A cidade anda vazia de Quixotes?
Dedicado a Lauro Flessat, produtor e pensador.
São poucas as almas sedentas de saber.
Para uma boa prosa as portas estão escancaradas. Se quiser entrar pela janela. Ou tirar umas telhas, fique à vontade.
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Almas, navegam em tempestades, cansados estamos da tecnologias que nos mantém sós.
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Gostaríamos de fazer uma rapadura, criar uma fervura e fazer nascer algo dentro do coração.
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Como é triste a solidão na imensa multidão, o músico toca para si mesmo. E algumas moedas ali aparecem.
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Meia noite, alma cansada .. destino incerto .. na tarde frustrada .. falta-nos o calor, não da lareira, o calor humano.
A urbanidade em consumo, insumo de solidão não somos, vidas vazias de alma em meio a urbanidade.
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Sol na manhã, mercado, caldo de cana, acarajé,
Rua Sete de setembro … canções em duas praças.
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Gostaria de uma prosa de como fazer uma rapadura, participar do ato. Um dia sonhei que fazia doces para vender na beira do Rio Buquira. Quem sabe Cora Coralina, Ricola de Paula tenham algum poema de fazer doces.
Uma tia lá em Paraisópolis, MG, fazia doces e vendia nas carroças quando vinha para a cidade. E esta infância perdida – eu ia junto entregar os doces de tia Inez.
Não saber fazer poemas é um imenso desafio. Hoje um amigo me chamou de bom cronista. Quando publicarei um livro para me inscrever no Jabuti? Fico com a infância em pés de Jabuticaba.
É noite, silencio me medusa – congela-me a olhar para o passado na Praça Afonso Pena, São José dos Campos.
Para que tantos revolucionários virtuais, se a cidade anda vazia de Quixotes? Estamos calados e silenciados de atos patrióticos. Nossa pátria e nossa vida não pode, esta só em conquistar dinheiro. Silenciamos a cidade sem Quixotes. As velhas ideologias de esquerda estão mortas? E as liberais?
Quiçá o novo se faça, se estivermos juntos ao Sol de inverno na Praça. Em redes sociais nossos cantares estão abafados pela eterna vaidade.
Solidariedade não é uma palavra desgastada. As ruas estão cheias de dor, amor, sofrimento e medo. Mas a vida esta nas ruas e não nesta caverna virtual.
Quem sabe chego a um poema que seja a real experimentação de fazer uma rapadura. Não o fazer imaginário, mas real. Curitiba ainda é uma ilusão. Quero conhecer a Curitiba de Elizabeth de Souza nos cantos de cultura que Santos Chagas me falou. Só existe o que experimentamos e Murilo Mendes dizia que só existe o que é imaginado. Quero a Curitiba vivida. Onde São José dos Campos se esconde?
E na loja de Lauro Flessat, a Mid Max ouve-se jazz, muita musica boa e lá estão velhos discos à venda e a boa prosa. Mostrando que nenhuma mídia supera outra. Gosto de ler no kindle como em livros impressos. A cidade esta ai, tenhamos o olhar de Siddharta Gautama. Sejamos nosso Buda e revisitemos Herman Hesse.
A boa prosa está em livros e nas ruas das cidades em chamas. Sedentas de revolução que não seja pelo sangue e guerra, mas pelo amor ao próximo dito por Jesus, o Cristo e cantado em música por Jorge Mautner. Que o Acarajé da Praça Afonso Pena nos una e nos faça sentir o sabor da pátria. A vida está nas ruas. A internet não é uma trincheira, é um instrumento de comunicação. Nas ruas acontecem as mudanças necessárias. Caetano Veloso “Minha pátria é minha língua”. Nossa cidade é nossa alma.
Cadê uma canção de Santos Chagas, um poema de Ricola de Paula que cante a Mantiqueira? Saúdo o novo livro de Ricola, que suas palavras encantem nossos corações.
Joka
João Carlos Faria
Este texto foi publicado na
Brilhante, lírico, nostálgico, filósofico
Antes de tudo, poético.jokinha essencial. Não bastasse, o registro da essência do Lauro. Lindezas.
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