Já larguei a minha bolsa nos lugares mais bizarros. Igreja, hospital, consultório médico e um dia, pasmem, no cemitério. É certo que os meus pertences mais secretos, ”pertencem” a bolsa. Agenda, fio dental, pente com espelho, baton, lenço de papel, absorvente, cartão de crédito, chaves e todo tipo de badulaque estão na bolsa que eu insisto em esquecer um tanto aberta, pelo menos uma vez por mês. O que me intriga é que eu nunca a perco. Ela sempre volta para a dona, intacta, ou seja, sem prejuízo para quem nela confiou os seus objetos. Tanto volta que um dia passei a imaginar que era ela quem me queria.
Andando sempre atrás de mim, me perseguia aquela bolsa. Ameaçando revelar os meus segredos, caso dela eu desistisse. Dia após dia, grudada em meu ombro, me exigia, acorrentando-me com a sua alça metálica. Chegou a mudar os meus trajetos, determinando os meus passos, ao indicar os lugares onde eu deveria ir.
Um dia, revelou-me um absurdo. Disse que possuía um punhal escondido em um de seus fundos falsos. Contou que cortaria a alça da bolsa alheia, caso eu insistisse em paquerar os “modelitos” que passeavam nos ombros da amigas.
Assim a bolsa tornou-se para mim, insuportável. Eu descobri que a odiava, pois quem aguentaria um objeto tão anormal e pegajoso sem ao menos, odiar?
Por mais que eu a esquecesse em lugares solitários, alguém sempre a devolvia e mesmo que eu a trancasse em um armário, seus apetrechos barulhentos, avisavam todo mundo que a maldita estava lá.
Pensei no quanto a odiava, ao me lembrar das muitas gafes cometidas em restaurantes, salões de beleza e cinemas, porque a bolsa escondia meus talões de cheque e chaves em horas cruciais, para depois apresentar o objeto descaradamente, como se nada tivesse acontecido, dias após o ocorrido.
Comecei a suar frio quando ela atacou o motorista, por me levar a uma loja de sapatos lá na Augusta. Enlouquecida, já apertava o seu pescoço com as correntes. Tentei livrar o pobre, buzinando a Limosine sem parar. Mas a demente abriu-se toda e eu pude ver em falsos fundos
nas profundezas do seu cetim, em meio a facas e punhais, que a bolsa era o travesseiro.
2017
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