Nesta democracia, nos cabe o silêncio

 

Nesta democracia, nos cabe o silêncio

Joka Faria

As redes sociais e a comunicação entre elas estão revelando uma dinâmica de ódio, não de paz. Pontes são destruídas, como na catástrofe do Rio Grande do Sul, ou explodem em conflitos virtuais. A utopia de construir sociedades através das redes sociais se desvanece, revelando um lado sombrio e desumanizado, questionando nossa própria solidariedade. Esta reflexão pode ser ignorada por muitos, a menos que se torne um roteiro de vídeo, mas talvez seja mais saudável que poucos nos leiam. Será que alguém realmente nos lê?

A violência e o ódio disseminados nas redes sociais podem rapidamente se transformar em violência física. Muitas pessoas em todo o mundo perdem suas contas, levantando teorias sobre a possível queda da internet. Voltaríamos à era das televisões e rádios, trazendo consigo caos econômico e desemprego.

O que podemos fazer para nos preservar? Talvez começar a ficar em silêncio e observar o desenrolar dos acontecimentos. Qualquer ação, por mais bem-intencionada que seja, pode nos levar a um pelotão de fuzilamento. Quantos poetas foram mortos ao longo da história? Frederico Garcia Lorca, Sócrates. Recentemente, o filósofo Paulo Ghiraldelli perdeu um canal no YouTube com milhões de seguidores.

A democracia é realmente para todos ou apenas para alguns nas periferias? A polícia invade casas e mata sem hesitar. O crime organizado se infiltra nas periferias e no poder institucional. Guerras e desastres climáticos se espalham, de Gaza à Ucrânia, passando pelo Rio Grande do Sul.

Acho que vou dedicar minhas redes sociais à poesia e usar códigos na escrita e nos vídeos. Em um mundo onde tudo gera reações extremas, talvez apenas a solidão e o isolamento sejam adequados. Eu, que nunca deixei de me expressar, devo agora aprender o valor do silêncio e o uso das entrelinhas.

Como transformar uma sociedade onde a democracia se resume apenas ao direito de votar, enquanto a participação cidadã é castrada, atacada e silenciada? Nesta democracia, nos cabe o silêncio. E em meio a isso, uma reação bem articulada entre poucos pode buscar o retorno aos encontros presenciais, como uma forma de sobreviver e articular-se neste caos.

João Carlos Faria

12 de Maio de 2024, Domingo

 

 

 

 

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