AS PORTAS
As portas estavam fechadas
e levei algum tempo
para interpretá-las assim.
Na verdade essa tarefa
consumiu minha energia
e os meus olhos de ver e sentir
a cidade que se espraiava
(como um convite) até o horizonte.
Curioso era o mistério
de toda a cidade manter
as suas portas fechadas.
Passei toda a minha vida
ao pé destas portas indagando
por obra de quem, acaso e quando
elas se fecharam.
Não posso dizer que acreditava
na possibilidade de que um dia
elas viessem a se abrir, mas
queria saber o porquê de estarem fechadas.
Foi quando percebi
(no fim já de minha capacidade
de espera analítica) que as portas
sempre estiveram fechadas.
Milton Rezende “in” Areia (À Fragmentação da Pedra)
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