Mirian Cris apresenta Jade: Uma Boneca Muito Especial
Por George Furlan
Mirian Cris, alma forte e coração valente, é filha, mãe, tia, é escritora, especialista em cultura popular, poeta, luthier, violeira, tamborzeira e coordenadora do projeto “Jardim de Todos” núcleo de Arte e Educação Solidária, na região Leste de São José dos Campos. Atualmente cursa Humanidades, pela PUC RS. Trabalha na Fundação Cultural Cassiano Ricardo, onde é coordenadora do Cine Teatro Benedito Alves. Publicou cinco livros, sendo três de contos e poemas e dois infantis.
Mirian nos conta sobre sua relação com as estórias, os ritmos e a cultura popular:
Falar sobre minha infância é falar sobre uma realidade diferente da que vivo agora em São José dos Campos. A criação na área rural, entre os estados do Rio de Janeiro e Minas Genais fez toda diferença em minha vida. Morávamos numa casa de colonos, numa cidade de fronteira, Santa Rita de Jacutinga, de quase cinco mil habitantes. Era só atravessarmos o Rio Preto para estar em outro Estado. Tinha espaço e tempo para criatividade. Eu pude ser um passarinho livre para brincar nas árvores, no ribeirão… Aprendi a cultivar a terra e comer daquilo que se planta, a cuidar do jardim, do quintal onde havia o balanço feito pelo pai…
A riqueza não era de dinheiro, mas de possibilidades de criação. Meus pais nunca me tolheram em nada. Desde que não estivesse correndo risco, estava tudo certo. As coisas eram apertadas. Um chocolate era a maior novidade. Um refrigerante era para o dia em que eu tinha queda de açúcar, daí minha mãe tinha que sair da roça pra cidadezinha para buscar guaraná para mim. Brincava na rua. Caí da goiabeira, da mangueira, relei o joelho e fiquei um mês sem poder movimentá-lo direito. Brincava de carrinho de rolimã, que era feito para o meu irmão, mas que eu dominava. A televisão era preto e branco e chieira. Havia no rádio o programa do Zé Béttio que tocava muitas músicas caipiras, inclusive tínhamos um passarinho que colocamos o nome de Zé Béttio.
Minha relação com a música foi, no princípio como autodidata. Com nove anos minha brincadeira favorita era fazer tambor. Eu tirava o fundo de latas grandes e amarrava um plástico grosso com elástico e aquilo era meu tambor. Os tambores que faço atualmente vem dessa experiência. Na adolescência aprendi os ritmos e toquei dois anos na fanfarra. Depois passei a me interessar por violão, daí meu pai me deu um violão.
A folia de reis é uma tradição bastante forte em minha terra. A gente recebia muita folia de reis. Os palhaços pulavam e cantavam os versos e os cantadores entravam em casa para cantar o presépio. Como eram tantas, não recebíamos todas, algumas só recebíamos a bandeira, levávamos a bandeira para cada cômodo da casa para pedir proteção e depois dávamos um dinheirinho.
A Banda Cônego Marciano, no dia da festa da padroeira, às quatro da manhã, faz alvorada e acorda todo mundo, depois vai tomar o café na casa de quem fez promessa de dar o café pra banda. A festa dura um mês, de 1 de maio ao primeiro final de semana de junho e todo final de semana tem leilão. A banda sai da sede tocando até o leilão e o povo segue em cortejo, toca nos intervalos do leilão e depois volta tocando até a sede. Meus tios fizeram parte da banda. É uma tradição bastante interessante. O leilão é feito com prendas doadas pelos munícipes, devotos, e, no dia da padroeira, o leilão é feito com prendas doadas só por pessoas chamadas Rita de Cássia. Há também uma brincadeira que é feita, em que alguém leva alguma coisa fálica, uma fruta, um legume, o que gera dinheiro para a igreja, porque se dá maios para o outro levar a prenda. É muito engraçado!
Na quaresma não funcionava nada, nem o clube abria, porque era pecado. Era uma época que todos temiam, por conta das assombrações. Inclusive tenho um levantamento das histórias que meus parentes lembravam. Há uma que meu avô contava de dois irmãos gêmeos que viravam porcos. Imagina você, criança, ouvindo essas histórias… Hitchcock é fichinha para o povo lá da roça!
Hoje sou essa pessoa solta, faladeira, mas na infância eu era mais introspectiva. Na escola passava grande parte do tempo na biblioteca, lendo Fernando Pessoa, Bandeira, Carlos Drummond, o que me deu uma bagagem crítica grande. Desde cedo interessava-me pela poesia, até lia romances, mas porque era obrigada. A poesia sempre me pareceu mais rápida e eficiente. Você lê um poema de Drummond de cinco versos que tem o mesmo impacto de um grande livro.
Quando comecei a tocar viola passei a compor para participar de saraus. Em 2002, fiz um curso, por intermédio da Fundação Cultural, com a professora Julieta de Andrade, que é Doutora em Folclore, para atualização do conceito de cultura. O trabalho final era um relatório sobre a cultura da nossa família. Ao entregar o trabalho, Dona Ângela Savastano me instigou a escrever mais, o que virou meu primeiro livro, que é o Autorretrato. Pedi para Paulo Freire, o violeiro, fazer o prefácio e ele se recusou, disse que podia tratar de forma poética sobre a minha cultura, o que me motivou, em 2005, a publicar o livro de poemas e contos Navegação.
Mirian, em 2008, publica Ocre – fragmentos de arte. Em 2010, 2011 passa a se dedicar à pesquisa sobre as formas de sociabilidade presentes nas brincadeiras de rua, baseada em que observava em minha sua, no Campos de São José. Em 2013, organiza a produção do livro Amores e Outros Retalhos, com mais quatro mulheres: Dircy Araujo, Erica Siqueira, Rossana Masiero e Zenilda Lua. Após participar de um curso sobre contos de fadas, se inspira a escrever Tuco, Catador de Palavras e após este, publica Ratinho ou Ratão, baseado em um caso ocorrido em sua casa. Agora traz ao mundo a história da Jade, uma boneca de pano que foi feita por sua mãe e que nos ensina uma lição especial sobre a vida e as relações humanas.
Jade, Uma Boneca Muito Especial, é uma história de amor e educação inclusiva. Baseado em uma história real, vivida com sua sobrinha, Maria Clara. O projeto é dedicado aos seus sobrinhos Maria Clara e Matheus. As ilustrações serão de Gabriela Andrade, artista parceira de Mirian, que dá forma aos personagens com talento e maestria. O livro será publicado pelas Edições Saruê – o selo de literatura infanto-juvenil da Pangeia Editorial.
Para adquirir a obra acesse o site: https://editorapangeia.com.br/product/pre-venda-jade-uma-boneca-muito-especial/.
Ou transfira o valor de R$ 49,90 por PIX, anotando o título do livro na descrição. Eis os dados do PIX: CPF 753.515.106-00, NIMA IMACULADA SPIGOLON, Banco do Brasil – 001, agência: 1515, dígito 6, c/c 48396-6, variação 96 (caso solicitada). Pode, também, utilizar outro meio para depósito ou transferência. A Pangeia Editorial identificará seu depósito e reservará o seu exemplar. Para que o receba, por favor, envie o seu melhor endereço postal para o e-mail “PANGEIA EDITORIAL” <dionysius.pangeia.sarue@gmail.com>. Em alternativa, se preferir, nos envie seu endereço por Whats: +55 34 9906-9618.
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