Jogo-me no abismo da palavra

Cirandas, canção da maturidade

Anjos já não dançam cirandas
Palhaços já não nos apavoram
E as idades estão retratadas em nossos corpos.
Memórias e o que virá com o leve passar do tempo?

Anjos já não dançam cirandas
Já não somos as crianças a brincar em quintais
Nosso cachorro está velho.

A casa ainda inteira é outono…dias de festivais
Mas estamos no aguardo do inverno
Nossa juventude já passou, criamos movimentos
Fizemos revoluções…Mas temos a maturidade inteira para criar Utopias ..
Anjos já não dançam cirandas.

Joka Faria, Outono de 2022

Jogo-me no abismo da palavra

Lendo Nydia Bonetti e Edu Planchêz me arrisco num poema. Jogo-me no abismo da palavra. Quantos livros vem nascendo, Fernando Selmer, Itamara Moura e outros. Já foi o tempo da juventude, da competição e das vaidades, estamos quase sozinhos, as redes sociais mentem uma falsa proximidade, nossa tribo invisível se dispersa nas necessidades da vida. Hoje não fui ao Parque caminhar com amigos, tinha que botar os estudos em dia. Trabalhadores em todo o planeta perdem seu tempo de vida em longas jornadas, como é meu caso. Como as pessoas desenvolvem a sensibilidade para as artes?
Na educação a burocracia toma os tempos em planejamentos. A vida é um intervalo entre nascer e morrer. Uma professora não se aposenta e dá aulas aos 65 anos…Temos energia para tanto?
A Guerra televisionada, internet mostra famílias inteiras perdendo tudo, incluindo a vida. E o maldito senhor da guerra nem sofre um infarto fulminante. Os déspotas parecem cercados de demônios da guerra. Quantos povos vivenciam o horror da guerra como na Ucrânia?
A sensibilidade humana se faz em festivais bem comportados, sem nenhum sentido de rebeldia. Cadê a Tribo Invisível? Iacanga? Festival das Águas Claras? Woodstock? Um festival no início dos anos 70 em Guarapari no Estado do Espírito Santo. E por que não, estas ousadias em uma época hipermoderna? Um festival no meio da natureza nos caminhos do Jaguari? Todo mundo sem roupa…Cadê a ousadia dos identitários? Falta uma utopia em dias ultra conservadores. Lembranças das velhas vanguardas quando estudo as artes para minha graduação. Não existimos quase pós pandemia e a guerra novamente nos assombra. A direita pop se acovarda em suas loucuras reacionárias. E nós, em silêncio, um triste silêncio, já estamos esquecidos.
Anjos já não dançam cirandas…Quando voltaremos a ser ousados?

Joka Faria, Outono de 2022

 

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