A cura de todos os males

 

A cura de todos os males

E por três dias estive no mundo sombrio, com ela do meu lado segurando minhas mãos. Estava tão gélida e pela primeira vez pensei que iria embora deste mundo vão. Pensei em todos os meus apegos e eram todos por pessoas e não por coisas. Ao mesmo tempo em que pensava nos apegos, flutuava pra lugar nenhum como sempre – às vezes vinha à memória, o texto que não escrevi.

No terceiro dia acordei desse sonho maluco. E aquela que segurou minha mão, fria e sem cor, a soltou sem nenhuma despedida. Foi desaparecendo por aquele túnel, com luz ofuscante bem lá no fundo, como naqueles túneis da Carvalho Pinto.

Ainda cambaleante comecei a caminhar, ajeitando as pernas ainda bambas. Um certo desânimo sem motivo aparente, achei que era o fim de tudo, mas ainda não. Foi quando apareceu o Isaac. O Isaac que não é o Newton, mas interferiu na gravidade do meu mundo; Não é o Asimov, mas desvendou o cosmos por alguns segundos intensos; Não é o irmão de Jacó, mas trouxe um momento fraterno. Era de verdade, não uma fantasia ou algum sonho agitado de uma noite mal dormida. Foi real, ouvi sua voz tão doce, como há muito não ouvia uma. Uma voz doce e gratuita – isso não tem preço. No mesmo instante, foi-se restabelecendo o calor e a luz dentro de mim. A fala macia  estava me curando. Ele mal sabe quem sou, o que penso, sinto e mesmo assim me ofertou o som da sua voz. E o som foi entrando e eliminando qualquer vestígio de escuridão. Nesse momento, voltei à vida. E ele mal sabe que me curou.

Desci aos infernos por 3 dias, mas hoje voltei à superfície com o poder de uma voz doce e macia. Acredito que o som cura todos os males.

Elizabeth de Souza

270123

Sobre Elizabeth Souza 408 Artigos
Elizabeth de Souza é coordenadora e editora do Portal Entrementes....

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