No rastro do texto de Joka Faria, aqui no Entrementes, a palavra e a atitude fortes de Álvaro Alves de Faria.
Álvaro Alves de Faria é dos maiores. Além de poeta de alto quilate, é um ser humano ímpar, inigualável. Nos idos de 1970 inovou bradando poemas, num período de perseguição irrestrita, em pleno viaduto no centro de sampa.
Tive a alegria de ser resenhada por ele para o incrível e resistente jornal Rascunho, que estimulo sempre a que assinem para que não morra, pois é um dos poucos jornais não virtuais sobreviventes e de impecável qualidade.
Registro abaixo o comentário do Álvaro sobre Visões do medo, de 2007:
Visões do medo, de Beth Brait Alvim, é outro livro que deve merecer atenção dos que se interessam por poesia nestes tempos nada poéticos. Poemas de poucas palavras, mas as palavras necessárias para o poema. Beth sabe com o que está lidando, ao contrário do que ocorre na área da poesia, habitada hoje por bandoleiros da palavra fácil. Não. Beth Brait Alvim tem com ela o compromisso de conhecer seu ofício de escrever poemas, de respeitar o poema e a poesia: “uns anjos démodés/ escamoteiam o pó de suas asas/ e as exibem para as pequenas prostitutas/ de las calles/ elas/ lacram seus lábios/ calejados de leite/ e escarnecem do desconcerto deles/ comendo as feridas/ do último século/…/”. Beth Brait afirma que a poesia é o embate com sua sombra: “É o deboche, já que não vale a pena. Poesia são meus urros amordaçados em estilo, meus desejos associais à mesa dos almoços de domingo”. Ela deixa que as imagens cresçam dentro da palavra e tece o poema com a convicção de um monge. Resumindo: é uma poeta séria. As mulheres ainda salvarão o mundo, quem sabe possam também salvar a poesia brasileira do quadro melancólico atual: “o poste ainda espera um bêbado/ que tropece um tango/ vocifere Rimbaud/ ou exorcize Anais/ não é fácil em nossos dias sorver/ em taças de cristal luas de/ celofane como se fossem hóstias”. Como diz num poema, “o real é mera poesia”. Talvez seja isso mesmo. O real áspero. O real mais ferimento que a própria realidade. Ou como explica: “Poesia é ficar bêbada e perder o último metrô na Republique. Cochilar na Saint Sulpice. Não morrer. Morrer”.
Álvaro esteve na fantástica Passeata Poética de domingo na Paulista, promovida por nós, tendo à frente Rubens Jardim e Hamilton Faria, e o Sarau da Paulista.
Como contou um outro grande poeta: chegou quieto, simples, com sua faixa nas mãos …. Eu digo, ainda: com seus cabelos à la anos 70, hoje tão brancos, e seu olhar tímido pra dentro dos segredos da vida, do amor e da morte: o poeta.
beth brait alvim
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