A Leitura como hábito “subversivo”

 

A Leitura como hábito “subversivo”

 

O título me ocorreu depois de ler matéria publicada em edição recente do jornal O Estado de S.Paulo. Trata-se de um artigo de A.O Scott, jornalista e crítico literário, no The New York Times.
Segundo o articulista, nos EUA políticos republicanos e conservadores estão pressionando escolas e bibliotecas a retirar livros das salas de aula, a pretexto de proteger crianças e adolescentes de ideias supostamente esquerdistas sobre raça, gênero, sexualidade e história.
Isso já não surpreende tanto. Os Estados unidos são um país defensor dos valores da democracia e liberdade de expressão. Mas, ao mesmo tempo não deixa de ser mais conservador do que se possa imaginar. É contraditório, porém é a realidade.
O articulista pergunta: “Afinal, o que é ler”? “Para que serve”? “Por que é algo com que se preocupar”?
São perguntas pertinentes e as respostas podem ser muito esclarecedoras.
Na história do Brasil, durante a vigência de governos autoritários, houve censura à imprensa, a livros, à livre expressão das pessoas de um modo geral. O simples questionamento do “status quo”, ou algo equivalente, era considerado subversão.
Na Europa Ocidental, a transição de uma sociedade oral para uma sociedade letrada só começou no início da Idade Média. Contudo, era privilégio do clero e da nobreza. Séculos depois, com o surgimento da prensa de Gutemberg, os demais foram gradativamente incluídos. Para não fugir à regra, reações contraditórias sempre existiram. Nos séculos XVIII e XIX , a preocupação era com o risco de que os jovens lessem demais e isso influenciasse sua forma de pensar, convertendo-os em seres questionadores. Hoje em dia é comum pais e professores queixarem-se da falta de gosto pela leitura entre os jovens.
Desde muito tempo há uma preocupação com o poder transformador da leitura, quando deveria ser o contrário. Somente em sociedades conservadoras e autoritárias isso pode acontecer. Segundo o filósofo Bernard Mandeville, ler, escrever e contar eram nocivos às pessoas pobres, porque a educação poderia gerar inquietação e descontentamento.
No século XIX, no sul dos Estados Unidos, a legislação não permitia a alfabetização de pessoas escravizadas. Significa que a transição da escravidão para a liberdade passava pela palavra impressa, pois educação e cativeiro são incompatíveis entre si.
Mas, as reações às formas de conservadorismo autoritário, também não deixam de ser contraditórias. No século XX não foram poucos os governos ditos revolucionários que instituíram programas de alfabetização massiva, mas tempos depois passaram a censurar e proibir livros, prender escritores e substituir literatura por propaganda política.
Então, como a leitura pode aguçar o senso crítico, melhorar a capacidade de argumentação, estimular a criatividade, além de abrir novas visões de mundo, ler será sempre um hábito subversivo.

Por Gilberto Silos

Sobre Gilberto Silos 225 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

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