Django Reinhardt e o Jazz Manouche
E lá estava eu na cadeira, com a boca aberta, só ouvindo o meu dentista (nem sabia que ele é músico) falar da vida de Django Reinhartdt e sobre o Jazz Manouche ou Gypsy Jazz.
E foi assim que conheci Django Reinhartdt, que sinceramente, nunca ouvi e nem mesmo sabia algo de sua vida. Mas fiquei assombrada diante do fato, de que ele era um cigano, esse povo nômade com o qual me identifico tanto.
Na cidade onde nasci, lá para as bandas do norte do Paraná, de vez em quando aparecia uma caravana de ciganos, que armavam suas barracas em algum terreno vazio da cidade. E era motivo de festa e alegria pra mim, ver algo inusitado acontecer naquela cidade sem nada de novo. E aqueles carrões potentes dos ciganos (eu considerava), os cavalos maravilhosos, as mulheres tão lindas com suas roupas esvoaçantes, seus colares dourados, seus lenços coloridos e suas cartas na manga. As cartas, ah cartas, aquelas que sempre me fascinaram. E liam as mãos e achava incrível como elas conseguiam decifrar esse mapa tão orgânico. E as minhas colegas de escola, não queriam passar na rua onde os ciganos montavam suas barracas, tinham medo de serem raptadas por eles, uma lenda que corria de lábios a ouvidos. Mas, eu nunca tive medo e sentia inveja daquela vida nômade, morando numa barraca e viajando pelo mundo. Eu pensava que quando fosse adulta, também iria correr o mundo, morar numa barraca e ouvir a música cigana todas as noites ao pé de uma fogueira ardente…E só “fazer amor como belo zíngaro” (trecho de um poema). Fazia questão de passar naquela rua e olhava com o canto dos olhos, todos os movimentos daquela tribo.
Depois de alguns anos fui morar em Londrina longe dos meus pais, onde não podia sair muito, mas ia à escola perto do centro da cidade. E num dia qualquer, ao voltar, avistei uma tribo cigana acampada ao lado do caminho que fazia a pé…dessa vez realizei o sonho e adentrar o acampamento e ir â barraca de uma das ciganas que me recebeu muito bem e contou muitas histórias e leu a minha mão…só não lembro qual foi a previsão, pouco importa, o mais legal foi sentir o prazer de estar naquele meio, que parecia tão meu.
Esse espírito cigano me guiou pelas trilhas das serras, dormindo em barracas e algumas vezes ao relento às beiras das cachoeiras, carregando só o necessário na minha mochila. E nas viagens pelas cidades de Minas Gerais, vendia meus poemas e imaginava fazer isso por toda a América Latina levando poesia – doce e terna ilusão.
Mas voltando a Django Reinhartdt, meu dentista me falou tudo sobre ele e sobre esse ritmo cigano de música, que ele mesmo toca, pois existem festivais pelo Brasil afora que homenageiam esse talentoso guitarrista e a sua criação espetacular. Não vou contar tudo que ouvi na cadeira, de boca aberta, mas vou deixar alguns links para que possam ler mais sobre o assunto e alguns vídeos fantásticos do próprio Django e de outros que o homenageiam.
Não sou do tipo que fica falando ou escrevendo sobre datas comemorativas, que pessoalmente nem me ligo, mas no dia do guitarrista lembrei-me da história tocante de Django Reinhardt.
Elizabeth de Souza
13-03-22
Vou partir
Num zás-trás
eu vou zarpar
num Zepelim
ou bombardino*.
Enfim chegar
em Zanzibar
virar um Bonzo
ou então zumbi.
Atravessar
o tal Zodíaco
junto com Zéfiro
puxar cabelo
da Berenice.
Bem que eu disse:
A minha sina
é um zanzar
pelo espaço afora
fazer amor
com belo Zíngaro
zombar feliz
do deus guerreiro
enfim sair
desse zum-zum.
Cerzir um zefir
cor de rosa
cobrir a alma
e num só clarão
poder luzir.
(Elizabeth de Souza)
*de bombarda
Para saber mais:
https://musicosmos.com.br/a-historia-de-django-reinhardt-e-o-jazz-manouche/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Gypsy_jazz
E aqui, o meu dentista tocando:
Bela crônica, vou ouvir.
Obrigada Joka!
Você vai gostar, escute sim…
Abraço!
Beth, adorei tudo.
A crônica, o poema e a história de Django.
Já ouvi algumas músicas.
Luzia minha amiga, muito obrigada!
Uma bela e trágica história de vida do Django, no entanto, um exemplo de força para mudar o próprio destino.
São lindas as músicas dele, não é mesmo?
Abraço!