Perca-se!

Perca-se!
Por Raul Tartarotti
Uma obra de arte mesmo que composta por resina de poliéster e aço inoxidável, pode inspirar esse escritor a sentir o silêncio da fala impedida, através da expressão fechada e assustada, como um lamento e vontade de fuga da palavra, que se esconde na alma ansiosa do verbo. O artista e escultor espanhol Jaume Plensa, construiu a escultura “Silent Hortense”, um rosto de mulher com mãos na boca, e semblante com dor expressa em olhos, marcados pela angústia e sufoco.
Ela prende o grito, preso no olhar da garganta seca. É possível ouvir estridente ruído da alma no rosto da musa, impedida de um risco de paz, sob o olhar dos que cruzam às margens de seu drama.
Tolhida de um prazer pleno indizível que é o diálogo, a torna incapaz de usufruir sua feminilidade e sexualidade sem ornamentos ou armamentos.
Essa divisão do funcionamento da seleção sexual, descreve que o primeiro pilar é bem conhecido de todas as pessoas que já viram um pavão, que são as características muito chamativas dos membros de um dos sexos, e serve como sinal de que o indivíduo é forte e saudável.
O outro sinal tipo chifre de carneiro-montês, ou massa de músculos de gorila, são os “armamentos” que servem para dar acesso maior a parceiros do outro sexo.
Com esse cenário, espera-se uma relação mais forte entre as formas de seleção sexual, e as capacidades dos artistas e atletas profissionais em explorá-las em seu proveito.
O que aumenta o efeito é que eles se utilizam da fama e da exposição como figuras públicas para atrair sua presa amorosa, diz o pesquisador da USP Marco Antônio Correa Varella. Para nós, simples mortais, existem outras hipóteses de aproximação e aceitação, que são através da argumentação e exposição pessoal, onde a ousadia pode proporcionar novos caminhos e amores, sem escusas, e fáceis de entender e experimentar o gosto do toque, existente num momento de trovoada e iluminação, em meio a nuvens quase desfeitas pelo vento.
O poeta joga suas letras pra deixar um efeito subjetivo, por isso não procure sentido em tudo, tente brincar com o fogo que nos aquece, e por vezes ilumina, porque nem sempre é um ou outro que fica ruim no final da história.
Talvez você é que não esteja entendendo o que o mundo grita em silêncio, por isso permite que a sombra se mantenha empoeirada entre lápides secas, que lhe consomem.
Seja um ator de sua trajetória todos os dias, somente esse sabe fazer um espetáculo em horas, que a plateia leva uma vida inteira pra percorrer.
Jorge Luís Borges nos deixou uma frase fácil de lembrar sobre isso: ” Todos os caminhos levam a morte. Perca-se.”
“Silent Hortense”, obra do espanhol Jaume Plensa na frente da Fundação Iberê Camargo 
Sobre Raul Tartarotti 95 Artigos
Natural de Gramado, Raul teve formação básica em Eng. Biomédica. É cronista em diversas publicações no Brasil e exterior, impressa e eletrônica. Estudou literatura Russa, filosofia clássica e contemporânea. Suas crônicas são de cunho filosófico e social, com objetivo de trazer reflexão ao leitor sobre temas importantes de nosso cotidiano.

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