Como poderia ser o futuro
O Rubão é meu amigo de longa data. Foi uma das minhas primeiras amizades quando aportei em São José dos Campos. Lá se vão mais de quatro décadas.
Cada um cuidando de sua vida, há anos não nos víamos. E as restrições impostas pela pandemia tornaram essa possibilidade mais difícil ainda.
Há poucas semanas, numa manhã de domingo, nos encontramos no Parque Vicentina Aranha. Por coincidência somos fãs de carteirinha da cantora Ana Morena. Fomos atraídos ao local, no mesmo horário, porque ela ali se apresentaria, com sua voz afinada e doce.
Depois da apresentação, permanecemos ali trocando figurinhas. Falamos um pouco do passado, sem exagerar no saudosismo. Não é muito saudável viver a vida olhando sempre pelo retrovisor. Comentamos muito o presente, com seus prós e contras existenciais. Embora já passados dos oitenta, o futuro também nos interessou. E a pergunta, recíproca, por sinal, foi sobre o que gostaríamos que nos acontecesse em relação aos dias ou anos vindouros. Cada um manifestou seus anseios e nesse aspecto não houve consenso.
Eu, de minha parte , gostaria de deixar a vida fluir, como um riacho manso e preguiçoso. De viver um amanhã feito de luminosas manhãs, de alegres trinados de pássaros cantores. De respingos de orvalho banhando as flores. Até rimou. Me sentiria feliz nos dias de verão, com uma chuva mansinha no finais de tarde e o aroma gostoso de terra molhada.
Não sei quanto de estrada ainda terei a percorrer. Mas apreciaria muito abandonar o que não tem mais serventia e deixou de fazer sentido em minha vida. O supérfluo e mesquinho, principalmente. Incluo também ideias, sentimentos de culpa, apegos e um monte de tralha arrastada ao longo do tempo. Gostaria de deixar tudo na poeira do caminho, para ficar mais eleve e poder flutuar, flutuar, até não sei quando…E, no final – quando será? não me importa – que fique apenas a essência. Já me bastaria.
Por Gilberto Silos
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