Tempo de ludopédio
Saber o significado da palavra “ludopédio” é algo parecido com cultura inútil. Então, se você não sabe, fique tranquilo. Não vai diminuir sua erudição, nem provocar alta do dólar e muito menos ameaçar seu casamento. Mas, como puxei o assunto, vamos lá…
Ludopédio = ludo (jogo) + pédio (que se joga com os pés). Se você pensou em futebol, então acertou.
Esta “desinteressante” história de ludopédio começou no final do século XIX. Foi quando o filólogo e apaixonado latinista Castro Lopes propôs a eliminação de alguns estrangeirismos do nosso idioma, e sua substituição por novas palavras, criadas por ele mesmo…é claro. Um delas era a palavra inglesa “football”, hoje conhecida por futebol, esporte bretão, trazido ao Brasil por Charles Miller.
Você pode até não gostar, mas sabe o que é futebol. Por falar nesse esporte, dia 20 de novembro começa a disputa de mais uma Copa do Mundo, desta vez sediada no Catar. As atenções do mundo todo estarão voltadas para esse emirado do Golfo Pérsico. Em boa hora, diga-se de passagem, porque aqui no Brasil estamos necessitando de um respiro, uma trégua da tensão política que estamos vivendo. Essa polarização ideológica, com ameaças à democracia, rachou o país ao meio, deixando cicatrizes que tão cedo não desaparecerão.
Para algumas pessoas, Copa do Mundo não passa de um momento de alienação global, com as massas inebriadas por isso que chamam de “o novo ópio do povo”.
Ninguém é obrigado a apreciar futebol. Algumas pessoas famosas, inclusive intelectuais, têm opiniões negativas a respeito. Era o caso, por exemplo, do escritor e poeta argentino Jorge Luiz Borges, ao afirmar que “o futebol é popular porque a estupidez é popular”.
No Brasil, ao contrário, alguns intelectuais não só gostam como escrevem ou escreveram sobre futebol. É o caso de Nelson Rodrigues. Nelson durante muito tempo escreveu crônicas sobre esse esporte na revista Manchete. Numa deles chegou a afirmar que “o intelectual brasileiro que ignora futebol é um alienado de babar na gravata”. Ele não era um analista de futebol como outros jornalistas esportivos. Abordava a dimensão humana de tudo o que ocorria dentro do gramado e sua repercussão além das quatro linhas. Sobre a Copa de 1958, a primeira vencida pelo Brasil, ele escreveu: “Graças aos 22 jogadores da maior equipe de todos os tempos, o Brasil descobriu-se a si mesmo”.
Torcedor fanático do Fluminense, Nelson dizia que “a mais sórdida pelada, disputada num campinho qualquer, é de uma complexidade shakespeariana”.
Que venha a Copa do Mundo. E que muitas e muitas vezes possamos gritar a palavra mágica GOOOOOOOOOOL.
Por Gilberto Silos.
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