Sonia Dias e a transformação da natureza na arte
Mostra “Da Terra que Somos” será aberta em novembro no Museu da República, em Brasília
Será no dia 21 de novembro, no Museu Nacional da República, a abertura da exposição “Da Terra que Somos” da artista Sonia Dias Souza, que convida a uma reflexão sobre a transformação da natureza, a relação do homem com ela e o seu lugar no Universo. Com curadoria e texto crítico de Agnaldo Farias, a mostra é um convite para que o público se engaje em uma discussão urgente sobre nossa sobrevivência e a preservação do planeta, especialmente em um momento em que as crises climáticas se intensificam gerando medo e insegurança.
Artista apaixonada pela essência da vida, Sonia desenvolveu um olhar crítico alimentado por leituras cruzadas entre ciências como a Física, a Biologia, com destaque à Botânica, e mitos cosmogônicos extraídos da História das Religiões e de visões do sagrado. A artista acredita que ao abordar questões fundamentais como criação, ciclos de vida e regeneração, insere o espectador em uma reflexão sobre a qualidade de sua relação com o todo.
A arquitetura intrincada de suas peças, aliada as suas materialidades enfáticas, abrange uma vasta gama de formas simbólicas e outras aparentadas com organismos biológicos. Sua investigação varre desde estruturas e aspectos fundamentais do nosso corpo, como o sangue, a fertilidade, a comunicação entre tudo o que existe, como as raízes das artes expandindo-se por debaixo de terra, atingindo proporções imensas e, mais ainda, dimensões macroscópicas como a terra, o cosmos – que os gregos entendem como ordem – e o vazio, essa substância intangível que parece rodear cada coisa que existe. Suas obras, frequentemente puxadas para o marrom vivo, sangrado, e para o azul profundo, semelhante ao azul do artista francês Yves Klein, com o qual ele pretendia juntar-se ao infinito do céu, exploram ciclos, interseções, atentam para a complexidade de tudo que existe.
“O sangue não tem cor” figura entre as obras apresentadas. Composta por pequenas esferas de feltro, semelhantes a hemácias cujo ciclo de crescimento é interrompido ela alerta para a expansão vertiginosa por descontrolada do antropoceno, ao mesmo tempo em que conduz a questões centrais na discussão contemporânea sobre identidade, alteridade, raça e etnia. “Vórtice”, por sua vez, utiliza círculos de terra para formar o triângulo invertido, forma feminina arquetípica, um útero a simbolizar fecundidade e transformação. “Magna” reúne mais de uma centena de seios de argila negra – símbolos da nutrição e da criação, conectados a ovos vermelhos – expressão plena e proliferante do início da vida.
Essas criações artísticas promovem um diálogo rico sobre as relações entre o natural e o artificial, o efêmero e o eterno, a unidade e o todo.
A exposição “Da Terra que Somos” promete ser uma experiência enriquecedora e transformadora, refletindo a profunda conexão entre arte, natureza e espiritualidade. Não perca a oportunidade de se envolver com essa poderosa mensagem no Museu Nacional da República.
Sobre Sonia Dias Souza
Desde jovem, Sonia se interessou pelo mistério da criação da vida em todos seus aspectos. Inicialmente inclinada a seguir a carreira de arqueóloga, viu-se, por contingências da vida, tendo por optar por uma carreira mais próxima de sua realidade. Formada em Direito pela USP, exerceu o ofício por décadas. Por volta de 2011, deu-se a virada na sua trajetória artística, quando começou estudar e explorar o universo da fotografia, sendo que em janeiro de 2015, após uma inspiradora viagem à Índia, decidiu-se debruçar completamente ao estudo da arte. Com uma formação diversificada, dedicou-se com a estudar em profundidade Filosofia da Imagem, Escultura e Fotografia, autonomamente e sob a supervisão de pensadores e artistas como Eder Chiodetto, Carlos Fajardo e Gal Oppido.
As muitas possibilidades de interpretação e a expansão de significados são marcas registradas da artista, que recusa a temporalidade linear e a adoção de uma perspectiva única em sua obra. Sua prática artística de natureza interdisciplinar, explora o mistério da existência e as conexões entre memórias individuais e coletivas, exigindo daquele que entra em contato com ela a vontade de decifrar signos enigmáticos. Sonia utiliza a fotografia, instalações, vídeos e outras mídias para tocar memórias ancestrais, ativar arquétipos no imaginário universal, oferecer ao público lugares de reflexão sobre a condição humana. “Meus trabalhos consistem em imagens que refletem preocupações atemporais. São temas universais que abrangem, os ciclos, a criação, a transformação e nossa finitude” destaca Sonia.
Sua primeira exposição individual, “Radical”, aconteceu em 2021 no Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba (PR), com a curadoria de Agnaldo Farias. Título inspirado pelo contraste entre a essência da natureza humana e as manifestações do Universo. “Radical” também traduz a noção de raiz como metáfora do engajamento de qualquer ser vivo com sua própria evolução. De caráter imersivo, a mostra reunia fotografias e instalações, como “A semente que somos”, trabalho composto por cerca de 3 mil sementes de flores de lótus desidratadas, unidas por finos fios de arame e penduradas através de fios de pesca. As sementes foram escolhidas pela artista em razão do seu simbolismo, por estarem ligadas ao processo da vida e de sua superação. “Esta não é uma simples exposição de obras de arte. Sonia Dias Souza preparou um ambiente único, um espaço projetado para tocar num ponto essencial: nós e o mundo somos uma coisa só”, explicou, então, o curador Agnaldo Farias.
Uníssono (acervo da artista)
Imagens em alta resolução para Imprensa: https://www.flickr.com/photos/a4eholofotecultura
Serviço
Da Terra que Somos” – Sonia Dias de Souza
Local: Museu Nacional da República
Setor Cultural Sul, Lote 2, Brasília-DF
Abertura: 21 de novembro às 19h00
Período expositivo: De 21 de novembro a 17 de fevereiro de 2025
Horários de visitação: Terça a domingo – 9h às 18h30
Entrada gratuita – https://www.instagram.com/museunacionaldarepublica/
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