K-Pop é a febre do século XXI?

K-Pop é a febre do século XXI?

Dedicado a minha querida Isis!

Valham-me os deuses! Ouvir esse ritmo e ver uma coreografia super sincronizada, cores vibrantes, meninas e meninos que parecem saídos daqueles filmes de androides, dentro de casa, com minha neta fazendo a coreografia perfeitamente, é de ficar de bobeira.

No começo me dava agonia, depois fui ouvir e ver melhor para entender a coisa, aí a gente vai se acostumando com a ideia de que a sua neta gostar dessa nova onda coreana é melhor do que ela gostar de sertanojo. Ainda bem que ela já ouviu muito Mozart e Chopin pra dormir e está aprendendo a tocar os Beatles no teclado, com o pai. Ufa!

Com o tempo fui tentando entender a trajetória desse ritmo da Coreia do Sul e li algumas notícias de que este país investe pesado em cultura e no caso no K-Pop, apoiando a divulgação para o mundo. É uma febre mundial! Vejo que as letras, os cantores e grupos, são despretensiosos e não tem nenhuma pegada insurgente, rebelde ou afrontosa que possa atrair os progressistas ou retrair os conservadores. Com essa pegada leve e colorida, eles deslizam fácil por entre as camadas de jovens e até de adultos, pois não oferecem nenhuma ameaça aparente, como os roqueiros, metaleiros e os punks de nossas gerações analógicas, que se abriam para o inusitado e o desregrado, através de suas roupas, cabelos, símbolos e atitudes rebeldes.

Imagem do site: https://aminoapps.com/c/kpoppt/page/blog/

Acontece algo extraordinário em torno dessa nova febre:

– Esse ritmo do K-Pop carrega uma multidão de fãs e são devotados ao extremo;

– Esse povo todo usa os meios digitais para divulgação da sua arte, movimentando muito dinheiro. Gostando ou não ela está aí e bem forte, atingindo o maior número de jovens de todo o planeta, que usam a tecnologia. Estão antenados, conectados e interligados;

– Sem querer querendo, essa febre do K-Pop e a multidão de fãs fazem coisas muito mais abrangentes do que uma insurgência real, com a vantagem que não são ameaçadores e não são atacados.

Apenas para começo de conversa, espalhou-se notícias sobre os fãs do K-Pop, usuários do TikTok meio que foram os responsáveis pelo esvaziamento de público num comício organizado pelo governo Trump, o que causou muita raiva, a ponto dele agora ficar inventando muitas histórias para eliminar o tik tok do país. Isso é uma demonstração gigantesca de força, que causou danos àquele que se acha o dono do mundo. “Acho” que nem uma manifestação poderia ser tão eficiente comparada a um ato desse nível. É uma ação sem danos colaterais, característico de uma manifestação, como sempre assistimos.

Instagram/Divulgação/Reprodução 

 

Com o movimento do #BlackLivesMatter, o BTS (o mais famoso grupo de K-Pop) e outros nomes (BTS, Monsta X e ATEEZ) se pronunciaram sobre o movimento e engajaram uma multidão de fãs, em ações antirracistas nas redes sociais.

Mas não ficam só nisso – os fãs do K-Pop se organizaram no dia 31 de maio, no Twitter, para derrubar um aplicativo criado pela polícia, com o objetivo de identificar possíveis ações de ativistas no movimento #BlackLivesMatter, através de denúncias anônimas. Quando a polícia publicou esse chamado para que as pessoas denunciassem, através do celular, não demorou para que os fancams dominassem as postagens, para boicotar (Os fancams são utilizados para divulgar os artistas). E assim, ao invés de enviarem imagens dos protestos, começaram a enviar esses vídeos curtos dos cantores e tudo foi feito de uma maneira tão intensa e coordenada, que sobrecarregou o aplicativo e foram obrigados a tirar do ar.

No dia 2 de junho subiu a tag #BlackoutTuesday e com essa manifestação virtual, grandes nomes do K-Pop (PSY, HyunA, Dawn, BoA, Wonho, Amber e Jessi, etc) se manifestaram e se posicionaram, assim como se posicionaram para acabar com manifestações de supremacistas brancos que se colocaram na rede para divulgar sua ideologia e foram abafados com spam de fancams e imagens dos ídolos do K-Pop.

Os fandoms (fãs dos grupos são diferenciados por nomes, que compartilham amizade e empatia) do K-Pop, já se manifestaram em várias causas sociais, até arrecadar dinheiro para o combate do corona-vírus. E pelo visto, a Coreia, através de suas agências culturais e artistas que exportam essa cultura, considera que é preciso apoiar essas causas humanitárias e sociais e não ficar alheios as necessidades crescentes de um mundo globalizado. Nesse momento, no mundo e especialmente no Brasil cresce a necessidade urgente de resgatar valores como a importância da vida e das pessoas. Afinal a sociedade e o estado precisam cuidar dos seus cidadãos e protege-los, oferecendo uma vida mais saudável e segura; e isso vem de encontro com a cultura pop dos coreanos, que pregam suas ideias de amor, amizade, fraternidade universal  e empatia em suas letras, músicas e dança.

Imagem do site: https://becausekpop.wordpress.com/

Essa nova geração, com esse ritmo que atrai, faz todo um trabalho ligado a tecnologia que alcança o planeta inteiro e mobiliza jovens ligados ao processo da vida dos indivíduos, acerca da sua afetividade, problemas emocionais, amor, liberdade de expressão e busca por um mundo mais humano, uso da tecnologia e a necessidade de compreender os seus papeis nesse mundo tão complicado. É claro que toda essa tecnologia faz surgir algo nefasto que está prejudicando muita gente, que é a cultura do cancelamento, em decorrência de atitudes em massa (de bots e humanos) usadas nas redes sociais, muito semelhantes às ações dos fandoms nas causas sociais e humanitárias. A cultura do cancelamento provoca surtos, depressão e até suicídio.

É melhor se despir dos preconceitos e aceitar que o K-Pop (é o que temos pra hoje) está fazendo aquilo que nos anos 60, 70, 80, e 90, os artistas fizeram brilhantemente. Nas gerações passadas surgiram artistas que revolucionaram as ideias e transformaram a sociedade e as pessoas. Esses artistas estão hoje, com os cabelos brancos e é preciso novos ocupantes desse lugar, de forma real. Nós, os analógicos, devemos ceder espaço e dar credibilidade para uma geração tecnológica que pode fazer muita diferença, sem tanta pretensão. O mundo está mudando, para o bem ou para o mal, tudo muda.

Isso é pouco?  É muito!

Elizabeth de Souza

(Uma breve observação: O grupo de K-Pop o BTS significa garotos à prova de bala e seu fandom é o Army, que significa, exército. Vai vendo…)

Sobre Elizabeth Souza 408 Artigos
Elizabeth de Souza é coordenadora e editora do Portal Entrementes....

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*