NA FEIRA DA VILA EMA – TBT
Manhã de uma sexta-feira. Fevereiro. Cá estou na feira da Vila Ema, como faço com frequência. O que vim fazer? Na verdade não sei bem o quê. Caminhar um pouco? Talvez. Encontrar algum velho amigo ou conhecido? Isso me é prazeroso, porém, às vezes acabo me frustrando por não cruzar com alguma cara conhecida.
A impressão que tenho é que isso se me tornou um hábito, quase um automatismo. Algo assim como que me deixar conduzir por um piloto automático? Pode ser, mas não tenho certeza. Aliás, ultimamente quem tem muita certeza das coisas ?
Dizem os entendidos de astrologia que 2019 é regido por Marte. Esse planeta irradia uma energia dinâmica fortíssima, capaz de tornar este ano muito intenso, arrebatador, apaixonado, com promessa de muitas reviravoltas. O tempo aparentará correr mais rápido. Segundo os astrólogos Marte representa os conflitos, mas também gera energia para a realização de projetos ousados, desde que haja um bom alinhamento com suas forças.
Projetos ousados? Algo que exija mudanças radicais? Encarar o novo sem medo? Como me incomodam as palavras de Fernando Pessoa quando advertem que “há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas; que já têm a forma dos nossos corpos, que nos levam aos mesmos caminhos e lugares”. A carapuça me serve e faz sentir que devo algo à vida.
Bem, essa é a reflexão que faço, enquanto saboreio um delicioso tempurá. Finalizo minhas elucubrações com duas dúvidas: afinal, que plano ousado tenho para 2019, e como me alinhar com as vibrações marcianas ? Não faço a mínima ideia. Mas, por que me preocupar com essas coisas agora? Dentro de alguns dias começa o Carnaval e a influência de Marte só se fará sentir depois do dia 20 de março.
Da pequena mesa de plástico onde me acomodo, fico observando a imensa variedade de tipos humanos circulando por entre as bancas de legumes e frutas. Ocorre-me, então, imaginar quais serão suas perspectivas ou expectativas para este ano. Será que eles se alinharão com as energias do planeta vermelho?
Próximo da barraca do pastel um rapaz muito magro, com a barba mal aparada, dedilha num violão e canta um repertório de Milton Nascimento. Encanta os ouvidos a letra de Travessia e a singeleza melodiosa de Cuitelinho. A aparência do músico lembra um pouco o Bin Laden. Mas, e daí ? O que uma coisa tem a ver com a outra ? A música me agrada e ponto.
Já de saída, finalmente encontro um velho amigo. Gente boa. Desses que a gente não esquece. O papo é rápido e acabamos nos despedindo. Caminho lentamente já fora da área da feira, mas ainda ouço a voz do rapaz, cantando algo que conheço…”Maria, Maria, é o som, é a dor, é o suor…É a dose mais…”
Por Gilberto Silos
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