O antigo e o novo
No entendimento de Marcel Proust, “a verdadeira viagem de descobrimento consiste não em procurar novas paisagens, mas em possuir novos olhos”.
Para o autor de “Em Busca do Tempo Perdido”, é importante o ser humano encontrar e desvendar novos aspectos da realidade que ele já conhece, antes de ficar observando superficialmente as novidades.
Ao homem moderno parece não interessar a procura do transcendente nas coisas, pessoas e fatos do cotidiano. Sua descrença ou desdém por tudo que a visão ilusória de seu ego entende como simples, medíocre ou prosaico, lhe embaça os olhos para a profundidade das coisas. Sedutor é o brilho fugaz da grandiloquência. Enganosa é a importância relativa que lhe é dado perceber pelos seus sentidos físicos, com aval da mente. Muitas vezes tudo não passa de grandiosidade superficial, sem raízes fincadas em essências eternas.
Huberto Rohden nos chama a atenção sobre a necessidade de observar e valorizar essas miudezas do dia a dia no seu belo poema “Fazer Grandemente as Pequenas Coisas”. Dessa valorização podem nascer a paz e o sentido da vida que muitas pessoas procuram.
Isso tudo vale tanto para o homem comum, como para aquele que busca na espiritualidade um sentido para sua vida. “Possuir novos olhos” pode ser o caminho para evitar o engano de imaginar a “verdade” contida apenas no grandioso. “Que é verdade?”, perguntou Pilatos a Jesus e não obteve resposta.
Antes de escolher um novo caminho na espiritualidade, é bom ver com os olhos renovados a estrada já percorrida. Talvez até nos surpreendamos com o que deixamos de perceber: dentro do antigo, um novo caminho, uma verdade até então desconhecida.
A cada instante a vida se renova e nós nos renovamos sem o perceber. Somos o mesmo, e dentro do mesmo, somos outro.
Gilberto Silos
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