A ARTE E O PENSAMENTO ESOTÉRICO
Por ser uma expressão do espírito, a arte reflete um momento peculiar da sociedade. O que ocorreu na Europa por volta do século XIV foi algo muito mais importante do que se possa imaginar. Alguns artistas e pensadores tornaram-se pioneiros da Renascença ao resgatarem os ideais artísticos da cultura greco-romana. As ideias de Platão foram adotadas pela nova visão humanista e racional do mundo e da ciência.
Na Idade Média a vida girava em torno da sacralidade, do divino. Deus era o centro e razão de todas as coisas. No Renascimento essa visão se modificou. O homem passou a ver o mundo em função de si próprio, elegendo-se o novo centro do Universo. O desenvolvimento desse humanismo se fez com a recuperação do patrimônio filosófico e artístico da civilização greco-romana. Alguns iluminados renascentistas foram mais além ainda, revelando em suas obras notáveis conhecimentos ocultos de antigas tradições.
Max Heindel, místico rosacruz, escreveu em seu livro INICIAÇÃO ANTIGA E MODERNA que Rafael Sanzio, famoso pintor renascentista, empregou seu domínio do pincel para , veladamente, transmitir conhecimentos esotéricos em alguns de seus melhores trabalhos, como por exemplo, A MADONA DA SIXTINA e o MATRIMÔNIO DA VIRGEM. Cópias dessas pinturas podem ser encontradas em qualquer loja onde se vende quadros. No original, porém, percebe-se uma tonalidade particular no halo dourado atrás da Madona. Uma observação atenta de seu fundo revelará que esse halo amarelo é composto de figuras desses seres que chamamos de anjos, com cabeças e asas. O papa está representado apontando a Senhora e o Cristo Menino. Examinando-o atentamente vê-se que a mão com que aponta tem seis dedos. Como não há indícios históricos afirmando que o sumo pontífice teria essa deformidade, pode-se concluir que foram pintadas deliberadamente pelo autor. No seu quadro MATRIMÔNIO DA VIRGEM , Maria e José estão representados com o menino Jesus no momento de sua fuga para o Egito e um rabino está nas proximidades. O pé esquerdo de José é o detalhe mais adiantado e tem seis artelhos. Segundo Max Heindel, os seis membros simbolizam o sexto sentido, faculdade que se obtém por meio da Iniciação nos Mistérios Espirituais. Por esse sutil sentido o pé de José teria sido guiado em sua fuga para manter a salvo a Sagrada Família, e no caso do papa, seria um indicativo de que ele possuía a visão espiritual.
Numa obra de Michelângelo, na igreja de San Pietro In Vincoli, em Roma, há um detalhe intrigante. Nela Moisés está representado com cornos (chifres) . Alguns autores argumentam tratar-se de uma alusão ao fato de que Moisés foi o arauto, o mensageiro, da Idade ( astrológica) de Áries, o cordeiro.
Mesmo na Idade Média, a arte foi um canal de expressão da sabedoria oculta. Há quem afirme , por exemplo, haver uma correlação entre a forma das catedrais góticas( com arcos ogivais formando o interior), as pirâmides e a junção das palmas das mãos quando se ora. Seria uma forma de catalisar energias cósmicas ?
A música também foi outra expressão artística usada para transmitir conhecimentos profundos. A ópera A FLAUTA MÁGICA, de Mozart, inclui-se nesse caso. Richard Wagner fez o mesmo na ópera Parsifal, onde o tema é o mistério do Santo Graal. Heindel, em sua obra O MISTÉRIO DAS GRANDES ÓPERAS expõe o significado oculto de Parsifal e de outras músicas de Wagner, como Tannhauser e Lohengrin. A lenda de Fausto, originalmente transformada em peça teatral por Christopher Marlowe, serviu de inspiração para o poema de Goethe, e para as óperas de Gounod e Berlioz.
Quando Wiliam Shakespeare, em seu Hamlet, diz a Horácio que há mais coisas no céu e na terra do que sonha nossa filosofia, ele instiga a mente humana a ir além de si mesma, a encontrar a verdade não explícita onde menos se espera. Com a arte não é diferente.
Por Gilberto Silos
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