay on this breast o’ mine
The gowden locks of Anna.
The hungry Jew in wilderness
Rejoicing o’er his manna
Was naething to my hiney bliss
Upon the lips of Anna.

Ye Monarchs take the East and West
Frae Indus to Savannah:
Gie me within my straining grasp
The melting form of Anna!
There I’ll despise Imperial charms,
While dying raptures in her arms,
I give an take wi Anna!

Awa, thou flaunting God of Day!
Awa, thou pale Diana!
Ilk Star, gae hide thy twinkling ray,
When I’m to meet my Anna!
Come, in thy raven plumage, Night
(Sun, Moon, and Stars, withdrawn a’,)
And bring an Angel-pen to write
My transports with my Anna!

POSTSCRIPT
The Kirk an State may join, an tell
To do sic things I maunna:
The Kirk an State may gae to Hell,
And I’ll gae to my Anna.
She is the sunshine o’ my e’e,
To live but her I canna:
Had I on earth but wishes three,
The first should be my Anna.

 

I LOVE MY JEAN (tradução de Luiz Cardim)

Anda alegria no vento
sempre que vem do sol-pôr:
lá donde vive a serrana
que me enfeitiçou d’amor…
Lá nos montes, pelas fontes,
pelos pinhais, vai sozinha…
A cada momento, o vento
me faz lembrar — Joaninha!

Vejo-a nas florinhas tenras,
que dá graça de as olhar;
ouço-a no trilo das aves
que põe bruxedo no ar:
a papoila que floresce
por entre a messe, ou a vinha,
o rouxinol que gorjeia,
só me dizem — Joaninha!

I LOVE MY JEAN (original)

Of all the airts the wind can blaw
I dearly like the west
For there the bonnie Lassie lives
The Lassie I love best
There’s wild-woods grow, and rivers row
And mony a hill between
But day and night my fancy’s flight
Is ever way my Jean

I see her in the Dewy flowers
I see her sweet and fair
I hear her in the tuneful birds
I hear her charm the air
There’s not a bonnie flower, that springs
By a fountain, shaw, or green
There’s not a bonnie bird that sings
But minds me o‚ my Jean

MY HEART IS SAKE FOR SOMEBODY… (tradução de Luiz Cardim)

Trago inquieto o coração
por alguém, que nem eu sei…
Quisera perder as noites
a pensar em alguém,
por amor dalguém,
aí, por amor dalguém!
Ir-me por todo esse mundo
por amor dalguém!

Santos ao amor fagueiros,
sorri docemente a alguém!
Livrai-o de todo o p’rigo;
e dai-me esse alguém,
trazei-me esse alguém
aí, trazei-me esse alguém!
Que eu… — que não farei eu
por amor dalguém?

MY HEART IS SAKE FOR SOMEBODY… (original)

My heart is sair, I dare na tell,
My heart is sair for Somebody;
I could wake a winter night
For the sake o’ Somebody.
Oh-hon! for Somebody!
Oh-hey! for Somebody!
I could range the world around,
For the sake o’ Somebody!

Ye Powers that smile on virtuous love,
O, sweetly smile on Somebody!
Frae ilka danger keep him free,
And send me safe my Somebody.
Oh-hon! for Somebody!
Oh-hey! for Somebody!
I wad do – what wad I not?
For the sake o’ Somebody!

MARY MORISON (tradução de Luiz Cardim)

Maria, assoma à janela:
chegou por fim o momento!
O teu sorriso empobrece
os oiros do avarento…
Até me fazia escravo
a moirejar noite e dia,
se como prémio tivesse
a minha doce Maria!

Ontem, ao som das violas,
a aldeia inteira bailava;
só eu, sem ouvir nem ver,
para ti, meu bem, voava…
Fossem loiras ou morenas,
nenhuma ali te vencia…
Eu, então, só me queixava
Não sois a minha Maria!

A quem por ti dera a vida,
vais, Maria, enlouquecer?
Ou rasgar-lhe o coração
sem culpa de bem-querer?
Se amor por amor não dás,
pena tem desta agonia…
Mal ficava ser cruel
à minha doce Maria!

MARY MORISON (original)

O Mary, at thy window be,
It is the wish’d, the trysted hour!
Those smiles and glances let me see,
That makes the miser’s treasure poor:
How blythely wad I bide the stoure,
A weary slave frae sun to sun,
Could I the rich reward secure,
The lovely Mary Morison.

Yestreen when to the trembling string
The dance gaed thro’ the lighted ha’
To thee my fancy took its wing,
I sat, but neither heard nor saw:
Tho’ this was fair, and that was braw,
And yon the toast of a’ the town,
I sigh’d, and said amang them a’,
“Ye are na Mary Morison.”

O Mary, canst thou wreck his peace,
Wha for thy sake wad gladly die?
Or canst thou break that heart of his,
Whase only faut is loving thee?
If love for love thou wilt na gie
At least be pity to me shown:
A thought ungentle canna be
The thought o’ Mary Morison.

E o famoso THE FORNICATOR  sem tradução:

THE FORNICATOR (original)

Ye jovial boys, who love the joys,
The blissful joys of lovers,
And dare avow wi’ dauntless brow,
Whate’er the lass discovers;
I pray draw near, and you shall hear,
And welcome in a frater,
I’ve lately been in quarantine,
A proven fornicator.
Before the congregation wide
I pass’d the muster fairly,
My handsome Betsy by my side,
We gat our ditty rarely.
My downcast eye, by chance did spy
What made my mouth to water,
Those limbs so clean, where I between,
Commenced a fornicator.
Wi’ ruefu’ face, and signs o’ grace,
I paid the buttock hire;
The night was dark, and thro’ the park,
I couldna but convoy her.
A parting kiss, what could I less ;
My vows began to scatter,
Sweet Betsy fell, fal, lal, de ral,
And I’m a fornicator.
But by the sun and moon I swear,
And I’ll fulfill ilk hair o’t,
That while I own a single crown,
She’s welcome to a share o’t.
My roguish boy, his mother’s joy,
And darling of his pater,
I for his sake, the name will take,
A hardened fornicator.

19-08-2017

Sobre Elizabeth Souza 408 Artigos
Elizabeth de Souza é coordenadora e editora do Portal Entrementes....

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