“Diga-me adeus” tenta desmistificar o tabu da morte
Documentário sobre cuidados paliativos, escrito e dirigido por Nahara Rech Alves, trata da questão da finitude a partir do ponto de vista da vida
A certeza de que vamos morrer é talvez a linha mais sólida que nos une enquanto espécie. Aliás, não só os seres humanos: se podemos afirmar algo sobre todo e qualquer ser vivo neste planeta é que sua existência, um dia, terá um fim. Essa característica tão essencial, no entanto, é um tabu dos mais fortes que existem – evitamos falar na morte a todo custo, pelas mais diversas razões alegadas. Oras, se a única coisa que sabemos com 100% de segurança é que vamos morrer, por que é que não se fala abertamente sobre isso?
Foi a partir dessa questão e seus desdobramentos que nasceu o longa-metragem Diga-me adeus (“Tell Me Goodbye”), escrito e dirigido por Nahara Rech Alves. O documentário traça um retrato do universo dos cuidados paliativos, prática que visa buscar o máximo conforto e bem-estar para pacientes com doenças que ameacem a continuidade da vida. A ideia é expandir os limites da medicina para além da busca – muitas vezes impossível – de uma enfermidade, buscando também eliminar o sofrimento físico, emocional e psíquico de pessoas que se aproximam do fim de suas existências.
O filme acompanha a rotina de profissionais que trabalham diretamente com cuidados paliativos e propõe uma discussão antropológica e filosófica sobre o tema “morte”, a partir do ponto de vista de pessoas comuns. Esse é um ramo da medicina que ganha cada vez mais espaço, à medida que a expectativa de vida da espécie humana não para de crescer. Se por um lado há grande avanço nas formas de prolongar a existência, estas não são propriamente acompanhadas por uma preocupação com as condições em que esta vida, alongada, se dá.
É a partir deste cenário que o filme coloca sua questão central: por que evitamos falar sobre a única parte da vida que temos certeza absoluta que não podemos evitar? E, de um ponto de vista mais pragmático, por que ignoramos uma cultura de prevenção, optando antes por uma cultura de tentativa desesperada de reverter o irreversível?
Com isso, o documentário também busca levar adiante a mensagem de que os cuidados paliativos podem – e devem – ser aplicados não apenas aos pacientes que estão em seus últimos dias ou em quadros irreversíveis. Todos nós podemos trazer para o nosso dia-a-dia muitos dos princípios da medicina paliativa como padrão, rompendo com a lógica do “remediar” e priorizando a prevenção.
O filme se encontra em estágio de pós-produção. Entre os entrevistados estão expoentes da causa da medicina paliativa e cuidados humanizados, como o músico Andreas Kisser, a advogada e professora Luciana Dadalto, o enfermeiro Alexandre Silva (coordenador da Comunidade Compassiva) e o médico Rodrigo Kappel Castilho.
“Diga-me adeus” é uma co-produção Lazuli Filmes e Druzina Content. Dirigido por Nahara Rech Alves, o projeto foi escrito por ela em parceria com Amanda Ruano, que também é responsável pela produção executiva, ao lado de Luciana Druzina. O filme foi contemplado no Edital SEDAC n° 01/2022 FAC Filma RS, iniciativa do governo do Rio Grande do Sul de incentivo à produção audiovisual.
“Muitas vezes nós da equipe nos emocionamos durante as filmagens. É um assunto que mexe muito com a gente, ouvindo os entrevistados era inevitável pensar em situações que todos nós já vivemos”, afirma a produtora executiva Amanda Ruano, CEO da Lazuli Filmes. “Mas a nossa ideia não era fazer um filme triste, mas sim algo leve e acolhedor. Nossa vontade é fazer com que as pessoas conversem mais sobre a morte e sobre a perda, esses processos naturais da vida, com naturalidade.”
Ela destaca que a sensação da equipe de que este é um assunto que está ganhando muita importância. “A gente percebeu que muita gente já pratica empiricamente muitos dos princípios dos cuidados paliativos sem necessariamente saber o que essa expressão significa”, diz. “Acho que conseguimos fazer um filme bem multidisciplinar, que transcende a dimensão puramente médica da questão.”
Para saber mais sobre a Druzina Content e suas produções, acesse https://www.druzinacontent.com.br/.
Bartira Betini
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