Madrugada dos mortos!
A afeição ainda resolverá os
Problemas da Liberdade;
Aqueles que se amam
Tornar-se-ão invencíveis.
Walt Whitman
Nesse sábado (30-05-2020), além das mortes pela pandemia que assola o planeta e no Brasil ainda no pico, mostrando que as mortes só aumentam, também começou uma nova fase da corrida espacial. A SpaceX junto com a Nasa lançam um foguete com dois astronautas. Foi lançado na Flórida, ao mesmo tempo em que se espalha por todo os EUA, um dos maiores protestos que temos notícia. O país inteiro em polvorosa, pegando fogo literalmente, chegando ao ponto daquele grupo de hackers, o Anonymous, se manifestar. Nessa madrugada, o grupo no Twitter, ameaçando o governo americano se não parar de agredir os manifestantes. Depois da morte de um negro, ao vivo, por um policial branco, que causou revolta em Minneapolis, desencadeou um grande protesto por todo país.
E no Brasil, onde ficamos passivos assistindo algumas poucas pessoas latinas, morenas, descendentes de brancos, índios e negros, agindo como se fossem supremacistas brancos. E ainda a divulgação de gestos simbólicos de tomar leite, como uma onda perversa. Como disse um dos protagonistas desse gesto: “entendedores entenderão”!” Sim, o recado foi dado e causa indigestão.
Mas, neste planeta que não é plano, ainda podemos desfrutar de poesia, a mais alta percepção do sentimento profundamente humano. Poesia carregada de sensibilidade que nos diferencia dos monstros. Esses, que habitam a terra plana e avançam para nossa tridimensionalidade de forma vil e injusta, achando que são donos do pedaço. É urgente expulsar os monstros de nós mesmo, aqui e agora. E vamos curtir poesia, essa donzela que traz o humano que nos habita.
Walt Whitman (Huntington, 31 de maio de 1819 – Camden, 26 de março de 1892)
Walt Whitman é considerado um dos maiores poetas dos EUA e como não deveria deixar de ser, o maior de toda a literatura moderna ocidental. Ele na verdade é considerado o inventor do verso livre, dando grande ênfase a sexualidade, o que escandalizou o seu tempo. Neste dia em que os EUA vive um momento de repulsa ao racismo, bom lembrar de Walt Whitman e sua relação apaixonada com a democracia, defensor de ideais libertários e do direito das mulheres. Ele denunciava o racismo e os horrores da guerra civil, ocorrida antes do seu nascimento. Mas Whitman e sua poesia vai muito além disso, possui um caráter de celebração, bem diferente dos poetas da sua época, que eram bem angustiados. Ele sempre parece feliz com tudo a sua volta.
Vamos celebrar a POESIA!
Elizabeth de Souza
*Em tempo: Nesse momento, um confronto entre a polícia e as torcidas organizadas, na Av Paulista. O pessoal está cansando de fascistóides…Basta né!
Delicie-se com alguns poemas de Walt Whitman:
Aproveita o dia (Walt Whitman) – Carpe Diem
Aproveita o dia,
Não deixes que termine sem teres crescido um pouco.
Sem teres sido feliz, sem teres alimentado teus sonhos.
Não te deixes vencer pelo desalento.
Não permitas que alguém te negue o direito de expressar-te, que é quase um dever.
Não abandones tua ânsia de fazer de tua vida algo extraordinário.
Não deixes de crer que as palavras e as poesias sim podem mudar o mundo.
Porque passe o que passar, nossa essência continuará intacta.
Somos seres humanos cheios de paixão.
A vida é deserto e oásis.
Nos derruba, nos lastima, nos ensina, nos converte em protagonistas de nossa própria história.
Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua, tu podes trocar uma estrofe.
Não deixes nunca de sonhar, porque só nos sonhos pode ser livre o homem.
Não caias no pior dos erros: o silêncio.
A maioria vive num silêncio espantoso. Não te resignes, e nem fujas.
Valorize a beleza das coisas simples, se pode fazer poesia bela, sobre as pequenas coisas.
Não atraiçoes tuas crenças.
Todos necessitamos de aceitação, mas não podemos remar contra nós mesmos.
Isso transforma a vida em um inferno.
Desfruta o pânico que provoca ter a vida toda a diante.
Procures vivê-la intensamente sem mediocridades.
Pensa que em ti está o futuro, e encara a tarefa com orgulho e sem medo.
Aprendes com quem pode ensinar-te as experiências daqueles que nos precederam.
Não permitas que a vida se passe sem teres vivido…
Escuto a América a Cantar
Escuto a América a cantar, as várias canções que escuto;
O cantar dos mecânicos – cada um com sua canção, como deve ser, forte e contente;
O carpinteiro cantando a sua, enquanto mede a tábua ou viga,
O pedreiro cantando a sua, enquanto se prepara para o trabalho ou termina o trabalho;
O barqueiro cantando o que pertence a ele em seu barco – o assistente cantando no deque do navio a vapor;
O sapateiro cantando sentado em seu banco – o chapeleiro cantando de pé;
O cantar do lenhador – o jovem lavrador, em seu rumo pela manhã, ou no intervalo do almoço, ou ao por-do-sol;
O delicioso cantar da mãe – ou da jovem esposa ao trabalho – ou da menina costurando ou lavando – cada uma cantando o que lhe pertence, e a ninguém mais;
O dia, ao que pertence ao dia – De noite, o grupo de jovens, robustos, amigáveis,
Cantando, de bocas abertas, suas fortes melodiosas canções.
I Hear America Singing
I hear America singing, the varied carols I hear;
Those of mechanics—each one singing his, as it should be, blithe and strong;
The carpenter singing his, as he measures his plank or beam,
The mason singing his, as he makes ready for work, or leaves off work;
The boatman singing what belongs to him in his boat—the deckhand singing on the steamboat deck;
The shoemaker singing as he sits on his bench—the hatter singing as he stands;
The wood-cutter’s song—the ploughboy’s, on his way in the morning, or at the noon intermission, or at sundown;
The delicious singing of the mother—or of the young wife at work—or of the girl sewing or washing—Each singing what belongs to her, and to none else;
The day what belongs to the day—At night, the party of young fellows, robust, friendly,
Singing, with open mouths, their strong melodious songs.
Oh Capitão! Meu capitão! nossa viagem medonha terminou;
O navio tem resistido cada tortura, o prêmio que perseguimos foi ganho;
O porto está próximo, ouço os sinos, o povo todo exulta,
Enquanto seguem com o olhar o firme navio , o barco raivoso e audaz:
Mas ó coração! coração! coração!
Oh gotas sangrentas de vermelho,
No tombadilho onde jaz meu capitão,
Caído, frio, morto.
Oh Capitão! Meu capitão! levanta-te e ouça os sinos;
Levanta-te, para você a bandeira tremula -para você tocam os clarins;
Por você buquês e grinaldas listrados, para você nas margens há uma multidão;
Por você que eles chamam, a massa balançando, de faces ansiosas;
Aqui capitão! querido pai!
Este braço sob sua cabeça;
É um sonho que no tombadilho,
Você caiu frio e morto.
O meu capitão não responde, seus lábios estão pálidos e silenciosos;
Meu pai não sente meu braço, ele não tem pulsação ou vontade;
O navio está ancorado são e salvo, a sua viagem terminada e completa;
De uma horrível travessia o vitorioso barco vem com o almejado prêmio;
Exulta, ó praias, e anel, oh sinos!
Mas eu com passos desolados,
Ando pelo tombadilho onde jaz meu capitão,
Caído, frio, morto.
Milagres
Ora, quem acha que um milagre é alguma coisa de especial?
Por mim, de nada sei que não sejam milagres:
ou ande eu pelas ruas de Manhattan,
ou erga a vista sobre os telhados
na direcção do céu,
ou pise com os pés descalços
bem na franja das águas pela praia,
ou fale durante o dia com uma pessoa a quem amo,
ou vá de noite para a cama com uma pessoa a quem
/amo,
ou à mesa tome assento para jantar com os outros,
ou olhe os desconhecidos na carruagem
de frente para mim,
ou siga as abelhas atarefadas
junto à colmeia antes do meio-dia de verão
ou animais pastando na campina
ou passarinhos ou a maravilha dos insectos no ar,
ou a maravilha de um pôr-de-sol
ou das estrelas cintilando tão quietas e brilhantes,
ou o estranho contorno delicado e leve
da lua nova na primavera,
essas e outras coisas, uma e todas
— para mim são milagres,
umas ligadas às outras
ainda que cada uma bem distinta
e no seu próprio lugar.
Cada momento de luz ou de treva
é para mim um milagre,
milagre cada polegada cúbica de espaço,
cada metro quadrado da superfície da terra
por milagre se estende, cada pé
do interior está apinhado de milagres.
O mar é para mim um milagre sem fim:
os peixes nadando, as pedras,
o movimento das ondas,
os navios que vão com homens dentro
— existirão milagres mais estranhos?
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