Estúpida realidade!
Algumas pessoas, quando racionalmente decidem frear suas emoções, seus instintos e seus desejos secretos, ficam desviando o foco para o outro lado. Quer dizer, para o lado oposto daquilo que estão sentindo, quando o que pensam e sentem, não convêm. É como gostar de doce e começar a comer os salgados, os azedos e os ácidos, para desviar-se do desejo e da vontade de se esbaldar.
Ai está o meu mal, nunca tive essa pretensão de desviar meus desejos, os meus instintos e as minhas vontades, nem mesmo os “secretos e duvidosos”, porque acho covardia da minha parte, fazer isso. Se quero eliminar um desejo definitivamente, devo experimentá-lo até a exaustão e naturalmente ele se vai. Nesse mundo desconexo, sabemos que nada perdura nesse eterno permanente. Tudo é fugaz, tudo passa e só insistimos que não, porque não temos coragem de enfrentar essa estúpida realidade.
Estou falando disso, porque dias atrás, estava eu com uma ideia fixa na cabeça, uma espécie de obsessão. Uma pequena obsessão, como diria Zeca Baleiro. E precisava tirar esse martelo do meu cérebro. Ai, covardemente saí de casa e fui fazer um monte de coisas, ao contrário daquele lance da minha cabeça. Realmente funciona, pois o desvio de foco nos leva a outras possibilidades. A obsessão desapareceu e passei um dia inteiro sem aquilo na cabeça. Mas quando voltei para casa, ao normal, toda a obsessão voltou. Logo, esse desvio de foco só funciona temporariamente, um placebo. Eliminar a obsessão seria o mais correto, penso eu. Então né? Acredito que só a experimentando até a exaustão, consigo eliminá-la definitivamente.
Nessa, lembrei de Lutero e Calvino que jogavam umas frases de efeito para o seu gado, digo, para seus seguidores: “Cabeça vazia, oficina do diabo”. Prefiro a frase do historiador Carlito Neto, quando diz que cabeça vazia é oficina para aquele “coiso” que não consigo nem pronunciar o nome.
A cabeça vazia tem uma infinidade de possibilidades, mas tem uma outra frase que completa bem essa, que é “Deus ajuda quem cedo madruga”, também de um desses dois citados acima, dando início a uma vida de trabalho interminável para regar o nascimento do capitalismo, no mundo. E que vem até hoje, atormentando a vida dos seres humanos na sua escravidão e também a cabeça dos que abominam o vazio. Esse vazio iluminador!
Esse processo de desviar o foco das coisas é como preencher a cabeça vazia com alguma coisa, para não dar espaço para nossas reflexões e pequenas obsessões. Desvia-se o foco para o trabalho…trabalha-se, trabalha-se, trabalha-se. Nos momentos de labuta, não sobra vazio nenhum na sua mente. Ela é toda preenchida, covardemente, para não deixar nenhum espaço para pensar em “outras coisas”, que seria do diabo.
E nas Teorias do Mundo de Beth, os seres humanos deveriam trabalhar para sobreviver somente duas horas por dia, assim ter tempo suficiente para o VAZIO e aquela oficina do diabo, como diz o ditado que agora é popular.
Eu continuo insistindo no VAZIO ILUMINADOR, mesmo que não elimine a dor.
Elizabeth de Souza
28-04-2021
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