Onde você estava?

 

Onde você estava?

Foi essa a pergunta feita aos entrevistados do canal de vídeo Tutameia pelos entrevistadores Eleonora e Rodolfo Lucena. O tema era o sexagésimo aniversário do golpe militar de 1964. Os entrevistados relatavam onde se encontravam e como vivenciaram os acontecimentos de 31 de março de 1964.
Nos Estados Unidos é comum as pessoas se perguntarem onde estavam em 11 de setembro de 2001, dia do ataque terrorista às torres gêmeas em Nova Iorque.
Estamos nos referindo a perguntas sobre datas marcantes. Muitas delas traumatizantes, cujo desfecho teve desdobramentos que acabaram mudando alguma coisa na vida do país. Como a efeméride tornou-se referência de algum fato relevante, é comum as pessoas se lembrarem de algo que lhes ocorreu naquele momento.
Lembro-me daquela manhã fria de agosto de 1954, na pequena cidade de Casa Branca. Era o dia 24. Eu, com 13 anos, me encontrava na sala fazendo a tarefa da escola. De repente vi meu avô materno entrar pela porta com lágrimas nos olhos. Ainda me é nítida a cena dele e minha mãe a se abraçar e chorar convulsivamente. As rádios já noticiavam. Naquela madrugada o presidente Getúlio Vargas suicidara-se com um tiro no peito. Impotente diante da crise política instalada no país e pressionado a renunciar pelos militares, Getúlio recorreu a um gesto extremo. “Deixou a vida para entrar na História” como ele mesmo declarou em sua última carta.
Exatos sete anos depois, 25 de agosto de 1961. Eu, com 20 anos de idade, residia em São Paulo. No final do expediente na empresa onde trabalhava, notei uma estranha e crescente agitação. O presidente Jânio Quadros acabara de renunciar ao seu mandato, decorridos apenas sete meses de sua posse. Num gesto tresloucado, bem ao seu estilo folclórico, “formalizou” sua renúncia num simples bilhete manuscrito. Oscar Pedroso Horta, ministro da Justiça, constrangidíssimo, entregou aquele bilhete ao presidente do Congresso. Na verdade, era uma manobra política de Jânio, uma tentativa de autogolpe frustrada. Ele confiava em demasia em sua popularidade e aprovação, consubstanciadas na esmagadora votação que tivera. Acreditava que o povo sairia às ruas exigindo sua volta, mas então com superpoderes, afrontando o Congresso. Ninguém se manifestou a seu favor. O povo só ocuparia as ruas no ano seguinte para receber a Seleção Brasileira, Bicampeã Mundial.
Na época, pensava com os meus botões: já foi tarde. E até hoje.
E você? Onde estava quando…?

Por Gilberto Silos

Sobre Gilberto Silos 225 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

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