A Imagem Refletida
Hoje, ao despertar, olhei-me no espelho. Percebi uma certa melancolia. Não gostei da imagem refletida. Certamente, não posso culpar o espelho, um objeto refletindo meu estado interior. Não é o espelho, nem a imagem que devem mudar, mas o sentimento dentro de mim. Não é atitude sensata lutar contra o espelho ou tentar estilhaçá-lo em mil pedaços. O problema está em mim.
Às vezes as pessoas sentem-se melancólicas diante de um céu nublado e um ventinho frio a incomodá-las. Céu nublado e vento frio são fatos comuns na natureza. Fazem parte de seus ciclos e não há como mudá-los. A natureza não é alegre nem melancólica. Nós sim. Nosso estado de espírito pode nos induzir a afirmar que o dia “está triste” só porque o sol ainda não apareceu entre as nuvens. Nós, por alguma razão encontramo-nos tristes ou deprimidos.
Ao observar o mundo com objetividade veremos que as coisas são simplesmente como são. Nós é que projetamos aquilo que somos, pensamos ou sentimos.
O meio ambiente, por exemplo é, na realidade, um espelho, mediante o qual o ser humano vê exclusivamente a si mesmo, mesmo que não o admita. As guerras, a natureza degradada, a poluição, o excesso de lixo, as desigualdades sociais, revelam a pobreza de espírito expressa na ambição, no egoísmo, no individualismo e luta pelo poder. Essa insensibilidade encontra-se arraigada no íntimo das pessoas e manifesta-se como essas mazelas contemporâneas.
O autoconhecimento é um meio capaz de revelar nossa natureza essencial e de como ela se reflete no mundo. A observação do próprio ambiente e dos eventos com os quais nos confrontamos no cotidiano já é um bom caminho. Tudo aquilo que nos perturba no mundo exterior evidencia uma correspondência com o princípio análogo existente dentro de nós mesmos. O fato de alguém se incomodar com um suposto egoísmo alheio pode revelar sua própria natureza egoísta refletida no outro; caso contrário não o perturbaria. Porém, é-lhe difícil reconhecer isso. Quando admitir conscientemente seu egoísmo, talvez abandone o hábito de julgar a outrem.
Cada ser humano vive em “seu mundo”, e há tantos mundos quantas forem as pessoas. Esses mundos são fragmentos do mundo real. É bom observar o mundo real, exterior, com olhos perquiridores e perguntar-se qual é sua participação ou o que tem a ver com aquilo tudo. Talvez compreenda melhor a si mesmo e descubra caminhos e possibilidades de mudanças positivas em sua consciência.
Depois desta reflexão vou retornar ao espelho e observar a imagem refletida. Tomara esteja melhor.
Por Gilberto Silos
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