De novo, de novo e de novo – Reboot dos aspectos positivos aos aspectos negativos.
Esse é um artigo que foi publicado aqui no Entrementes em 2012 (04052012)
Daqui menos de dois meses os “novos 52” chegarão ao Brasil, mas o que exatamente é isso. Bem os “Novos 52” são não nada mais nada menos, do que uma tentativa de reformulação do universo DC, visando logicamente adquirir novos leitores (consumidores), a empresa dona do Batman, Flash, Superman, Mulher Maravilha, etc, decidiu reconstruir a partir do zero seus personagens (exceto Batman e o Lanterna Verde – que já vinham tendo um grande sucesso no mercado). Bem como leitor, confesso que fiquei um pouco chocado com a decisão, uma vez que para esse reboot ( a DC já realizou três outros reboots) a editora decidiu reformular inclusive a origem de seus personagens, reformulando a história original para algo mais em harmonia com o “zeitgeist” de hoje.
A DC já realizou o mesmo outras vezes como dito anteriormente, o reboot do Lanterna Verde no início dos anos 50 foi de fundamental importância para o sucesso do personagem, anteriormente muito mais relacionado com o universo mágico, o Lanterna foi transformado na década de 50 num personagem com aspectos muitos mais científicos. Outro exemplo de reboot que a DC já realizou foi no caso de suas realidades paralelas, ou as outras 52 realidades existentes (Terra 1, Terra 2, etc.), o arco de histórias “ Crise nas Infinitas Terras” lançada em 1985 e escrita por Marv Wolfman e desenhada por George Pérez. O intuito dessa história era organizar o universo DC, eliminando os universos paralelos, unificando- os um.
O que a DC está fazendo hoje em dia, se assemelha muito a saga “Crise nas Infinitas Terras”, mas também tem uma grande influência da iniciativa da Marvel Comics de apresentar uma nova interpretação de seus personagens, a linha “Ultimate” (linha que já foi aqui abordada no texto “Pele negra, máscara de super-herói”). Uma vez que ao mesmo tempo em que ela unifica mais uma vez seu universo, dessa vez agregando outros universos, como o universo Vertigo, a editora também aproveitou para reformular (tanto no conteúdo quanto na forma) seus antigos personagens.
Sobre os pontos positivos e negativos do Reboot pode-se afirmar o seguinte:
A iniciativa mostra claramente uma estratégia de mercado, ao anular os cerca de 70 anos de cronologia, a DC visa atrair um público mais novo que desconhece os personagens através dos quadrinhos, a ideia é justamente produzir uma certa sincronia entre todos as manifestações midiáticas onde esses personagens de alguma forma aparecem, tornando-o muito mais que um simples personagem de quadrinho, mais sim, um ícone da cultura pop ( claro que o Batman e companhia já são, mais a manutenção e a elevação de outros personagens a esse hall, depende também da adaptação do objeto ao mercado) e consequentemente gerando mais lucros para a respectiva editora. Ou seja, como um crítico da lógica capitalista de produção do lucro, reconheço a perversidade desta lógica, que não visa à satisfação de necessidades estéticas e de conteúdo pela arte (na qual considero o quadrinho como um expoente), porém, os quadrinhos de super-heróis já são em sua essência frutos de uma sociedade capitalista individualista e de consumo, portanto ter expectativas quanto a sua desvinculação da lógica dominante é um tanto quanto utópico, porém necessário (já que existem muitos quadrinhos “underground” que não se vinculam a mesma lógica).
Seguinte em frente, o reboot consistiu na criação de 52 novas revistas, incluindo portanto personagens do universo DC, Vertigo, Milestone e o universo dos super-heróis Wildcats, essa inclusão de vários personagens no mesmo universo, gera uma gama maior há ser explorada, possibilita novas histórias – o que com os bons roteiristas que a DC tem, pode resultar em novas excelentes histórias– mas em suma, essa inclusão favorece a reprodução de algo extremamente incomodo para os fãs, algo que a Marvel geralmente faz, a criação de mega sagas que envolvem todo o universo e te fazem comprar um milhão de revistas. Outra possibilidade é que com essa reformulação surjam iniciativas inovadoras para os personagens DC, como ocorreu no universo “Ultimate” da Marvel.
Quanto a parte estética, o conteúdo quase nada se alterou, podemos ver agora personagens esteticamente distintos do “mainstream” da DC, sendo inseridos no mesmo com uma perspectiva estética mais harmoniosa com a proposta do universo DC, como é o caso do personagem John Constantine, que agora faz parte de uma espécie de Liga da Justiça. E também há regressão ao estilo estético dominante na Marvel nos anos 90 com a presença de Jim Lee na chefia do Reboot.
Enfim, os “Novos 52” pode-se uma experiência interessante para os leitores, dentro dessa gama de 52 novas revistas, existem algumas que realmente valem a pena, como por exemplo a reformulação do Superman realizada por Grant Morrison. Mercadologicamente o Reboot foi um sucesso lá fora, tanto que a Marvel demostra indícios de que também pode ocorrer um reboot em seu universo após a saga “Vingadores versus X Men” que já está rolando lá fora. Outro detalhe, segundo algumas notícias recentes, a DC construiu o reboot deixando dentro do mesmo “links” para se voltar atrás, caso a iniciativa seja um fiasco a longo prazo. Resta nos esperar a chegada dos “Novos 52” por aqui nos próximos meses, espero que pelo menos a Panini tenha a decência de fazer uma boa distribuição dos títulos.
Rodolfo Salvador
Faça um comentário